Pormenor de pintura
mural decorativa do Palácio dos Duques de Lafões, 1.ª metade do
século XIX
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Guia
histórico I
A
Oriente. A nossa cidade
Descobrir
o Oriente
«(…) A partir da escolha do limite da Zona Oriental de Lisboa para implantação
da Exposição Mundial de Lisboa de I998, impôs-se
de imediato um olhar atento sobre uma área vastíssima da qual pouco ou nada se conhecia, quer na sua evolução histórica, quer quanto ao património de variada
ordem nela existente. Com efeito, desde
Júlio Castilho que os estudiosos olisiponenses privilegiaram
o casco antigo da cidade intramuros, rareando por isso a informação trabalhada sobre a restante parcela oriental
do concelho de Lisboa. Corno excepção
destaque-se o trabalho isolado, mas precioso, de
Ralph Delgado sobre os Olivais e um ou outro caso pontual de informação dispersa
sobre algum edifício mais conhecido. Impunha-se, pois, partir do zero, tentando definir-se, por um lado, a
unidade estruturante de uma zona da cidade,
individualizando-se, por outro, os edifícios mais
interessantes, (A Fortuna, painel de
azulejos do início do século XVIII numa das capelas do claustro de Santos-o-Novo),
quer na sua riqueza patrimonial e artística,
quer nas informações históricas que podem fornecer.
Decidiram, assim,
os responsáveis pela EXPO '98 iniciar imediatamente um levantamento patrimonial
da Zona Oriental, cujos primeiros resultados se consubstanciaram na
publicação do livro Lisboa, Um Passeio a Oriente, edição da
Parque EXPO e do Metropolitano de Lisboa (1994). O carácter provisório da
investigação então recolhida, ainda pouco aprofundada, não
pareceu óbice para que essa leitura impressionista de uma realidade
desconhecida desempenhasse a função primordial de chamar a atenção para uma riqueza
insuspeitada pela maioria dos lisboetas, mesmo correndo-se o risco
de se avançar com informação pontualmente provisória que, num caso ou noutro,
felizmente poucos, a continuação do trabalho não confirmou. Mas o objectivo
fundamental foi atingido. Através dos textos e do acervo
fotográfico, tornou-se evidente a dimensão do que estava em jogo, criando-se as
condições indispensáveis para que esse levantamento fosse prosseguido e alargado,
integrado agora não numa mera acção de estudo historiográfico
mas, sim, num programa mais ambicioso em que a componente de investigação se
inseria num projecto de reabilitação e de animação de uma área
específica da cidade.
O início do
programa Caminho do Oriente em Novembro de 1996 veio criar as condições para se
prosseguir a investigação sobre a Zona Oriental, impondo em simultâneo algumas limitações
físicas do seu âmbito. Com efeito, ao restringir-se por razões de eficácia de
meios o programa ao antigo percurso ribeirinho até Marvila, ficaram de fora
importantes áreas, como Chelas, os Olivais ou parte da Estrada de Marvila, com prejuízo
de uma visão mais ampla do conjunto mas permitindo, em contrapartida, a
objectivação mais detalhada da investigação, estudando-se com maior rigor e
pormenor a área efectivamente abrangida. No entanto, o relevo da zona do Vale de
Chelas e a sua estreita conexão com o percurso em análise impôs que o mesmo
fosse integrado no trabalho final, ainda que sob a forma sumária de um simples passeio.
A dimensão do património e as características próprias da
evolução da área em estudo condicionaram também as linhas do projecto de investigação
e as suas balizas cronológicas. A história da Zona Oriental de Lisboa divide-se
muito nitidamente em duas grandes épocas, separadas pelo rasgão físico que o caminho-de-ferro
veio introduzir, criando as condições para o posterior desenvolvimento
industrial.
Apesar de se terem já instalado algumas indústrias a partir da
segunda metade do século XVIII, inicialmente com carácter quase exclusivamente
manufactureiro, a tonalidade geral da zona mantinha-se essencialmente rural,
com um ou outro pólo urbano rudimentar, como Santa Apolónia, Xabregas ou
Marvila. Eram os conventos e as quintas que pontuavam e davam o tom ao sítio,
profundamente ligado, assim, à estrutura social e económica do Antigo Regime. É
sobre esse tecido muito específico que a industrialização se vai inserir, por
vezes readaptando edifícios anteriores a novos usos, numa promiscuidade
criativa que para sempre marcou esta parte de Lisboa e lhe concede no
todo urbano um lugar à parte. Dado o carácter especializado da
investigação sobre o período industrial, tornou-se indispensável o recurso a estudiosos
credenciados, com métodos de trabalho e pistas de investigação autónomas.
Solicitou-se, assim, a Jorge Custódio e a Deolinda Folgado a realização de um Guia do
Património Industrial que abrangesse também a dinâmica social dos
bairros operários e outros equipamentos dela emergentes. Da mesma forma se
autonomizou o vastíssimo património azulejar, desde finais do século XVI
até à actualidade, numa investigação realizada por Luísa
Arruda e que irá contribuir para uma nova abordagem do azulejo de
interior e de fachada, não só como elemento estético decorativo, mas
também como pólo de uma actividade social e económica cuja importância
na história da cidade tem sido pouco realçada». In José Sarmento
Matos e Jorge Ferreira Paulo, Caminho do Oriente, Livros Horizonte, 1999, ISBN
972-241-057-1.
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