Cortesia
de wikipedia e jdact
Stingray
«(…) Mas, caso recebessem
qualquer tarefa do chefe do seu clã, morreriam para realizá-la. Naquele Setembro,
foram incumbidos de proteger o egípcio de meia-idade que falava árabe nilótico,
mas dominava o suficiente do idioma pashto
para se comunicar. Um dos quatro jovens era Abdelahi, e seu orgulho e
alegria era seu telefone móvel. Infelizmente o aparelho não estava funcionando,
porque ele esquecera de recarregar a bateria. Isso foi depois do meio-dia. Uma
hora perigosa demais para sair à rua e caminhar até uma mesquita local para
rezar. Al Qur dissera todas as suas preces junto com seus guarda-costas, no seu
apartamento no andar superior. Tinham feito uma refeição frugal e se recolhido
para descansar um pouco. O irmão de Abdelahi vivia a centenas de quilómetros a
oeste, na igualmente fundamentalista cidade de Quetta, e a mãe deles estava
doente. Em busca de notícias da mãe, tentou falar com ele pelo telemóvel. Não
iria falar nada que fosse comprometedor; apenas uma parte dos trilhões de
palavras inocentes que viajavam diariamente pelo éter de todos os cinco
continentes. Mas seu telemóvel não queria funcionar. Um de seus companheiros
apontou a ausência de sinal no visor do aparelho e explicou o processo de
carregamento. Então Abdelahi viu o telemóvel sobressalente sobre a mala do
egípcio, na sala de estar.
Estava
totalmente carregado. Sem ter ideia de como aquilo poderia causar qualquer
problema, digitou o número do irmão e ouviu o toque da chamada para Quetta. E
na toca de coelho de subterrâneos interconectados em Islamabad, que constituem
o departamento de escuta do Centro Antiterrorista do Paquistão, uma pequena
lâmpada vermelha começou a piscar. Muitos moradores de Hampshire consideram-no
o condado mais bonito da Inglaterra. A costa sul, de frente para as águas do
canal, abriga o imenso porto marítimo de Southampton e a doca de Portsmouth.
Seu centro administrativo é a cidade histórica de Winchester, dominada por uma
catedral com quase mil anos de idade.
No coração do condado, longe de
todas as estradas, e até mesmo das rodovias, fica o silencioso vale do rio
Meon, um córrego agradável em cujas margens jazem aldeias que datam do tempo
dos saxões. Uma única estrada corre de sul a norte, mas o resto do vale é uma
rede de alamedas coleantes franjadas com árvores, cercas vivas e prados. É uma
região de fazendas como nos velhos tempos, com poucos campos de mais de dez
hectares e com um número ainda menor de fazendas de mais de quinhentos
hectares. A maioria das casas de fazenda é muito antiga, e algumas servidas por
agrupamentos de celeiros grandes, antigos e belos. O homem empoleirado no cume
de um dos celeiros desfrutava de um panorama do vale Meon e de uma visão geral
da aldeia mais próxima, Meonstoke, que ficava a menos de um quilómetro e meio
de distância. No momento em que, a vários fusos horários para leste, Abdelahi
fez a última chamada telefónica da sua vida, o telhador enxugou um pouco de
suor da testa e reiniciou seu trabalho: remover com cuidado as telhas de barro
que tinham sido postas ali havia centenas de anos.
Deveria
ter chamado uma empresa especializada em reparo de telhado, que teria envolvido
o celeiro inteiro com andaimes. Seria mais rápido e seguro trabalhar desse
modo, embora muito mais caro. E o problema era esse. O homem empunhando o
martelo de telhador era um ex-soldado, aposentado depois de 25 anos de
carreira, e que usara a maior parte do soldo para comprar este sonho; um lugar
no campo para chamar de lar. Um lar que já fora um celeiro, e do qual, para chegar
à cidade mais próxima, era preciso seguir uma trilha e depois uma estrada». In Frederick
Forsyth, O Afegão, Edições ASA, 2008, ISBN 978-989-230-267-6.
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