sábado, 12 de janeiro de 2019

O Mito Maçónico. Jay Kinney. «Fosse de propósito ou, simplesmente, porque andavam no ar, várias ideias maçónicas sobre os valores do individualismo, fraternidade e igualdade produziram impacto nas esferas políticas»

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A um Oceano de Distância
«(…) De modo coincidente, o período e o espaço em que ocorreu o escândalo
do rapto e assassinato de Morgan foi o ano de 1826, mesmo no meio do condado mais incendiário do Estado de Nova Iorque, acalorado pelas sucessões entusiastas de revivalismos evangélicos que assolaram a área naquela altura. A Franco-Maçonaria andava a ser atacada do alto do púlpito e era somada à lista interminável de pecados mortais. O cheiro a enxofre impregnava o ar. Por mais estranho que possa parecer, aquele também foi o Estado em que nasceu o Mormonismo. Foi ali que Joseph Smith descobriu as Placas Douradas de que fala o Livro de Mórmon: encontradas em 1827, no monte de Cumorah Hill, na vizinhança da cidade de Manchester, a pouco mais de quinze quilómetros de distância do sítio onde Morgan foi raptado. Aliás, grande parte dos primeiros seguidores de Smith foi composta por franco-maçons descontentes com o Oficio. Anos depois, em 1842, Smith e Brigham Young adoptariam a Franco-Maçonaria com entusiasmo, interpretando os seus rituais como sendo resquícios de antigas iniciações bíblicas. Quando Smith introduziu a prática da poligamia entre os crentes do seu culto, uma das mulheres com quem ele se casou foi a viúva de Morgan.

Rufiões do Púlpito
A conexão turbulenta entre ansiedade antimaçónica e fervor evangélico ainda persiste nos Estados Unidos. Hoje, os pastores cristãos são líderes proeminentes do antimaçonismo, tal como os seus antepassados o foram nos tempos que serviram de palco ao incidente com Morgan. No seio da vicejante subcultura fundamentalista norte-americana, os livros de conteúdo antimaçónico são grandes sucessos nas livrarias de índole cristã; e muitos pastores evangélicos pregam propaganda antimaçónica, dando a ouvir histórias sobre abusos maçónicos e satânicos, como se combater essas heresias fosse o dever de cada paroquiano.
O evangelista norte-americano Pat Robertson, conhecido pelos seus programas televisivos religiosos, publicou, em 1991, um livro intitulado A Nova Ordem Mundial, no qual acusa a Franco-Maçonaria norte-americana de ser uma parte fundamental das forças que conspiram para instaurar o Governo Mundial Único (de matriz anticristã e cujas sementes foram plantadas durante a Revolução Americana). Robertson pergunta:

Será possível que meia dúzia de eleitos tenham um plano, revelado no Grande Selo adoptado como insígnia na fundação dos Estados Unidos, para criar não só o país que os pais fundadores e os campeões da nossa liberdade envisionaram, mas também um mundo radicalmente diferente, sob os desígnios de uma religião misteriosa e inventada para substituir as velhas ordens cristãs da Europa e da América?

Robertson refere-se, neste excerto, à ideia instituída de que o Grande Selo dos Estados Unidos, que se pode encontrar no verso de uma vulgar nota de um dólar, é, com efeito, um emblema maçónico. Este assunto é matéria de muitas análises, mas as desconfianças de Robertson sobre o significado do símbolo denunciam uma mentalidade que está longe de se reconciliar com os tempos modernos. Não há dúvida de que a Franco-Maçonaria contemporânea é um produto do Iluminismo britânico. As lojas do século XVIII reuniram-se nos pisos superiores de bares, lugares abertos, mas privados, que possibilitavam encontros em que indivíduos pertencentes a diferentes classes pudessem falar de igual para igual e manter discussões filosóficas (não-sectárias) regadas com boa cerveja. Fosse de propósito ou, simplesmente, porque andavam no ar, várias ideias maçónicas sobre os valores do individualismo, fraternidade e igualdade produziram impacto nas esferas políticas.
Indubitavelmente, esta nova era de ciência, razão e valores universais ameaçou os alicerces do poder instituído, mantido pela Igreja e pela Coroa. Um efeito colateral da emergência do novo paradigma foi o desenvolvimento da hostilidade dirigida contra a Franco-Maçonaria pelos representantes dos vários regimes conservadores. Tudo começou em 1738, o ano em que o Vaticano condenou a Franco-Maçonaria por considerá-la uma organização com aspirações de controlo político e religioso. A Maçonaria representava um milieu social que não respondia perante a igreja católica e a questão do seu secretismo entrava em conflito com a primazia da prática da confissão. Hoje muitos norte-americanos que têm ligações de destaque com a facção mais à direita do espectro religioso, como o referido Pat Robertson, apresentam argumentos similares a estes. (Por ironia, também Estaline os usou, para fortalecer a doutrina do controlo do Estado e não era um político de direita)». In O Mito Maçónico, Jay Kinney, 2009, tradução de David Soares, Saída de Emergência, 2010, ISBN 978-989-637-176-0.

Cortesia de SEmergência/JDACT