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A
Mulher que Amou Jesus
«(…) Por volta de meio-dia, as
mulheres começaram a chegar à casa de Zebida, com as cabeças cobertas devido à
poeira e ao sol quente. Logo se sentaram, tomando iogurte com hortelã e
conversando sobre Maria. Esta sentia-se como se fora um daqueles cordeiros, no
mercado, que as pessoas ficavam inspeccionando. Débora, que chegara com sua mãe
depois das outras, afinal era muito parecida com Joel, o que Maria achou
reconfortante. Quando terminaram de se cumprimentar umas às outras e de pôr em
dia os mexericos mais recentes, a mãe de Maria ergueu as mãos e pediu silêncio.
Olhando em volta, com um certo exagero, disse: podemos ter a certeza de que não
há homens aqui? A senhora olhou nos quartos, lá atrás?, perguntou uma das
primas de Maria. Eles gostam de se esconder lá! Dando risada, correram lá atrás
para ver e voltaram, abanando a cabeça. Estamos sozinhas! Bom!, disse Zebida. Então,
podemos falar à vontade. Antes que pudesse continuar, alguém bateu à porta.
Depois de um susto, todas começaram a rir.
Até parece que estamos com medo
que entre um soldado romano aqui dentro, disse Ana, tia de Maria. Zebida abriu
a porta e viu o vulto curvado de Ester, a viúva que morava do outro lado da
rua. Os olhos negros de Ester perceberam o grupo de mulheres e disse: desculpem-me,
eu só vinha perguntar se teria um pouco de farinha de cevada, mas acho que... Não,
por favor, entre!, disse Zebida, quase puxando Ester para dentro. Precisamos
dos seus conhecimentos. Conhecimentos? Sobre o que significa o passar dos anos
para um homem e uma mulher, disse Zebida. Como sabe, minha filha Maria vai
casar-se em breve. Então, juntamo-nos, todas as mulheres da família, para ajudá-la
e transmitir-lhe o que sabemos. Mas não temos pessoas mais idosas, pois minha mãe
e a mãe de Natã morreram há muito tempo, assim como nossas tias. Então, poderia
ajudar-nos!
A velha senhora olhou em torno de
si, atentamente. Não sei que tipo de conhecimentos eu poderia ter. Só sei que
vivi por muitos anos, só isso. Vivi mais tempo sozinha do que o tempo que
passei casada. Já sou viúva há mais de 40 anos. As mulheres na sala tentaram não
olhar para ela com piedade, mas todas sabiam o que significava ser viúva,
principalmente sem filhos. Venha sentar-se, disse Zebida. Ester não deu atenção
e dirigiu-se a Maria. Conheço-a desde que nasceu, disse. E desejo-lhe muita
felicidade. E deu-lhe uma pancadinha suave no braço. Maria tentou disfarçar: os
machucados e os arranhões doíam-lhe muito, hoje, e ela só orou para que ninguém
lhe pedisse para pôr o vestido de noiva e mostrar os braços. Agora, faltava
pouco para deixar esta casa assombrada, esta casa onde pairava algum espírito
maligno, que a atormentava. Faltava pouco... Joel poderia não ser o marido
ideal para ela, mas podia salvá-la das angústias que existiam dentro das
paredes da sua própria casa. Obrigada, disse Maria, puxando o braço para si. Mas
devo dizer-lhe, continuou Ester, que boa parte dessa felicidade depende da sua
própria força. O homem tem pouco a ver com isso.
A mãe de Joel olhou para ela,
indignada. O que a senhora quer dizer com isso?, perguntou. É claro que meu
filho tem tudo a ver com isso! Se seu filho for um bom homem, ele terá, disse
Ester. Mas caso Maria fosse escolhida por alguém não tão bom, ainda assim
poderia depender da sua própria felicidade. E se algo trágico acontecesse que Javé
não o permita!, e ela se tornasse viúva, como eu, sua felicidade estaria
exclusivamente em suas mãos. Eu acho que a senhora está velha e não compreende
que esta é uma ocasião de alegria, disse Judite. Se não fosse conhecida de
Zebida, eu suspeitaria que tivesse alguma ligação com o Mal. Peço-lhe, no
entanto, que retire o que disse do meu filho! Eu não quis dizer nada de mal,
mas fingir que o mal não existe só significa fortalecê-lo, insistiu Ester,
teimosamente. Tudo o que desejo é uma vida longa e saudável para seu filho e
para Maria. Zebida enfiou uma xícara na mão de Ester e afastou-a do grupo, dirigindo-se
com ela para um canto da sala». In Margaret George, A Paixão de
Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN
972-883-911-1.
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