Cortesia
de wikipedia e jdact
Stingray
«Se
o jovem guarda-costas talibã soubesse que aquela ligação de telefone móvel iria
matá-lo, não a teria feito. Mas como não sabia, fez a ligação e morreu em seguida.
Em 7 de Julho de 2005, quatro homens-bomba detonaram mochilas carregadas com
explosivos no centro de Londres. Cinquenta e duas pessoas morreram, cerca de
700 ficaram feridas e pelo menos cem foram mutiladas. Três dos quatro
homens-bomba nasceram e foram criados em solo britânico, porém filhos de
paquistaneses. O quarto era um jamaicano naturalizado britânico e convertido ao
islão. Ele e um dos outros ainda estavam na adolescência; o terceiro tinha 22
anos, e o líder do grupo, 30. Todos haviam sido radicalizados, ou convertidos
ao fanatismo extremo, bem no coração da Inglaterra, depois de frequentar
mesquitas extremistas e ouvir pregadores fanáticos. Nas 24 horas que se
seguiram às explosões, os homens foram identificados e associados a vários
endereços na cidade e arredores de Leeds, norte da Inglaterra. Inclusive, todos
haviam falado em intensidades diversas com sotaque de Yorkshire. O líder fora
Mohammad Siddique Khan, professor numa escola para alunos com necessidades
especiais.
Durante a busca nas casas e
propriedades dos homens-bomba, a polícia encontrou um verdadeiro tesouro que
preferiu não revelar à imprensa. Quatro recibos demonstravam que um dos
integrantes mais velhos comprou telemóveis do tipo descartável, e aparelhos
tri-band, que podem ser usados praticamente em qualquer parte do mundo. Cada um
dos aparelhos continha um cartão pré-pago no valor de 20 libras esterlinas. Os telemóveis
foram pagos em dinheiro e estavam desaparecidos. Mas a polícia logo identificou
os números e classificou-os como suspeitos, de modo que seriam identificados
caso voltassem a ser utilizados. Também foi descoberto que Siddique Khan e seu
parceiro de maior confiança no grupo, um jovem punjabi chamado Shehzad Tanweer,
passaram três meses no Paquistão em Novembro do ano anterior. Não foi
descoberta pista alguma sobre quem os dois teriam visitado, mas, semanas depois
das explosões, a rede de televisão árabe Al Jazeera transmitiu uma gravação de
Siddique Khan na qual ele anunciava a sua morte. O vídeo certamente fora
gravado durante aquela visita feita a Islamabad.
Foi apenas em Setembro de 2006
que também ficou comprovado que um dos homens-bomba levara, na viagem, um dos
inocentes telemóveis desaparecidos e o presenteara ao seu organizador instrutor
da al-Qaeda. (A polícia britânica já estabelecera que nenhum dos homens-bomba
possuía habilidade técnica para fabricar as bombas sem instrução e auxílio). Independentemente
da identidade dessa autoridade superior, esta passara o presente adiante como
um sinal de respeito a um membro da comitiva de elite reunida em torno da
pessoa de Osama bin Laden, no seu esconderijo nas montanhas do Waziristão do
Sul, ao longo da fronteira do Paquistão com o Afeganistão, a oeste de Peshawar.
O aparelho seria utilizado apenas para emergências, já que todos os agentes da
al-Qaeda são cautelosos no uso de telemóveis. Contudo, o doador não teria como
saber que os fanáticos britânicos haviam cometido a estupidez de deixar o
recibo do aparelho na sua escrivaninha em Leeds. A comitiva de Bin Laden
apresenta quatro divisões, que lidam com as operações, as finanças, a
propaganda e a doutrina da organização. Cada divisão possui um director, que
responde apenas a Bin Laden e ao seu co-líder, Ayman Al-Zawahiri. Em Setembro
de 2006, o chefe de finanças do grupo terrorista era o egípcio Tewfik Al-Qur,
conterrâneo de Zawahiri.
Por motivos posteriormente
esclarecidos, Tewfik Al-Qur encontrava-se disfarçado na cidade paquistanesa de
Peshawar, em 15 de Setembro, e não partia para uma viagem demorada e perigosa
para longe do entorno das montanhas, mas retornava de uma. Aguardava a volta do
guia que iria levá-lo aos picos waziris, e à presença do xeque em pessoa.
Para
protegê-lo em sua breve estada em Peshawar, foram-lhe designados quatro
fanáticos locais, pertencentes ao movimento Talibã. Como é normal aos homens
originários das montanhas do noroeste, eles eram tecnicamente paquistaneses,
mas da tribo dos waziris.
Falavam pashto melhor
que urdu, e eram leais ao povo pashtun,
do qual a tribo waziris
é um sub-ramo. Todos foram içados da sarjeta numa madrassa, ou
internato corânico de orientação extrema, aderindo à seita wahabi do islão, a mais
severa e intolerante de todas. Não tinham conhecimento ou habilidade para
qualquer coisa que não fosse recitar o Corão e, portanto, como milhões de
jovens criados em madrassas, eram incapazes de obter emprego». In Frederick
Forsyth, O Afegão, Edições ASA, 2008, ISBN 978-989-230-267-6.
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