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Os
sacrifícios que fazemos
Lanie
«(…) Voltei-me para a porta,
obrigando-me a entrar antes de perder a coragem e recuar. Pensei na minha mãe e
percebi que não podia voltar atrás. Por isso, abri a porta e entrei naquele
escritório para finalizar os termos do meu contrato. O escritório de Scott era
do tipo que eu esperaria num padrinho da máfia. Uma carpete fofa forrava o
chão, no tecto havia um lindo lustre, vitrinas iluminadas expunham diversas coisas
que presumi que custavam uma fortuna e quadros enchiam as paredes. Música clássica
saía de colunas invisíveis numa tentativa de me induzir uma falsa sensação de segurança.
A música e a decoração elegante transmitiam a ilusão de um estabelecimento fino,
o que podia fazer a clientela sentir-se mais à vontade, mas eu não tive ilusões.
Podia vestir-se um porco de fato e gravata, mas não era por isso que deixava de
ser um porco.
Scott estava sentado à secretária
com um cigarro numa mão e um copo baixo de uísque na outra. Tinha os pés em
cima da secretária e estava muito recostado na cadeira enquanto os seus dedos
regiam uma orquestra invisível, como se não tivesse uma única preocupação no
mundo. Ele virou-se para me olhar e sorriu antes de se sentar direito e apagar
o cigarro num cinzeiro de mármore. Ah, sra. Talbot. Não sabia se nos honraria
com a sua presença esta noite. Eu endireitei os ombros, estiquei o queixo e
olhei-o nos olhos. Este negócio era meu e, até o dinheiro trocar de mãos, quem
controlava era eu. Não estava disposta a deixar Scott Christopher pensar que
era mais do que um simples intermediário. Eu disse que viria e aqui estou. Ele
levantou-se e dirigiu-se para mim, sem sequer tentar esconder o facto de que estava
a observar-me da cabeça aos pés.
Isso é muito bom. Se não tivesses
aparecido, talvez eu fosse obrigado a mandar uma equipa à tua procura. Tu vais
fazer-me ganhar muito dinheiro esta noite. Podemos confirmar os termos do meu
contrato, por favor?, perguntei com um suspiro. Não confiava nele e tinha bons
motivos para isso. Ele vendia seres humanos para ganhar dinheiro e não sentia
quaisquer remorsos. Como é que eu podia confiar numa pessoa que ganhava a vida
desta forma? Se tivesse tido outra alternativa, certamente não estaria ali
naquele momento. Certo, disse ele, voltando para a secretária e abrindo um
dossier com o meu nome escrito com tinta preta na capa. Posso garantir-te
pessoalmente que a clientela desta noite não terá qualquer problema com
discrição. Na verdade, é um pré-requisito para todas as pessoas que visitam o
meu estabelecimento. Eles são os grandes ricaços, a elite máxima de
cavalheiros..., um verdadeiro grupo pragmático com tanto dinheiro que nem sabem
o que fazer com ele. Os motivos para estarem interessados neste tipo de mercadoria
que eu negoceio só a eles dizem respeito, e desde que eles paguem eu não quero
saber.
O único alívio que eu senti ao
concordar com isto, para além de estar a salvar a vida da minha mãe, foi saber
que alguém com bastante dinheiro garantiria o pagamento necessário para a
cirurgia de que ela necessitava e manteria a boca calada. Ninguém com tanto
dinheiro queria que o mundo soubesse que se tinha envolvido num esquema daquele
tipo. E é evidente que eu não queria que os meus pais descobrissem. Eles morreriam
de desgosto se soubessem, o que anularia completamente o que eu estava a
tentar
fazer por eles». In CL Parker, Um Milhão de Prazeres Proibidos, Editora Lua de Papel,
2014, ISBN 978-989-232-806-5.
Cortesia
de Elua de Papel/JDACT