quinta-feira, 5 de julho de 2018

Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892). Adriana Mello Guimarães. «… conquistar leitores fiéis no outro lado do Atlântico, uma vez que naquela altura se encontravam distanciadas entre si as duas nações também pela emancipação política do Brasil?»

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Com a devida vénia à Doutora Adriana M. Guimarães.

[(Assumimos como premissa, referida ao conceito de modernização, que a Revista de Portugal foi criada não só como um espaço de recepção de ideias novas que na época circulavam nos grandes centros culturais da Europa, dentre as quais se destacava Paris, mas também como veículo de divulgação dessas ideias, uma vez que tanto em Portugal como no Brasil a elite intelectual, constituída essencialmente por letrados que frequentavam e admiravam a vida civilizada europeia, estava convencida de que o desenvolvimento mental e emocional em seus países, naquele momento, dependia da recepção, em Português, de ideias concebidas em língua estrangeira, e não apenas de causas imanentes à cultura nacional)].

Introdução
«É indiscutível a existência de uma relação literária luso-brasileira. Ela é frequentemente evocada em Portugal a propósito da vida e da obra de vários autores. Exemplo famoso e antigo é o do Padre António Vieira, pois, tendo nascido em Portugal, chegou a referir-se, em carta de 1673, ao Brasil, a quem pelo segundo nascimento devo as obrigações de pátria (Vieira, 1854, t. II, carta LXXIV, p. 103). Muito provavelmente, seu reconhecimento tem a ver com o facto de que a sua formação deu-se inteiramente nas instituições de ensino do Brasil, onde revelou-se o seu espírito criador; seus sermões, principalmente, tornaram-se a fonte de referência dos princípios e valores vigentes na vida literária tanto da metrópole portuguesa quanto da colónia brasileira. Mais recentemente, temos o exemplo do pensador português Agostinho da Silva. Ele formou-se em filologia e pedagogia na universidade do Porto, e depois aperfeiçoou-se na universidade de Paris; mas sempre reconheceu que só alcançou sua consciência do ser português a trabalhar e vivenciar intensamente a modernização do magistério superior no Brasil, sobretudo comparticipando na fundação de universidades, pois em sua dedicação à formação do homem moderno no Brasil, no período de 1947-1969, descobriu que pelo seu passado, e pelas aspirações de grandeza, o brasileiro é um português à solta (Silva, 1988, p. 36). Todavia, não obstante tais exemplos preciosos no âmbito religioso e pedagógico, para o nosso interesse actual o exemplo mais completo é o de Eça de Queirós, não só porque suas personagens ainda hoje habitam simultaneamente o imaginário do leitor português e do leitor brasileiro, como também, para além disso, foi ele quem melhor definiu o sentido da relação literária luso-brasileira segundo o seu conceito da língua portuguesa como natureza comum, indiferente à separação entre Estados independentes, ao entender que na língua verdadeiramente está a nacionalidade (e que) duas nações que põem a sua Ideia no mesmo Verbo formam para os supremos efeitos da civilização uma nação única (Queirós, 1995, p. 114).
Muitos estudos têm sido realizados sobre a relação de Eça de Queirós com o Brasil, como por exemplo O Brasil na vida de Eça de Queirós, de Heitor Lira (1965), Eça e o Brasil, de Arnaldo Faro (1977), Eça de Queiroz agitador no Brasil, de Paulo Cavalcanti ou Ecos do Brasil. Eça de Queirós. Leituras brasileiras e portuguesas, colectânea organizada por Benjamim Abdala Júnior (2000). O facto é que, para efeito de investigação, algumas questões podem ser suscitadas: existe uma relação especial de reciprocidade literária entre Portugal e o Brasil? Sendo a resposta afirmativa, em que medida a transmissão cultural inerente ao empreendimento colonial português, implementada desde o século XVI até à reforma pombalina do ensino público, no século XVIII, ainda hoje é válida para considerarmos o futuro da relação literária luso-brasileira segundo o princípio da reciprocidade? Como explicar, no caso de Eça de Queirós, para além do seu êxito universal como ficcionista-mor da língua portuguesa, que seus textos jornalísticos, ao tratarem de problemas da cultura nacional, chegassem a conquistar leitores fiéis no outro lado do Atlântico, uma vez que naquela altura se encontravam distanciadas entre si as duas nações também pela emancipação política do Brasil?» In Adriana Mello Guimarães, A Modernização, Problema Cultural Luso - Brasileiro, Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892), Tese de Doutoramento em Literatura, Évora, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Setembro de 2014.

Cortesia de UdeÉvora/IIFA/JDACT