Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
Ainda. Óculos-de-Nerd disse, pressionando. É uma brilhante ideia. Eu poderia...
Hm, co-autorá-lo com você, se você quiser. Minha mãe levantou sua cabeça e sua
taça, apertando os olhos para ele enquanto um silêncio caía. Oh, vamos, ela
disse. Que doce da sua parte. Mas eu não faço coautoria, pela mesma razão que
eu não saio com conhecidos do trabalho ou relacionamentos. Eu sou apenas muito
egoísta. Eu pude ver óculos-de-Nerd engolir, mesmo do meu longo ponto de
vantagem, seu rosto corando assim que ele avançava para a garrafa de vinho,
tentando disfarçar. Idiota, eu pensei, empurrando de leve a porta fechada. Como
se fosse assim tão fácil se comparar a minha mãe, por algum rápido e apertado
laço que iria durar. Eu saberia. Dez minutos depois, eu estava deslizando para
fora pelas portas laterais, meus sapatos enfiados debaixo dos braços, e
entrando no meu carro. Eu dirigi pelas ruas vazias na maioria, passando por
quietas vizinhanças e escuras fachadas de lojas, até que as luzes da Lanchonete
do Ray aparecessem à distância. Pequeno, com completamente muito neon, e mesas
que estavam sempre um pouco grudentas, o Ray era o único lugar na cidade,
aberto vinte e quatro horas, 365 dias por ano. Desde que eu não estivesse
dormindo, eu tinha passado mais noites do que me lembrava numa cabine lá, lendo
ou estudando, dando uma gorjeta a cada hora ou a qualquer coisa que eu pedia
até que o sol se levantava. A insónia começou quando o casamento dos meus pais
começou a se deteriorar três anos antes. Eu não deveria ter ficado surpresa: a
união deles tinha sido tumultuosa por mais tempo que eu posso me lembrar,
apesar deles estarem sempre discutindo mais a respeito de trabalho do que de si
mesmos. Originariamente eles haviam chegado à Universidade directamente da
escola de primeiro grau, quando meu pai se ofereceu para ser professor
assistente lá. Neste momento, ele recém, havia encontrado um editor para o seu
primeiro romance, A Sereia Narwhal, enquanto minha mãe estava grávida de
meu irmão e tentando terminar sua tese. Rebobinando para frente, quatro anos,
até meu nascimento, e para meu pai numa maré de critica e êxito comercial, na
lista de New York Times como o mais vendido e indicado para os Prémios
Nacionais de Livros, estava liderando o programa criativo de escritura,
enquanto minha mãe estava; como ela gostava de dizer, perdida num mar de
fraldas e baixa estima. Quando entrei no jardim de infância, no entanto, minha
mãe voltou para a academia com vontade, conseguindo um mestrado e um editor
para a sua tese.
Com o
tempo, se transformou numa das professoras mais populares no departamento, foi
contratada para um cargo de tempo integral, e conseguiu um segundo, depois um
terceiro livro, tudo enquanto meu pai simplesmente olhava. Ele afirmava estar
orgulhoso, sempre fazendo piadas sobre ela ser seu boleto para a comida, o
sustento da família. Mas logo minha mãe conseguiu seu cargo académico, o que
era muito valorizado, e ele foi despedido pelo seu editor, o que não o era, e
as coisas começaram a ficar feias.
As brigas
sempre pareciam começar pelo jantar, com um deles fazendo algum pequeno
comentário e o outro se sentindo ofendido. Haveria uma pequena briga, palavras
ríspidas, uma tampa de panela batida com força, mas então pareceria resolvido...,
pelo menos até cerca das dez ou onze, quando de repente eu os ouviria começar
de novo sobre o mesmo assunto. Depois de um tempo eu percebi que esse braço de
tempo ocorria porque eles estavam esperando que eu adormecesse antes de irem
com tudo. Então eu decidi, uma noite, não dormir. Eu deixei minha porta aberta,
minha luz acesa e fiz cálculos, óbvias idas ao banheiro, lavando minhas mãos o
mais alto possível. E por um tempo, funcionou. Até que não, e as brigas
começaram de novo. Mas então meu corpo estava acostumado a ficar acordado até
tarde, o que significava que agora eu estava acordada para cada palavra.
Eu
conhecia um monte de pessoas que se tinham separado, e todos pareciam lidar com
isso de modo diferente: completa surpresa, desapontamento esmagador, completo
alívio. O denominador comum era, sempre que havia um monte de discussões a
respeito desses sentimentos, ambos com os dois pais, ou um ou outro
separadamente, ou com um terapeuta em grupo ou terapia individual. Minha
família, é claro, tinha que ser a excepção. Eu realmente tive o sente-que-nós-temos-que-lhe-dizer-algo
momento. As noticias foram dadas pela minha mãe, pela mesa da cozinha
enquanto meu pai se encostava contra um canto por perto, mexendo nervosamente
com as mãos e parecendo cansado. O seu pai e eu estamos nos separando, ela me
informou, com o mesmo inexpressivo, todo negócios tom que eu tão frequentemente
a ouvia usar com estudantes enquanto ela criticava seus trabalhos. Eu tenho
certeza que irá concordar que esse é o melhor para todos nós. Ouvindo isso, eu
não tinha certeza de como eu me sentia. Não alivio não um esmagador
desapontamento, e de novo, não era uma surpresa. O que me incomodava, enquanto
nos sentávamos ali, os três de nós naquele cómodo eram; quão pequena eu me
sentia. Pequena, como uma criança. O que era a coisa mais esquisita. Como se
tivesse tomado todo esse imenso momento para uma repentina onda de infância
passar por mim, há muito esperada». In Sarah Dessen, A Caminho do Verão, 2011, Saraiva,
2011, ISBN 978-851-606530-0.
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de ESaraiva/JDACT