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Meditação
na Pastelaria
«Por
favor, Madame, tire as patas,
Por
favor, as patas do seu cão
De
cima da mesa, que a gerência
Agradece.
Nunca
se sabe quando começa a insolência!
Que
tempo este, meu Deus, uma senhora
Está
sempre em perigo e o perigo
Em
cada rua, em cada olhar,
Em
cada sorriso ou gesto
De
boa-educação!
A
inspecção irónica das pernas,
Eis
o que os homens sabem oferecer-nos,
Inspecção
demorada e ascendente,
Acompanhada
de assobios
E
de sorrisos que se abrem e se fecham
Procurando
uma fresta, uma fraqueza
Qualquer
da nossa parte…
Mas
uma senhora é uma senhora.
Só
vê a malícia quem a tem.
Uma
senhora passa
E
ladrar é o seu dever, se tanto for preciso!
O
pó de arroz:
Horrível!
O
bâton:
Igual!
O
amor de Raul é já uma saudade,
Foi
sempre uma saudade…
(O
escritório
Toma-lhe
todo o tempo?
Desconfio
que não…)
Filhos
tivemos um:
Desapareceu…
E
já nem sei chorar!
Chorar…
Como
eu queria poder chorar!
Chorar
encostada a uma saudade
Bem
maior do que eu,
Que
não fosse esta tristeza
Absurda
de cada dia:
Unha
Quebrada
de melancolia…
Perdi
tudo, quase tudo…
Hoje,
Resta-me
a devoção
E
este pequeno inteligente cão.
Por
favor, Madame, tire as patas,
Por
favor, as patas do seu cão
De
cima da mesa, que a gerência
Agradece».
Poema
de Alexandre O’Neill, Poesia Completas & Dispersos, Edição de Maria Antónia
Oliveira, Assírio & Alvim, No Reino da Dinamarca, 2018, ISBN
978-972-371-947-5.
Cortesia
de AssírioandAlvim/JDACT