Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia ao Doutor Douglas Xavier Lima
«Nada a temer
Senão o correr da
luta
Nada a fazer
Senão esquecer o medo
Abrir o peito à força
Numa procura
Fugir às armadilhas
da mata escura
Longe se vai sonhando
demais
Mas onde se chega
assim
Vou descobrir o que
me faz sentir
Eu, caçador de mim». In
Milton Nascimento
«A
pesquisa investiga diferentes aspectos da prática diplomática quatrocentista,
estruturando-se em três eixos: as instituições que assessoravam o monarca nos
assuntos diplomáticos; os homens escolhidos como embaixadores; e as práticas
diplomáticas, entendidas como os mecanismos de negociação e as cerimónias da
diplomacia. Buscou-se, desta maneira, compreender o funcionamento da
diplomacia numa época considerada como passagem da diplomacia medieval para a
diplomacia moderna, notando ainda o seu papel como campo de exercício e
afirmação do poder régio português. O recorte temporal concentra-se no reinado
de Afonso V, tendo como ponto de partida
o fim da regência (1448) e, como limite, a morte do monarca (1481). Fez-se uso
de diferentes documentações, como crónicas, narrativas de viagens, tratados,
genealogias e fontes normativas. Esse variado corpus documental permitiu
alcançar diferentes aspectos da diplomacia medieval quatrocentista, notando a
importância institucional na condução dos assuntos externos, o crescente
impacto da diplomacia para as finanças do reino, a definição de um perfil de
embaixador letrado associado ao espaço cortesão, o uso de diferentes mecanismos
de negociação, e a promoção da imagem externa do reino através das cerimónias
diplomáticas». In Resumo
«A morte do infante Pedro na batalha de Alfarrobeira
representou um abalo para as alianças externas de Portugal, visto que tais
relações estavam estruturadas em torno de vínculos pessoais e laços de
parentescos. Estes, envolviam a figura do Infante e foram construídos com a
contribuição da viagem do duque de Coimbra pela Cristandade entre 1425 e 1428.
Com essa conclusão terminamos a dissertação O infante D. Pedro e as Alianças Externas de Portugal (1425-1449)
(2012), investigação que permitiu perceber as relações diplomáticas
quatrocentistas como uma prática multifacetada, não apenas restrita a guerras,
a assinaturas de tratados e ao envio protocolar de embaixadas. Pelo contrário,
o estudo da viagem do infante Pedro abriu-nos, por exemplo, a perspectiva de
observar que os Estados não eram os únicos actores no plano das relações
externas, que os embaixadores não tinham um ofício definido, e que elementos
como parentesco, amizade, oralidade, gestualidade, eram aspectos centrais de
pesquisa. Paralelamente, algumas leituras foram fundamentais para a construção
da nova investigação. Em primeiro lugar, o livro de Stéphane Péquignot, Au nom du Roi. Pratique diplomatique et pouvoir
durant le règne de Jacques II d’Aragon (1291-1327) (2009),
obra que se tornou paradigmática da nova história da diplomacia medieval. O
texto tem como uma das principais contribuições abordar a diplomacia como prática. Nessa via, o autor analisa
os documentos da diplomacia real, a circulação de informações, a relação entre
a diplomacia e as finanças reais, a escolha e a definição dos embaixadores de
Jaime II de Aragão, entre outros aspectos ainda pouco explorados no âmbito
geral dos estudos medievais. Outrossim, o contacto com Faire la Paix au Moyen Âge. Discours et
gestes de paix pendant la guerre de Cente Ans (2007), de Nicolas
Offenstadt, foi igualmente instigador. Ao analisar o tradicional tema da Guerra
dos Cem Anos, o autor trouxe para o primeiro plano discussões sobre os gestos,
os sentimentos, os valores, os discursos e as cerimónias, elementos que, por
vezes, passam despercebidos nos estudos sobre a diplomacia na Idade Média.
Acrescenta-se que as obras de Péquignot e de Offenstadt resultaram de teses de
doutorado, dado que também suscitou o interesse de conseguir desenvolver uma
pesquisa levando em consideração o mesmo universo de interrogações. Por fim,
citamos ainda a relação com as publicações ligadas aos projectos Genèse de l’État moderne (1984-1988)
e Origins of the modern State
(1989-1992), em especial as obras État
et Église dans la genèse de l’État moderne (1986), L’État moderne: genèse. Bilans et
perspectives (1990) e Las élites del poder y la construcción del Estado (1997).
Esse conjunto de reflexões, além de promover uma releitura acerca das
estruturas políticas entre o medievo e o período moderno, empreendeu
importantes discussões sobre a história social do Estado na Baixa Idade Média e
sobre o papel das assembleias representativas e da fiscalidade para o processo
de formação do Estado no Ocidente. Tendo o tema da diplomacia sido abordado
apenas no volume War and
Competition between States (2000), tais discussões levantaram
o interesse em aprofundar a reflexão sobre a relação entre a diplomacia e a génese
do Estado moderno.
[…]
Novos
Olhares sobre a Diplomacia Medieval. Uma Nova História da Diplomacia Medieval
«Diplomacia,
Relações Internacionais, Política Externa..., termos que ao longo do século
passado o medievalista acostumou-se a evitar como temas de pesquisa. Contudo,
houve tempos em que estas questões orientavam a maior parte dos historiadores,
fossem eles dedicados aos séculos ditos medievais ou não. Que caminhos levaram
a essa mudança de quadro historiográfico? A fim de melhor compreender o
movimento de renovação e retomada de tais temas pelos medievalistas, convém,
primeiramente, tratar da relação entre História e Relações Internacionais.
A diplomacia, entendida como método de negociação de
interesses divergentes, uma arte da negociação, é muito antiga e tem como um
dos primeiros vestígios um documento diplomático que data de c.2500 a.C.. Nele
consta uma mensagem enviada do reino de Ebla para o reino de Hamazi, localizado
ao norte do actual Irão. A actividade diplomática no Egipto faraónico, a
narrativa de Tucídides acerca da Guerra do Peloponeso, ou mesmo as relações
externas desenvolvidas pelas poleis
gregas e pelo Império Romano são ainda exemplos de que a antiguidade
conheceu práticas ou mesmo um sistema diplomático. A própria palavra diplomacia é uma derivação do
termo diploma, cujo
significado é dobrar. No Império Romano, os documentos oficiais eram timbrados,
dobrados e costurados, sendo nomeados diplomas,
e o termo, ao longo do tempo, foi ampliado a outros documentos de Estado. Além
disso, os ofícios ligados à conservação e organização dos diplomas ficaram
conhecidos, de forma genérica, como res
diplomatica. Esses elementos indicam as origens antigas e medievais
da prática e da palavra que ganhariam os seus contornos modernos através de
Edmund Burke, em 1796. Como argumentam Guilherme Silva e Williams Gonçalves,
ainda que haja variações acerca dos grandes períodos da diplomacia, é possível
a distinção de quatro momentos pelos estudiosos: da Antiguidade ao século XV;
do século XV ao Congresso de Viena (1815); do Congresso de Viena à Conferência
de Versalhes (1919); e da Conferência de Versalhes aos dias actuais. Destarte,
a inserção cronológica da pesquisa se dá no primeiro período da história da
diplomacia, o qual se distingue dos demais, pela inexistência das embaixadas
permanentes e da dimensão jurídica das relações internacionais, expressa a
partir de Westfália (1648), além de não ter a soberania como atributo exclusivo
do Estado». In Douglas M. Xavier Lima, A Diplomacia Portuguesa no Reinado de D.
Afonso V (1448-1481), Tese de Doutoramento História Medieval, Universidade
Federal Fluminense, Departamento de História, Niterói, 2016.
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