domingo, 31 de janeiro de 2021

31 em Poesia. Inês Lourenço. «Abro e folheio o grosso volume da última Poesia Toda, a encantar incautos, a palavra toda…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Faz-me frio este Outono

«Faz-me frio este Outono,

a boiar sobre o corpo,

a poesia sem ancas,

a música passada

por ovo e pão ralado, faz-me

frio este fender castanho

este horizonte ao espelho,

faz-me frio o esmalte descascado

a tapar o interior

revelho»

In Inês Lourenço, Cicatriz 100%

 

Litania para um limoeiro urbano

«Para mover o céu e os alicerces, partir

velhos caixilhos e cantarias, chega o último

dos morados. Cumprido o tempo das

polpas douradas, o estio das crianças ficará

ainda algum tempo nos retratos

sépia, com hidrângeas e bicicletas, expulso

para sempre o cio dos gatos e o impudor

dos ramos nas florações precoces»

 

Mural

«A glande macia do pincel molhando o flanco

do doce cimo longe da lonjura,

os olhos e as narinas como asas

do mais belo rosa húmido da vulva,

seios da gemeralidade

da geometria láctea das fontes

e a chuva escorrendo da boca

com os líquenes da permanência».

In Cidália Dinis, Corpo Refectido, Inês Lourenço, Revista da Faculdade de Letras, Línguas e Literaturas, II Série, Volume XXIII, Porto, 2006, [2008], Wikipedia.

Cortesia de RFLPorto/JDACT

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