terça-feira, 21 de julho de 2020

O Afegão. Frederick Forsyth. «… ambos os lados do Atlântico, de que a paz finalmente chegara, e para ficar. Foi precisamente o momento em que a nova Guerra Fria…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Stingray
«(…) O aparelho varreria a cidade, fechando cada vez mais a área, até localizar a fonte do sinal. Em Islamabad, o sargento na escuta disse ao seu superior: a conversa terminou. Mer…, disse o major. Três minutos e 44 segundos. Não podíamos esperar mais do que isso. Mas parece que ele não desligou o aparelho, informou o sargento.

Num apartamento de um prédio na cidade velha de Peshawar, Abdelahi cometera o seu segundo erro. Ao ouvir o egípcio sair de seu quarto, Abdelahi desligara imediatamente a chamada para seu irmão e enfiara o telemóvel debaixo de uma almofada. Mas se esquecera de desligar o aparelho. A 800 metros dali, os varredores do coronel Razak aproximavam-se cada vez mais.

Tanto o SIS (Serviço Secreto de Inteligência) britânico, quanto a CIA (Agência Central de Inteligência) americana mantêm operações de grande porte no Paquistão por motivos óbvios. Trata-se de uma das principais zonas de guerra na luta contra o terrorismo actual. Parte da força da aliança ocidental, que data de 1945, deve-se à habilidade de cooperação de ambas as agências. Houve momentos de divergência, principalmente depois do surto de traidores britânicos, que começara em 1951 com Philby, Burgess e Maclean. Mais adiante, quando os americanos descobriram que também mantinham uma galeria de traidores a serviço de Moscou, a CIA perdeu o preconceito para com o SIS. Em 1991, o fim da Guerra Fria conduziu à conclusão estúpida, da parte de políticos de ambos os lados do Atlântico, de que a paz finalmente chegara, e para ficar. Foi precisamente o momento em que a nova Guerra Fria, silenciosa e oculta nas profundezas do islão, estava experimentando as dores do nascimento. O 11 de Setembro pôs fim a toda rivalidade entre as agências. A regra se tornou: se nós sabemos, é melhor vocês saberem também. E vice-versa. Diversas agências estrangeiras prestavam sua contribuição à luta, mas nenhuma delas possuía a precisão dos colectores de informação anglo-americanos.
O coronel Razak conhecia ambos os chefes de secção na sua cidade. Em termos pessoais, era mais íntimo de Brian O'Dowd, o homem do SIS, e o telemóvel
dos terroristas foi originalmente uma descoberta britânica. Assim, ao descer do terraço, foi para O'Dowd que ele telefonou com a notícia. Nesse momento, o Al Qur foi ao banheiro e Abdelahi enfiou a mão debaixo da almofada para pegar o telemóvel e colocá-lo de volta em cima da mala, onde o encontrara. Com uma pontada de culpa, viu que ainda estava ligado. Desligou-o imediatamente. Temia gastar a bateria. Em todo caso, estava com oito segundos de atraso. O localizador de direcção fizera seu trabalho. Como assim, você descobriu?, perguntou O'Dowd. Seu dia subitamente se tornara Natal e vários aniversários num só. Não tem dúvida, Brian. A chamada veio de um apartamento no andar superior de um prédio de cinco andares na cidade velha. Dois dos meus agentes disfarçados estão indo até lá para averiguar e planear a aproximação. Quando vão invadir? De madrugada. Gostaria que fosse às três da manhã, mas o risco é grande demais. Eles podem fugir...» In Frederick Forsyth, O Afegão, Edições ASA, 2008, ISBN 978-989-230-267-6.

Cortesia de EASA/JDACT