quarta-feira, 18 de março de 2020

A Verdadeira História. Margaret George. «O preço, porém, era absurdo. Maria não poderia permitir-se pagar tão caro. Veja só!, disse Quezia, erguendo um cálice. Não dá para imaginar…»

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A Mulher que Amou Jesus
«(…) Como somos desleixados!, disse Sara, levantando-se. Não demos parabéns a Maria, nem lhe demos a nossa bênção. Em breve estará casada! Ficaram todos de pé e Benjamim estendeu a sua mão sobre a cabeça de Maria. Querida amiga de minha filha, que é como filha minha, que a bênção do casamento traga felicidade à sua casa. Maria nunca o tinha visto tão solene. Quezia apertou sua mão enquanto o pai pronunciava as palavras, e sua pele se arrepiou. Depois do Sabá seguinte, Quezia levou Maria para conhecer os comerciantes que tinham lojas perto da de seu pai, apresentando-a a eles. Quando dizia minha amiga Maria, que se irá casar em breve com Joel, de Naim, a felicidade que transparecia na sua voz era inconfundível. Ser noiva era resolver um dos mistérios da vida. Aquela era uma parte da cidade em que somente os ricos faziam compras. Um mero colar podia custar o equivalente ao salário pago a um pescador por toda uma estação de pescaria; uma tigela de cerâmica bem torneada podia corresponder à pensão de uma viúva. Era um bairro frequentado pelos outros saduceus da cidade, que não se importavam de caminhar ombro a ombro com romanos e gregos. Minha família jamais permitiria que eu fizesse compras aqui, pensou Maria. Mas sorria, educadamente, e acenava com a cabeça para os comerciantes. Desde a sua primeira visita à casa de Quezia, há tanto tempo, Maria havia compreendido que a sua família também poderia ser rica, porém eles escondiam as suas riquezas. Só algumas coisas valiam a pena; as outras eram vaidade. Eram generosos com os pobres, davam contribuições consideráveis para a caixa de caridade da sinagoga, mas não comprariam louça na cidade alta. Imagine!, uma tigela de cerâmica por um preço daqueles? Jamais!
Em consequência disso, embora Maria gostasse de olhar as coisas que Quezia tinha, também se censurava, em parte, por essa tolerância. Sentia-se dividida entre o seu bom senso, as normas de sua família, e seus próprios desejos. Aquela tigela era tão linda, tão delicada e fina que se podia ver o contorno da mão do outro lado, contra a luz. Um trabalho desses merecia respeito. O preço, porém, era absurdo. Maria não poderia permitir-se pagar tão caro. Veja só!, disse Quezia, erguendo um cálice. Não dá para imaginar você enchendo este cálice e dizendo: e aqui, eis o nosso melhor vinho?
O cálice era de ouro. Não, disse Maria. Um cálice de ouro é o tipo de coisa que nunca terei. Pegou-o na sua mão, examinou-o atentamente, reparando na superfície lisa e bem trabalhada e, com uma certa resistência, colocou-o de volta no seu lugar. Sem nunca lhe ter perguntado, sabia que Joel jamais compraria uma coisa daquelas. O mundo de cálices de ouro não era o seu. Bom, eu espero que ele deixe você escolher alguma coisa bonita, uma coisa que lembre você do seu casamento, disse Quezia. Acho que nunca esquecerei o dia do meu casamento, mesmo que não receba um presente especial, disse Maria. Lembrarei de tudo aquilo em que tocar nesse dia. O próprio dia tornará as coisas sagradas. À medida que o dia do casamento se aproximava, os preparativos iam tomando cada vez mais tempo da família. A mãe de Maria, que cuidava com tanto zelo da casa, deixava agora algumas coisas de lado para se entregar aos projetos de casamento de sua única filha. Ela até cantava enquanto arrumava a casa, coisa que Maria não se lembrava de ter visto.
Certa noite, anunciou que o dia seguinte seria inteiramente por conta dos preparativos pelas mulheres da família. Suas primas, suas tias e a irmã de Joel estão vindo!, disse, orgulhosa. É verdade, a irmã dele, Débora, está vindo de Naim! Jeol falava de Débora com muito carinho, mas Maria nunca a havia encontrado. Conhecera a mãe dele, Judite, e o pai, Ezequiel, que tinham vindo a Magdala pouco após o pedido de casamento. Maria constatara, com surpresa, que Joel não se parecia muito com qualquer deles: ambos eram baixinhos e atarracados, enquanto Joel era alto e magro. Ficara imaginando como seria Débora». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.
                                       
Cortesia de SdeEmergência/JDACT