quarta-feira, 25 de novembro de 2020

As Areias do Tempo. Sidney Sheldon. «Corriam rumores de que tinham enormes recursos à sua disposição, mas era um mistério de onde procedia o dinheiro ou como era usado e manipulado»

Cortesia de wikipedia e jdact

Madrid

«(…) Passara pelo turbilhão da Guerra Civil, com sua aliança nacionalista de monarquistas, generais rebeldes, latifundiários, a alta hierarquia da Igreja e os falangistas fascistas de um lado, e as forças do governo republicano, incluindo socialistas, comunistas, liberais e separatistas bascos e catalães, no outro. Fora um terrível período de destruição e morte, uma loucura que atraíra homens e material bélico de uma dúzia de países, deixando um saldo de mortos assustador. E agora os bascos voltaram a lutar e matar. O coronel Acoca comandava um grupo eficiente e implacável de antiterroristas. Seus homens trabalhavam em operações clandestinas, usavam disfarces e não eram divulgados ou fotografados, por medo de retaliação. Se alguém pode deter Jaime Miró, é o coronel Acoca, pensou o primeiro-ministro. Mas havia um problema: quem vai deter o coronel Acoca? A entrega do comando ao coronel não fora ideia do primeiro-ministro. Ele recebera um telefonema no meio da noite na sua linha particular, reconhecera a voz no mesmo instante. Estamos muito preocupados com as actividades de Jaime Miró e seus terroristas. Sugerimos que ponha o coronel Ramon Acoca no comando do GOE. Entendido? Entendido, senhor. Será imediatamente providenciado. A ligação fora cortada. A voz pertencia a um membro do Opus Dei. A organização era uma calada secreta que incluía banqueiros, advogados, dirigentes de poderosas corporações e ministros do governo. Corriam rumores de que tinham enormes recursos à sua disposição, mas era um mistério de onde procedia o dinheiro ou como era usado e manipulado. Não era considerado saudável fazer muitas perguntas a esse respeito.

O primeiro-ministro pusera o coronel Acoca no comando, de acordo com as instruções, mas o gigante mostrara-se um fanático incontrolável. Seu Génio criara um reinado de terror. O primeiro-ministro pensou nos terroristas bascos que os homens de Acoca haviam capturado perto de Pamplona. Foram julgados e condenados à morte. O coronel Acoca insistira para que fossem executados pelo bárbaro garrote vil, a gargantilha de ferro com um espigão que era apertada aos poucos, até que partia a vértebra e cortava a medula espinhal das vítimas. Jaime Miró tornou-se uma obsessão para o coronel Acoca. Quero a sua cabeça, disse o coronel Acoca. Cortemos sua cabeça e o movimento basco morre.

Um exagero, reflectiu o primeiro-ministro, embora devesse admitir que havia um fundo de verdade. Jaime Miró era um líder carismático, fanático em relação à sua causa e por isso perigoso. Mas à sua maneira, concluiu o primeiro-ministro, o coronel Acoca é igualmente perigoso. Primo Casado, o director-geral de segurança Pública, estava falando: Excelência, ninguém podia prever o que aconteceu em Pamplona. Jaime Miró é... Sei o que ele é, interrompeu o primeiro-ministro bruscamente. Quero saber onde ele está. Virou-se para o coronel Acoca. Estou na sua pista, disse o coronel Acoca, a voz provocando um calafrio pela sala. Gostaria de lembrar a Vossa Excelência que não estamos lutando contra um homem apenas. Mas sim contra todo o povo basco. Eles forneceram alimentos, armas e abrigo a Jaime Miró e a seus terroristas. O homem é um herói para eles. Mas não se preocupe. Muito em breve ele será um herói enforcado. Depois que eu lhe oferecer um julgamento justo, é claro. Não nós. Eu. O primeiro-ministro especulou se os outros haviam notado. Sem dúvida, ele pensou, nervosamente, alguma coisa precisará ser feita em relação ao coronel muito em breve. O primeiro-ministro levantou-se. Isso é tudo por enquanto, senhores». In Sidney Sheldon, As Areias do Tempo, 1989, Publicações Europa-América, 2003, ISBN 978-972-105-176-8.

Cortesia PEuropaAmérica/JDACT

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