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de wikipedia e jdact
O
Príncipe Estrangeiro
«Tempos
atrás, no reino desértico de Miraji, havia um
príncipe que desejava assumir o trono do pai. O jovem era movido pela crença de
que o pai era um governante fraco e de que ele mesmo desempenharia melhor o
papel de sultão. Não demorou e o jovem tomou o trono à força. Numa noite
sanguinária, o seu pai e os seus irmãos caíram diante da sua espada e do
exército estrangeiro que liderava. Quando amanheceu, ele não era mais príncipe.
Havia-se tornado sultão. O jovem governante ficou conhecido por tomar esposas
do mesmo modo que havia tomado
o país: à força.
No primeiro ano de reinado, duas dessas esposas deram à luz sob as
mesmas estrelas. Uma esposa havia nascido nas areias. O seu filho pertencia ao
deserto. A outra esposa havia nascido do outro lado das águas, num reino
chamado Xicha, e fora criada no convés de um navio. O seu filho não pertencia a
lugar nenhum. Apesar disso, os garotos cresceram como irmãos, protegidos pelas
mães de tudo o que os muros do palácio não eram capazes de conter. E, por um tempo, tudo
correu bem no harém.
Então a primeira esposa deu à luz novamente, mas dessa vez
a criança não era do sultão. Era de um djinni, com cabelo atípico e fogo
sobrenatural no sangue. Por ter traído o sultão, a esposa foi alvo de sua ira,
morrendo sob a força de seus golpes. Em meio à fúria, o governante nem prestou
atenção na segunda esposa, que fugiu com os dois garotos e a filha do djinni,
atravessando o mar até ao reino de Xicha, de onde havia sido roubada. Lá, o seu
filho, o príncipe estrangeiro, podia fingir que pertencia a algum lugar. Mas o
príncipe do deserto não podia fingir: ele era estranho àquela terra, assim como
o seu irmão o fora na terra do sultão. Nenhum dos príncipes estava destinado a
permanecer ali por muito tempo, no entanto. Logo os dois partiram de Xicha, em
direcção ao mar aberto.
Por um tempo, em navios indo para qualquer lugar e vindos
de lugar nenhum, as coisas correram bem para os irmãos. Eles navegavam à deriva
entre uma costa estrangeira e outra, sem se fixar em parte alguma. Até que um
dia avistaram Miraji da proa do navio. O príncipe do deserto lembrou-se do
lugar a que realmente pertencia. Naquela enseada familiar, deixou o navio.
Antes disso, no entanto, pediu que o irmão o acompanhasse, mas o príncipe
estrangeiro recusou-se. As terras do seu pai pareciam-lhe vazias e estéreis, e
ele não entendia a atracção que exerciam no seu irmão. Então os seus caminhos
se separaram. O príncipe estrangeiro permaneceu no mar por um tempo, numa fúria
silenciosa pelo seu irmão ter preferido o deserto às águas.
Enfim, chegou o dia em que o príncipe estrangeiro não
aguentava mais ficar separado do irmão. Quando voltou ao deserto de Miraji,
descobriu que o príncipe do deserto tinha começado uma rebelião. Ele falava de
feitos e ideias grandiosos, igualdade e prosperidade. Estava cercado de novos
irmãos que amavam o deserto assim como ele. Agora era conhecido como príncipe
rebelde. Mesmo assim, recebeu-o de braços abertos. E por um tempo tudo correu
bem.
Até que surgiu uma garota, conhecida como a Bandida de
Olhos Azuis. Criada nas areias e lapidada pelo deserto, ela ardia em chamas.
Pela primeira vez, o príncipe estrangeiro entendeu o que o seu irmão amava
naquele deserto. O príncipe estrangeiro e a Bandida de Olhos Azuis atravessaram
as areias juntos, em direcção a uma grande batalha na cidade de Fahali, onde aliados
do sultão se haviam estabelecido. Os rebeldes tiveram ali a sua primeira grande
vitória. Defenderam o deserto contra o sultão, que os teria queimados vivos.
Libertaram o demdji que, contra sua vontade, seria transformado em arma pelo
sultão. Mataram o filho do sultão que teria derramado sangue até conquistar a
aprovação do seu pai. Romperam a aliança do governante com os estrangeiros que
vinham maltratando o deserto havia décadas. E reivindicaram parte da terra para
si. A história da batalha de Fahali se espalhou rapidamente e, com ela, a notícia de que o deserto estava
aberto a novas conquistas. Miraji era o único lugar onde a magia antiga e as
máquinas coexistiam; o único país com uma indústria rápida o suficiente para
produzir armas para a grande guerra travada entre as nações do norte.
Olhos vorazes se voltaram para lá. Rapidamente, outros exércitos
chegaram ao deserto, vindos de
todos os lados, tentando forjar novas alianças ou conquistar o país. Enquanto os inimigos de fora investiam contra as fronteiras do
sultão e mantinham o seu Exército ocupado, os rebeldes apoderavam-se de
cidade após cidade, tirando-as das mãos do sultão e ganhando apoio popular. E
por um tempo as coisas correram bem para a rebelião, para a Bandida de Olhos Azuis
e para o príncipe estrangeiro. Até que a balança começou a pender contra o seu
irmão. Duas dúzias de rebeldes caíram numa armadilha, cercados por um exército
mais numeroso e bem armado». In Alwyn Hamilton, A Traidora do Trono, A
Rebelde do Deserto 2, 2016/2017, Editora Seguinte, Companhia das Letras, ISBN 978-855-534-029-1.
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