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de wikipedia e jdact
Os
cinco cavaleiros
«(…) À sombra de uma das tendas
encostadas nas paredes de um entreposto, dois cavaleiros terminavam a toillete.
Um deles, que tinha por volta de trinta anos, cabelos louros, faces fundas e
mal-barbeadas, orelhas ligeiramente de abano, inspirava simpatia imediata. Ele
aspergia alegremente o próprio torso com a água retirada em grandes e generosas
braçadas de uma tina. O segundo, mais velho, mais sombrio, de altura imponente,
a pele queimada pelo sol, uma barbicha negra que agredia o queixo pontudo,
vestia um colete feito de tecido grosso e coberto de couro. Apontando para a embarcação
que estava sendo amarrada no cais, ele não dissimulou uma certa hostilidade
para anunciar: eis os seus amigos, Sylbert. Tivemos de esperá-los demais! Estou
com pressa de chegar a Jerusalém. O primeiro se sacudiu, olhou na direcção da nau
e frisou: você não traz os champanheses no coração, Longmaur. Pode-se adivinhar
só pelo tom da sua voz. Para ser sincero, não escondo que preferia que
estivessem ao nosso lado com o seu exército na tomada da Cidade Santa. Sem dúvida,
não teríamos perdido tantos bons companheiros. Sylbert vestiu-se rapidamente,
apressado para ir receber os convidados. Longmaur demonstrou toda a calma para
amarrar o cinto, equipar-se com a bainha da espada e enfiar as calças justas. Da
prancha de desembarque do navio, desciam peregrinos, padres, monges e cavaleiros
em pequenos grupos.
Estou vendo o meu primo Sylbert,
disse Payns, apontando o homem de pernas compridas que vinha correndo na direcção
deles, com cabelos desgrenhados e batendo os braços no ar para ser visto pelos
recém-chegados. Eu o reconheci. Uma recepção bem insignificante!, observou
secamente o conde. Balduíno deve ter ficado decepcionado por receber apenas
cinco peregrinos acompanhados de um punhado de escudeiros, ressaltou Payns. Sem
dúvida, ele preferia que o conde de Champagne viajasse à frente de uma grande
tropa! Para todos os efeitos, viemos aqui a título particular. E é melhor
assim. Cada um dos cinco cavaleiros estava acompanhado por um escudeiro. Mal
puseram os pés no cais, Sylbert correu para o conde e estendeu os braços num
gesto amigável. Senhor Hugues, estou muito contente por abraçá-lo. O mesmo
acontece comigo, irmão. Um rosto amigo é um consolo para quem desembarca nesta
terra desconhecida. Ainda mais porque não estou acostumado às viagens.
Em seguida, Sylbert, o amistoso
Sylbert, literalmente se jogou sobre Payns para beijá-lo, lhe devorando as
faces, a tal ponto estava entusiasmado. Meu primo! Meu bom primo! Que belo dia,
não é? Faz três anos... Não, quatro... Sim, quatro anos que não nos vemos! E
você não engordou nada. Continua a se alimentar de castanhas, água da chuva e pão
duro? Payns havia segurado Sylbert pelo pescoço e se deixou abraçar por esse
homem bondoso, por mais exuberante que fosse. Arcis, Geoffroy e Basile,
ligeiramente atrás, se divertiam com o espectáculo e sorriram apesar das
expressões alteradas, cansadas pela travessia. Quanto aos escudeiros, eles
puseram a pesada bagagem no chão, para não se cansarem desnecessariamente,
enquanto aguardavam que as intermináveis efusões terminassem. Sylbert levou o
grupo para as tendas dos cruzados que tinham vindo recepcioná-los.
Alguns já começavam a preparar os
cavalos. Longmaur não saiu do lugar e olhava, com desprezo, os champanheses se
aproximarem. Payns e o conde Hugues andavam ao lado de Sylbert. Em voz baixa,
de modo a que os escudeiros não ouvissem, Payns interrogou o primo: as buscas
de Balduíno estão progredindo? Sylbert deu de ombros. Os engenheiros e os
escavadores não cessam de esquadrinhar o Templo, convencidos do que se dedicam
a procurar os tesouros de Salomão... Eles recolheram alguns bibelôs de ouro.
Urnas e vasos. Para todos, o Túmulo do Cristo já foi liberado. Mas Bucelin, o núncio
do papa, vive pressionando o rei para que seja descoberto o túmulo do Impostor.
O papa Pascoal morre de vontade de passar à nossa frente, frisou Hugues. É
evidente que Bucelin conhece a razão da vinda de vocês, apontou Sylbert. Devemos
agir com muita discrição e desconfiar dos cruzados, recomendou Payns. A contragosto,
Longmaur decidiu sair e demonstrar um pouco de polidez para com os
champanheses. Imediatamente, Sylbert cochichou: nem mais uma palavra, eis que o
cavaleiro Longmaur se aproxima, um fiel de Balduíno. Um soldado corajoso, tão
subtil quanto uma ostra! Eu estava ao lado dele na tomada da Cidade Santa; esse
homem é um verdadeiro carniceiro... Ele cortou os adversários melhor do que um
esquartejador teria feito. Ah, deviam vê-lo patinhar no sangue, estripando e
cortando homens, mulheres e crianças! Infatigável e labutador!» In Didier Convard, O
Triângulo Secreto, Os Cinco Templários de Jesus, 2006, Editora Bertrand Brasil,
2013, ISBN 978-852-861-663-7.
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