domingo, 15 de março de 2020

Um Milhão de Prazeres Proibidos. CL Parker. «Tinha os pés em cima da secretária e estava muito recostado na cadeira enquanto os seus dedos regiam uma orquestra invisível, como se não tivesse uma única preocupação no mundo»

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Os sacrifícios que fazemos
Lanie
«(…) Voltei-me para a porta, obrigando-me a entrar antes de perder a coragem e recuar. Pensei na minha mãe e percebi que não podia voltar atrás. Por isso, abri a porta e entrei naquele escritório para finalizar os termos do meu contrato. O escritório de Scott era do tipo que eu esperaria num padrinho da máfia. Uma carpete fofa forrava o chão, no tecto havia um lindo lustre, vitrinas iluminadas expunham diversas coisas que presumi que custavam uma fortuna e quadros enchiam as paredes. Música clássica saía de colunas invisíveis numa tentativa de me induzir uma falsa sensação de segurança. A música e a decoração elegante transmitiam a ilusão de um estabelecimento fino, o que podia fazer a clientela sentir-se mais à vontade, mas eu não tive ilusões. Podia vestir-se um porco de fato e gravata, mas não era por isso que deixava de ser um porco.
Scott estava sentado à secretária com um cigarro numa mão e um copo baixo de uísque na outra. Tinha os pés em cima da secretária e estava muito recostado na cadeira enquanto os seus dedos regiam uma orquestra invisível, como se não tivesse uma única preocupação no mundo. Ele virou-se para me olhar e sorriu antes de se sentar direito e apagar o cigarro num cinzeiro de mármore. Ah, sra. Talbot. Não sabia se nos honraria com a sua presença esta noite. Eu endireitei os ombros, estiquei o queixo e olhei-o nos olhos. Este negócio era meu e, até o dinheiro trocar de mãos, quem controlava era eu. Não estava disposta a deixar Scott Christopher pensar que era mais do que um simples intermediário. Eu disse que viria e aqui estou. Ele levantou-se e dirigiu-se para mim, sem sequer tentar esconder o facto de que estava a observar-me da cabeça aos pés.
Isso é muito bom. Se não tivesses aparecido, talvez eu fosse obrigado a mandar uma equipa à tua procura. Tu vais fazer-me ganhar muito dinheiro esta noite. Podemos confirmar os termos do meu contrato, por favor?, perguntei com um suspiro. Não confiava nele e tinha bons motivos para isso. Ele vendia seres humanos para ganhar dinheiro e não sentia quaisquer remorsos. Como é que eu podia confiar numa pessoa que ganhava a vida desta forma? Se tivesse tido outra alternativa, certamente não estaria ali naquele momento. Certo, disse ele, voltando para a secretária e abrindo um dossier com o meu nome escrito com tinta preta na capa. Posso garantir-te pessoalmente que a clientela desta noite não terá qualquer problema com discrição. Na verdade, é um pré-requisito para todas as pessoas que visitam o meu estabelecimento. Eles são os grandes ricaços, a elite máxima de cavalheiros..., um verdadeiro grupo pragmático com tanto dinheiro que nem sabem o que fazer com ele. Os motivos para estarem interessados neste tipo de mercadoria que eu negoceio só a eles dizem respeito, e desde que eles paguem eu não quero saber.
O único alívio que eu senti ao concordar com isto, para além de estar a salvar a vida da minha mãe, foi saber que alguém com bastante dinheiro garantiria o pagamento necessário para a cirurgia de que ela necessitava e manteria a boca calada. Ninguém com tanto dinheiro queria que o mundo soubesse que se tinha envolvido num esquema daquele tipo. E é evidente que eu não queria que os meus pais descobrissem. Eles morreriam de desgosto se soubessem, o que anularia completamente o que eu estava a
tentar fazer por eles». In CL Parker, Um Milhão de Prazeres Proibidos, Editora Lua de Papel, 2014, ISBN 978-989-232-806-5.

Cortesia de Elua de Papel/JDACT