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A
um Oceano de Distância
«(…)
De modo coincidente, o período e o espaço em que ocorreu o escândalo
do rapto e assassinato de Morgan
foi o ano de 1826, mesmo no meio do condado mais incendiário do Estado de Nova
Iorque, acalorado pelas sucessões entusiastas de revivalismos evangélicos que
assolaram a área naquela altura. A Franco-Maçonaria andava a ser atacada do
alto do púlpito e era somada à lista interminável de pecados mortais. O cheiro a
enxofre impregnava o ar. Por mais estranho que possa parecer, aquele também foi
o Estado em que nasceu o Mormonismo. Foi ali que Joseph Smith descobriu as
Placas Douradas de que fala o Livro de Mórmon: encontradas em 1827, no monte
de Cumorah Hill, na vizinhança da cidade de Manchester, a pouco mais de quinze quilómetros
de distância do sítio onde Morgan foi raptado. Aliás, grande parte dos primeiros
seguidores de Smith foi composta por franco-maçons descontentes com o Oficio.
Anos depois, em 1842, Smith e Brigham Young adoptariam a Franco-Maçonaria com entusiasmo,
interpretando os seus rituais como sendo resquícios de antigas iniciações bíblicas.
Quando Smith introduziu a prática da poligamia entre os crentes do seu culto,
uma das mulheres com quem ele se casou foi a viúva de Morgan.
Rufiões do Púlpito
A conexão turbulenta entre ansiedade
antimaçónica e fervor evangélico ainda persiste nos Estados Unidos. Hoje, os
pastores cristãos são líderes proeminentes do antimaçonismo, tal como os seus antepassados
o foram nos tempos que serviram de palco ao incidente com Morgan. No seio da vicejante
subcultura fundamentalista norte-americana, os livros de conteúdo antimaçónico são
grandes sucessos nas livrarias de índole cristã; e muitos pastores evangélicos
pregam propaganda antimaçónica, dando a ouvir histórias sobre abusos maçónicos e
satânicos, como se combater essas heresias fosse o dever de cada paroquiano.
O evangelista norte-americano Pat
Robertson, conhecido pelos seus programas televisivos religiosos, publicou, em 1991,
um livro intitulado A Nova Ordem Mundial, no qual acusa a
Franco-Maçonaria norte-americana de ser uma parte fundamental das forças que conspiram
para instaurar o Governo Mundial Único (de matriz anticristã e cujas sementes foram
plantadas durante a Revolução Americana). Robertson pergunta:
Será possível que meia dúzia de
eleitos tenham um plano, revelado no Grande Selo adoptado como insígnia na fundação
dos Estados Unidos, para criar não só o país que os pais fundadores e os campeões
da nossa liberdade envisionaram, mas também um mundo radicalmente diferente, sob
os desígnios de uma religião misteriosa e inventada para substituir as velhas
ordens cristãs da Europa e da América?
Robertson refere-se, neste
excerto, à ideia instituída de que o Grande Selo dos Estados Unidos, que se pode
encontrar no verso de uma vulgar nota de um dólar, é, com efeito, um emblema
maçónico. Este assunto é matéria de muitas análises, mas as desconfianças de Robertson
sobre o significado do símbolo denunciam uma mentalidade que está longe de se reconciliar
com os tempos modernos. Não há dúvida de que a Franco-Maçonaria contemporânea é
um produto do Iluminismo britânico. As lojas do século XVIII reuniram-se nos pisos
superiores de bares, lugares abertos, mas privados, que possibilitavam encontros
em que indivíduos pertencentes a diferentes classes pudessem falar de igual
para igual e manter discussões filosóficas (não-sectárias) regadas com boa cerveja.
Fosse de propósito ou, simplesmente, porque andavam no ar, várias ideias maçónicas
sobre os valores do individualismo, fraternidade e igualdade produziram impacto
nas esferas políticas.
Indubitavelmente,
esta nova era de ciência, razão e valores universais ameaçou os alicerces do poder
instituído, mantido pela Igreja e pela Coroa. Um efeito colateral da emergência
do novo paradigma foi o desenvolvimento da hostilidade dirigida contra a Franco-Maçonaria
pelos representantes dos vários regimes conservadores. Tudo começou em 1738, o
ano em que o Vaticano condenou a Franco-Maçonaria por considerá-la uma
organização com aspirações de controlo político e religioso. A Maçonaria representava
um milieu social que não respondia perante a igreja católica e a questão
do seu secretismo entrava em conflito com a primazia da prática da confissão. Hoje
muitos norte-americanos que têm ligações de destaque com a facção mais à direita
do espectro religioso, como o referido Pat Robertson, apresentam argumentos
similares a estes. (Por ironia, também Estaline os usou, para fortalecer a doutrina
do controlo do Estado e não era um político de direita)». In O Mito Maçónico, Jay Kinney,
2009, tradução de David Soares, Saída de Emergência, 2010, ISBN
978-989-637-176-0.
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de SEmergência/JDACT