segunda-feira, 16 de março de 2020

Episódios da Monarquia Portuguesa. João Paulo Oliveira Costa. «… com a conquista de Faro encerrou-se o ciclo da guerra contra o mouro; o próprio Afonso III, aureolado com a vitória tão importante, abriria de imediato um outro ciclo…»

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1249, Março. A Conquista de Faro
«(…) O infante Afonso desembarcou em Lisboa, em Dezembro desse ano, assumindo-se como curador do reino, e foi circunscrevendo a resistência do irmão até que este se retirou para Castela no final do inverno de 1247. Depois, a notícia da morte de Sancho II em Toledo, a 30 de Janeiro de 1248, tornou incontestada a realeza de Afonso III, mas o novo monarca necessitava de acrescentar ao Direito o prestígio que só as armas conferiam aos bellatores. O seu primeiro acto foi, por isso, completar a ocupação do Algarve, e um ano depois dominou Porches, Albufeira, Silves e, finalmente, entrou em Faro.
Em 1249 completava-se assim a configuração do Portugal peninsular, forma ainda insuficiente para o país, mas a dimensão possível no contexto hispânico, que nos anos seguintes continuaria à mercê dos apetites hegemónicos de Castela, engrandecida, como se viu, pela absorção do reino de Leão, em 1230. De facto, o controlo da região continuaria a ser disputado por Castela nas décadas seguintes e o rei português não se intitulou de imediato rei do Algarve.
Ainda assim, com a conquista de Faro encerrou-se o ciclo da guerra contra o mouro; o próprio Afonso III, aureolado com a vitória tão importante, abriria de imediato um outro ciclo dedicado à organização do país e à adequação das instituições, das comunidades e das actividades económicas ao território estabilizado e à nova conjuntura peninsular e euro-mediterrânica.

1253, Maio, 20. O Rei Bígamo
Afonso III iniciou a sua carreira política em França, em data incerta, sendo referido pela documentação gaulesa a partir de 1234. Aí casou, em Maio de 1239, com Matilde, condessa de Boulogne, viúva de Filipe Hurepel; Afonso teria entre 22 e 27 anos, e a esposa seria uns vinte anos mais velha. Talvez tivesse beleza suficiente para agradar ao infante de Portugal feito conde e assegurou-lhe poder e riqueza, mas não estava em condições de lhe dar herdeiro. Pouco se sabe da relação entre ambos, mas Afonso manteve sempre o título condal que recebeu pelo casamento, enquanto Matilde foi viva.
Quando Afonso partiu para Portugal não levou a esposa consigo. Não sabemos como decorria então a convivialidade do casal, mas o candidato ao trono entenderia por certo que se vencesse teria de gerar herdeiro para a coroa, e a condessa já não tinha corpo para o feito. Assim, Afonso abandonou Matilde e depois de tomar o trono nunca se lhe referiu como rainha de Portugal». In João Paulo Oliveira Costa, Episódios da Monarquia Portuguesa, Círculo de Leitores, Temas e Debates, 2013, ISBN 978-989-644-248-4.

Cortesia de CL/TDebates/JDACT