Cortesia
de wikipedia e jdact
Los
Angeles. Outubro de 2004
«(…) Depois de se apressar para
encontrá-lo, não sabia por onde começar. Foi o padre quem acabou rompendo o
silêncio. Quer dizer que ela voltou? Maureen deixou escapar um suspiro de
alívio. Nos momentos em que pensava alcançar os limites extremos da sanidade,
Peter estava ali para ajudá-la: primo, padre, amigo. Isso mesmo, balbuciou ela,
com uma in articulação inesperada. Ela voltou.
Peter revirava-se na cama,
irrequieto, incapaz de dormir. A conversa com Maureen perturbara-o mais do que
a deixara perceber. Estava preocupado com ela, tanto como seu parente vivo mais
próximo quanto como seu conselheiro espiritual. Sabia que os sonhos voltavam de
maneira inesperada e persistente e vinha ganhando tempo, à espera do dia em que
teria de agir. Quando voltara da Terra Santa, Maureen sentia-se perturbada
pelos sonhos com uma mulher imponente e sofredora, que vira em Jerusalém. Os
sonhos eram sempre iguais: ela estava no meio da multidão na Via Dolorosa. De
vez em quando, um sonho podia conter pequenas variações ou um detalhe
adicional, mas sempre projectavam um sentimento de profundo desespero. Era essa
intensidade vivida que perturbava Peter, a autenticidade nas descrições de
Maureen. Era intangível, uma coisa desencadeada pela própria Terra Santa, um
sentimento que Peter experimentara pela primeira vez quando estudava em Jerusalém.
Era uma sensação de estar muito próximo do antigo..., e do Divino.
Depois de voltar da Terra Santa,
Maureen passara muitas horas em ligações internacionais com Peter, que na ocasião
era professor na Irlanda. Ele começara a questionar a sanidade de Maureen. A
intensidade e frequência dos sonhos deixavam-no angustiado. Pedira uma transferência
para Loyola, sabendo que seria concedida imediatamente, e embarcara num avião
para Los Angeles, a fim de ficar perto da prima.
Quatro anos depois, ele lutava
contra os seus pensamentos e a sua consciência, sem saber a melhor maneira de
ajudar Maureen. Queria levá-la para encontros com alguns de seus superiores na
Igreja, mas sabia que a prima nunca concordaria com isso. Peter era o único elo
que ainda se permitia ter com sua criação católica. E só confiava nele porque
era da família..., e porque era a única pessoa na sua vida que nunca a
decepcionara. Peter se sentou na cama, aceitando a certeza de que o sono
continuaria a se esquivar dele pelo resto daquela noite..., e tentando não
pensar no maço de Marlboro na gaveta da mesinha-de-cabeceira. Tentava se livrar
daquele péssimo hábito..., e isso fora um dos motivos pelos quais optara por
morar sozinho num apartamento, em vez de partilhar a residência dos jesuítas. O
stress era demais naquele momento e ele acabou cedendo ao impulso para o
pecado. Acendeu um cigarro, deu uma tragada profunda e reflectiu sobre os
problemas com que Maureen se defrontava.
Sempre
houve alguma coisa especial naquela pequena e dinâmica prima americana. Quando
chegara à Irlanda com a mãe, era uma criança de sete anos assustada e solitária,
tinha o sotaque do sul dos Estados Unidos. Oito anos mais velho, Peter a tomara
sob sua protecção, apresentando-a às crianças da aldeia..., e proporcionando
olhos roxos a qualquer um que ousasse zombar da recém-chegada de sotaque engraçado.
Mas não levara muito tempo para que Maureen assimilasse o ambiente. Curara-se
rapidamente dos traumas do seu passado na Louisiana, enquanto as neblinas da
Irlanda a envolviam, acolhedoras. Encontrava refúgio nos campos, por onde dava
longos passeios, levada por Peter e suas irmãs, que mostravam a beleza do rio e
advertiam-na para os perigos das areias movediças no pântano. Os longos dias de
verão eram consumidos na colheita de amoras silvestres na fazenda da família e
nas partidas de futebol, até o sol se pôr no horizonte. Com o passar do tempo,
as crianças locais passaram a aceitá-la, à medida que ela se tornava mais
segura no ambiente e permitia que a sua verdadeira personalidade aflorasse». In
Kathleen McGowan, O Segredo do Anel, Editora Rocco, 2006, ISBN 853-252-096-0.
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