segunda-feira, 9 de março de 2020

Alpalhão. Património Histórico e Artístico. Vítor Serrão, João Cosme, Carmen Balesteros e Margarido Ribeiro. «Há nella Mrizericordia com provedor e irmãos e hospital, erecta pella devoção e doaçans dos devotos que fazem de renda reqularmente cem mil reis, e cento e trinta réis»

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Memória 16
«(pag. 141). Fica esta villa na provincia do Alemtejo, bispado de Portalegre.
He de el-Rey nosso senhor, ahinda que tem alguas terras de comenda, como Montalvão, Niza que se chamam terras do Mestrado, e da comenda que há da Ordem de Christo. Hé o seu comendador o Excelentissimo duque de Lafoens.
Tem quatrocentos e vinte fogos; e mil e quatrocentas pessoas sogeitas a hua só freguesia de Nossa Senhora da Graça, igreja apresentada por el-Rey na Meza da Com[s]ciencia por concurso, com vigario que tem dous moyos de trigo e meyo, vinte e oito mil réis e cincoenta e dous almudes e vinho, e o pé-de-altar trinta mil réis.
Tem coadjutor com dous moyos de trigo, e seis mil réis, vinte e cinco almudes de vinho. Thezoureyro com hum moyo e quinze alqueires de trigo, três arrobas de cera lavrada, cinco mil reis, oito alqueyres de azeyte.
Esta igreja tem seis altares: da Senhora da Graça que hé o orago, da Senhora da Purificação, do Menino Deus, da Senhora do Rozario, do capelo do Arcediago e das Almas.
Tem quatro irmandades a que chamam confrarias: das Almas e do Rozario, e das (pag. 142) Chagas e da Senhora da Purificação.

Está esta villa situada em hum campo mas ahinda que plano, tem sua altura donde se avista Montalvão, distante duas legos; e Niza, outras duas; Castelo Branco, oito; Villa Velha, quatro, e Aris duas; Castelo de Vide, duas. O seu termo tem por todas as partes meya legoa, muito fecundo de senteyo, feyjão e milho meudo e algum trigo.

Há nella Mrizericordia com provedor e irmãos e hospital, erecta pella devoção e doaçans dos devotos que fazem de renda reqularmente cem mil reis, e cento e trinta réis.

Tem capitão-mayor, dous capitaens da Ordenança, hum de Auxiliares, e hum sargento-mor. Fora da villa tem hua ermida de Santo Antonio, outra de S. Sebastiam e do calvario; e outra meya legoa distante de Nossa Senhora da Redonda, imagem muito milagroza e de grande veneração não só para os desta villa mas tambem para as circunvizinhanças, e honde vêm com muitas romarias de Veram. E os da villa da Amieyra, distante três legoas, vêm todos os anos; a Justiça e toda a Nobreza com provizão de el-Rey para fazerem gastos à custa dos bens do concelho.
Dentro tem duas ermidas: a de S. Pedro e da Santa Caza da Mizericordia. Tem dous juizes ordinarios, escrivam de camera, escrivão dos orphãos, escrivão do judicial e notas, (pag. 143) alcayde.
A mizericordia governa-se pello compromisso da de Lisboa.
Tem esta vrlla finalmente seu sinal de muralha que hé ao redor hua parede mais larga, arruinada e quazi posta no alicerce, e hum castello no meyo com hua das quatro faces arruinada pelos castelhanos em Mayo de mil e settecentos e quatro. Este pello terremoto foi só o que padeceo nesta villa perecer hua pequena parte lá do alto da mesma face offendida, que as outras três se conservam inteiras. Dista de Portalegre quatro legoas, de Lisboa trinta e duas.

(Rio)
Há mais hua ribeyra que, por fazer ao rio Sor, lhe deu a sua origem, que hé junto à aldeã de Lagoa, termo de Portalegre, ahonde de huns regatos se forma; e na distancia de duas legoas, a esta villa por cujo termo passa, faz moinhos que moem nos annos bem regulados de Outubro athé Mayo.
Pela pequenhez deste termo alcançaram os moradores desta villa provizoens dos senhores reys passados para serem os pastos comuns, e poderem entrar com os seus gados no termo da villa de Niza.
Há mais outra ribeyra ou riozinho chamado do Figueirô, de tão excelentes bordalos que, entrando hum homem desta villa em hua igreja da cidade de Coimbra a tempo que se faziam exorcismos a hum energúmeno (pessoa que nunca veyo a esta terra, nem o conhecia), disse o diabo: oh, homem de Alpaham! Bons bordalos de Figueirô! 0h! 0h! E por a não acabarem o diabo, guarde Deos a quem me manda fazer este papel». In João Cosme e José Varandas, Memória 16, Memórias Paroquiais, 1758, Lisboa, Caleidoscópio, Alpalhão, Património Histórico e Artístico, Vítor Serrão, João Cosme, Carmen Balesteros e Margarido Ribeiro, 2015, ISBN 978-989-205-579-4.

Cortesia de TurismoAlentejoRibatejo/JFAlpalhão/LAAlpalhão/JDACT