Faz-me frio este Outono
«Faz-me frio este Outono,
a boiar sobre o corpo,
a poesia sem ancas,
a música passada
por ovo e pão ralado, faz-me
frio este fender castanho
este horizonte ao espelho,
faz-me frio o esmalte descascado
a tapar o interior
revelho»
In Inês Lourenço, Cicatriz 100%
Litania
para um limoeiro urbano
«Para mover o céu e os alicerces, partir
velhos caixilhos e cantarias, chega o último
dos morados. Cumprido o tempo das
polpas douradas, o estio das crianças ficará
ainda algum tempo nos retratos
sépia, com hidrângeas e bicicletas, expulso
para sempre o cio dos gatos e o impudor
dos ramos nas florações precoces»
Mural
«A glande macia do pincel molhando o flanco
do doce cimo longe da lonjura,
os olhos e as narinas como asas
do mais belo rosa húmido da vulva,
seios da gemeralidade
da geometria láctea das fontes
e a chuva escorrendo da boca
com os líquenes da permanência».
In Cidália Dinis, Corpo Refectido, Inês Lourenço, Revista da Faculdade de Letras, Línguas e Literaturas, II Série, Volume XXIII, Porto, 2006, [2008], Wikipedia.
Cortesia de RFLPorto/JDACT
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