Cortesia
de wikipedia, dona helena almeida e jdact
Com
a devida vénia à doutora Ana Patrícia Silva Carriço
Conceitos sobre a Água e Aspectos
Históricos
Água
«(…) A influência da
religião durante a Idade Média conduziu a um declínio no uso da água como forma
de curar. Esta atitude persistiu até ao século XV, quando ressurgiu o interesse
pelo uso da água como meio curativo. Durante esta época, as ervas não produziam
as curas desejadas e a sociedade voltou-se novamente para as propriedades
terapêuticas da água, recuperando o seu uso. A utilização da água
transformou-se assim numa prática esporádica e anual, que ocorria num simples
recipiente de água ou com recurso a panos húmidos para as limpezas diárias. Assim,
a água na Idade Média e nos períodos mais próximos que se seguiram foi sempre
um bem pouco explorado. Poucas cidades do século XVI, possuíam sistemas de
abastecimento de água, existindo pouco mais do que fontanários públicos. As
primeiras tentativas para entubar a água foram realizadas no século XVII. Nas
povoações mais pequenas, os habitantes bebiam águas dos poços, mal protegidos
de infiltrações, o que fazia com que as doenças intestinais fossem muito
comuns, verificando-se este caso nas pessoas que saíam das cidades ou que
chegavam depois de longas viagens. Nos séculos XVII e XVIII os banhos, como
propostas higiénicas, não eram aceites como práticas, mas o uso da água como
forma terapêutica começou a ressurgir gradualmente. A disciplina médica começa
a referir a hidroterapia definida por Wyman e Glazer (1944) como a aplicação
externa da água para tratamento de qualquer forma de doença. Também em
Inglaterra, França, Alemanha e Itália se promovem aplicações internas
(ingestão) e externas (compressas quentes e frias e banhos) e o tratamento de
várias doenças (Martin, 1981). Em 1697, John Floyer (in Mosqueira et al.,
2009) com a publicação do tratado An
Inquiry into the Right Use and Abuse of Hot, Cold and Temperature Bath
muito influenciou Frederich Hoffman e Curie, nos seus ensinamentos e
experiências. Também John Wesley (Yrigoyen, 1996) publicou em 1747 o livro An Easy and Natural way of Curing Most
Disease que relata como o uso da água é uma forma de cura. No
renascimento, o uso da água e as práticas termais foram amplamente divulgadas,
e o recurso à hidroterapia cresceu.
Com um
maior conhecimento e difusão cada vez maior, ninguém ficou indiferente aos poderes
e qualidades da água. Neste ponto da história, o uso desta substância,
prosseguiu com técnicas que incluíam lençóis, compressas, fricção, banhos, etc.
Em 1830,o salesiano, Vicent Priessnitz desenvolveu programas que usavam
primariamente banhos ao ar livre, tendo publicado em 1842 o livro The Cold Water Cure, its principals, theory,
and practice em que dava indicações para a autoaplicação dos
tratamentos bem como relatava a evolução desses mesmos tratamentos em inúmeros
pacientes. Durante esta época também Sebastian Kniepp (1821-1897), um padre
bávaro, modificou as técnicas anteriores de tratamento alternado a temperatura
da água (que consistiam em banhos frios, e banhos de chuveiro, mas que devido a
não ser reconhecido pela comunidade cientifica foi desacreditado; alternando as
aplicações frias com mornas e banhos quentes parciais, também fazia tratamentos
com chuveiros a diferentes temperaturas com finalidades curativas, tornando-se
a Kniepp Cure popular na Alemanha, norte de Itália, Holanda, França sendo
utilizada até hoje).
Também
Winterwita (1834-1912) professor austríaco e fundador da Escola de Hidroterapia
e Centro de Pesquisa de Viena, bem como o dr. Simon Baruch usaram e estudaram
os métodos do uso da água como tratamento de várias doenças, como a gripe,
insolações, tuberculose, reumatismo crónico, gota, etc, publicando diversos
livros.
No entanto
a época de grande esplendor da utilização da água, nomeadamente em tratamentos,
foi o século XX, quando factores sociais e científicos deram um passo
gigantesco para o seu reconhecimento. Foram tempos de desenvolvimento
científico, médico, geológico ou químico entre outros, que contribuíram para o
desenvolvimento da aplicação da água. Algumas universidades como na Áustria,
como a Universidade de Viena, ajudaram a compreender e a melhorar as técnicas,
o funcionamento do corpo humano, contribuindo assim para um melhor diagnóstico.
As duas guerras mundiais, especialmente a Segunda, salientaram a necessidade do
uso da água para os exercícios e a manutenção do condicionamento dos soldados.
Agiram como precursoras para o ressurgimento actual do uso da água em piscina e
a utilização da imersão total como uma forma de reabilitação para uma ampla
faixa de doenças.
No século
XX a água termal é sujeita a experimentações científicas e observações
clínicas. O saber científico aperfeiçoa-se. A hidroterapia e a medicina avançam
e em finais do século XX o ritmo de vida acelerado faz com que se veja que é
necessária uma pausa. Assim, a hidroterapia ressurge em forma de balneários,
novas instalações sobre construções antigas que proporcionam tranquilidade,
repouso e tratamentos variados que permitem uma boa qualidade de vida e
bem-estar. Das fases empíricas e observação clínica passou-se à fase de
investigação e experimentação até à fase actual em que se junta a vertente
preventiva, a curativa, e a de lazer». In Ana Patrícia Carriço, Metamorfoses do
Espaço Termal, O Caso das Termas de S. Pedro do Sul, Tese para obtenção do Grau
de Doutor em Arquitectura, Universidade
da Beira Interior, Faculdade de Engenharia, Covilhã, 2013.
Cortesia
de UBeiraInterior/JDACT