Cortesia
de wikipedia e jdact
«Numa manhã de um Verão particularmente quente, um rapazinho
brinca nas rochas em Fjällbacka, o pequeno porto turístico onde decorreu a
acção de A Princesa de Gelo, quando se depara com o cadáver de uma mulher. A
polícia confirma rapidamente que se tratou de um crime, mas o caso complica-se
com a descoberta, no mesmo sítio de dois esqueletos. O inspector Patrick
Hedström é encarregado da investigação naquele período estival em que o
incidente poderia fazer fugir os turistas, mas, sem testemunhas, sem elementos
determinantes, a polícia não pode fazer mais do que esperar os resultados das
análises dos serviços especiais. Entretanto, Erica Falk, nas últimas semanas de
gravidez, decide ajudar Patrick pesquisando informações na biblioteca local e
novas revelações começam a dar forma ao quadro: os esqueletos são certamente de
duas jovens desaparecidas há mais de vinte anos, Mona e Siv. Volta assim à
ribalta a família Hult, cujo patriarca, Ephraim, magnetizava as multidões
acompanhado dos dois filhos, os pequenos Gabriel e Johannes, dotados de poderes
curativos. Depois dessa época, e de um estranho suicídio, a família dividiu-se
em dois ramos que agora se odeiam». In Sinopse
«O
dia começou de forma promissora. Ele se levantou cedo, antes do resto da família,
vestiu-se no maior silêncio possível e se esgueirou para fora sem ser
percebido. Levava o elmo de cavaleiro e a espada de madeira, que brandia alegre
enquanto descia correndo os cem metros que separavam a casa da entrada da
Passagem do Rei. Ele se deteve por um instante e contemplou, com assombro, o
interior da fenda que percorria as rochas. Os paredões de pedra estavam
separados por uns dois metros e erguiam-se uns dez metros rumo ao céu, no qual
o sol de Verão começava a levantar-se. Três rochas enormes estavam firmemente
encaixadas bem lá no alto, no meio da fenda, oferecendo um espetáculo
imponente. Aquele lugar exercia um fascínio mágico num garoto de seis anos. O
facto de a Passagem do Rei ser um terreno proibido tornava tudo ainda mais tentador.
O nome originara-se da visita do
rei Oscar II a Fjällbacka no final do século XIX, mas isso era algo que ele não
sabia e que não lhe importava, enquanto penetrava lentamente nas sombras, com a
espada pronta para atacar. O pai lhe contara que as cenas do Desfiladeiro do
Inferno, no filme Ronja, a filha do ladrão, tinham sido filmadas dentro da Passagem
do Rei. Quando ele assistiu ao filme, sentiu uma comichão no estômago ao ver Mattis,
o chefe dos ladrões, cavalgando pela fenda. Às vezes, ele brincava ali de
salteador, mas hoje ele era um cavaleiro. Um cavaleiro da távola redonda, como
naquele livro grande e colorido que a avó lhe dera de presente de aniversário. Ele
se arrastou sobre as rochas que cobriam o chão e preparou-se para atacar com a coragem
e a espada o grande dragão cuspidor de fogo. O sol de verão não penetrava na fenda,
o que a tornava um lugar frio e escuro. Perfeito para dragões. Logo ele faria o
sangue jorrar da garganta do animal, e, depois dos longos espasmos da morte,
este cairia morto a seus pés.
Pelo canto do olho, viu algo que
lhe chamou a atenção. Vislumbrou um pedaço de pano vermelho atrás de uma rocha,
e a curiosidade o venceu. O dragão poderia esperar; talvez houvesse um tesouro
escondido ali. Ele pulou sobre a rocha e olhou para baixo, do outro lado. Quase
caiu para trás ao fazê-lo, mas, depois de balançar o corpo e agitar os braços,
conseguiu equilibrar-se. Mais tarde, ele não admitiria ter-se assustado, mas naquela
hora, bem naquele instante, ele ficou mais aterrorizado do que jamais estivera em
seus seis anos de vida. Havia uma moça deitada, esperando por ele. Estava
deitada de costas, olhando para cima, directo para ele, com olhos bem
arregalados. O seu primeiro impulso foi fugir, antes que ela o pegasse
brincando ali onde ele não deveria estar. Talvez ela o obrigasse a dizer onde
morava e então o arrastasse de volta para a mãe e o pai. Eles ficariam furiosos
e, com certeza, perguntariam: quantas vezes já lhe dissemos que não deve ir à
Passagem do Rei sem um adulto?» In Camila Läkberg, Gritos do Passado, 2004,
Edições Dom Quixote, 2010/2011, ISBN 978-972-204-348-9».
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