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1241,
Julho. O Desaparecimento de Sancho II
«O
historiador necessita de informação para poder recriar e interpretar o passado.
Como o leitor compreenderá facilmente, as fontes são inesgotáveis para acontecimentos
posteriores a 1600, pois o volume da burocracia administrativa era enorme, o texto
impresso já se tornara num produto de consumo barato e muito divulgado, a população
letrada já era razoável e os poucos séculos que passaram desde então permitiram
a sobrevivência de muito mais material. Além disso, as fontes foram-se
diversificando significativamente. Para os séculos XV e XVI, embora já abundem as
imagens, a situação é diferente, pois há inúmeros factos silenciados pelas fontes.
Mesmo para uma personagem como Afonso de Albuquerque sabe-se muito pouco sobre a
sua vida, salvo o tempo em que serviu a Coroa no Índico; por isso, o historiador
precisa de completar o quebra-cabeças da informação documental com intuições.
Para períodos mais recuados a capacidade
de recriar os factos ocorridos é cada vez menor, mesmo para figuras de relevo,
como são os reis. Assim, este capítulo não é dedicado a um episódio, mas a um caso
extremo de falta de informação: não temos notícias sobre a vida e os feitos de
Sancho II entre Julho de 1241 e Janeiro de 1244. Trinta meses sem que a chancelaria
régia nos dê um sinal de vida do rei é um caso único na História da monarquia
portuguesa, e bem revelador da dificuldade com que se deparam amiúde os historiadores
desta época. Por onde andou e o que fez el-rei Sancho II?
1249,
Março. A Conquista de Faro
A partir de 1229, a linha da Reconquista
voltou a acelerar para sul por toda a Hispânia. A 24 de Setembro de 1230, a morte
do rei Afonso IX de Leão permitiu que o seu filho, Fernando III, rei de Castela
desde 1217, lhe sucedesse no trono e unisse definitivamente as coroas leonesa e
castelhana num único reino, aumentando o poderio da cristandade no centro da
Península. Cáceres (1229), Maiorca, Mérida, Badajoz e Elvas (1230), Córdova (1236),
Valencia (1237) e Sevilha (1246) são alguns dos marcos mais significativos deste
avanço global de leste para oeste. O reino de Portugal, apesar da falta de autoridade
de Sancho II, participou nesta arrancada fulgurante: dominou o Alentejo, e chegou
à foz do Guadiana em 1239. Seguiu-se a guerra civil, o que adiou o assalto final
ao último bastião islamita. A instabilidade política levou o papa Inocêncio IV a
promulgar a bula Grandi non immerito, a 24 de Julho de 1245, porque
ordenava a deposição de Sancho II». In João Paulo Oliveira Costa, Episódios da
Monarquia Portuguesa, Círculo de Leitores, Temas e Debates, 2013, ISBN
978-989-644-248-4.
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