Cortesia
de wikipedia e jdact
Stingray
«(…) O aparelho varreria a
cidade, fechando cada vez mais a área, até localizar a fonte do sinal. Em
Islamabad, o sargento na escuta disse ao seu superior: a conversa terminou. Mer…,
disse o major. Três minutos e 44 segundos. Não podíamos esperar mais do que
isso. Mas parece que ele não desligou o aparelho, informou o sargento.
Num apartamento de um prédio na
cidade velha de Peshawar, Abdelahi cometera o seu segundo erro. Ao ouvir o
egípcio sair de seu quarto, Abdelahi desligara imediatamente a chamada para seu
irmão e enfiara o telemóvel debaixo de uma almofada. Mas se esquecera de
desligar o aparelho. A 800 metros dali, os varredores do coronel Razak
aproximavam-se cada vez mais.
Tanto o SIS (Serviço Secreto de
Inteligência) britânico, quanto a CIA (Agência Central de Inteligência)
americana mantêm operações de grande porte no Paquistão por motivos óbvios.
Trata-se de uma das principais zonas de guerra na luta contra o terrorismo actual.
Parte da força da aliança ocidental, que data de 1945, deve-se à habilidade de
cooperação de ambas as agências. Houve momentos de divergência, principalmente
depois do surto de traidores britânicos, que começara em 1951 com Philby,
Burgess e Maclean. Mais adiante, quando os americanos descobriram que também
mantinham uma galeria de traidores a serviço de Moscou, a CIA perdeu o
preconceito para com o SIS. Em 1991, o fim da Guerra Fria conduziu à conclusão
estúpida, da parte de políticos de ambos os lados do Atlântico, de que a paz
finalmente chegara, e para ficar. Foi precisamente o momento em que a nova
Guerra Fria, silenciosa e oculta nas profundezas do islão, estava
experimentando as dores do nascimento. O 11 de Setembro pôs fim a toda
rivalidade entre as agências. A regra se tornou: se nós sabemos, é melhor vocês
saberem também. E vice-versa. Diversas agências estrangeiras prestavam sua
contribuição à luta, mas nenhuma delas possuía a precisão dos colectores de
informação anglo-americanos.
O coronel Razak conhecia ambos os
chefes de secção na sua cidade. Em termos pessoais, era mais íntimo de Brian
O'Dowd, o homem do SIS, e o telemóvel
dos
terroristas foi originalmente uma descoberta britânica. Assim, ao descer do terraço,
foi para O'Dowd que ele telefonou com a notícia. Nesse momento, o Al Qur foi ao
banheiro e Abdelahi enfiou a mão debaixo da almofada para pegar o telemóvel e
colocá-lo de volta em cima da mala, onde o encontrara. Com uma pontada de
culpa, viu que ainda estava ligado. Desligou-o imediatamente. Temia gastar a
bateria. Em todo caso, estava com oito segundos de atraso. O localizador de
direcção fizera seu trabalho. Como assim, você descobriu?, perguntou O'Dowd.
Seu dia subitamente se tornara Natal e vários aniversários num só. Não tem
dúvida, Brian. A chamada veio de um apartamento no andar superior de um prédio
de cinco andares na cidade velha. Dois dos meus agentes disfarçados estão indo
até lá para averiguar e planear a aproximação. Quando vão invadir? De
madrugada. Gostaria que fosse às três da manhã, mas o risco é grande demais.
Eles podem fugir...» In Frederick Forsyth, O Afegão, Edições ASA,
2008, ISBN 978-989-230-267-6.
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