Sancho II de Portugal. Um Conspecto Historiográfico
Com a devida vénia ao Doutor José Varandas
Fr. António Brandão (1632). Quarta parte da Monarchia Lusitana que conthem a Historia do reyno de Portugal, desde o tempo delRey D. Sancho I, até o reynado delRey D. Affonso III. Lisboa, ed. por Pedro Crasbeek, 1632
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Necessariamente,
era o momento para a composição entre as facções opostas. A eterna questão
sobre os direitos das infantas tinha-se agravado com a intervenção de Afonso IX
de Leão, fragilizando a posição dos tutores do rei. A insustentabilidade de um
estado incapaz de agir e de impor a sua autoridade obrigava a que se iniciassem
conversações. Herculano põe em evidência as dificuldades em que se encontravam
os antigos conselheiros de Afonso II, e agora tutores do pequeno rei e a necessidade
de sair do impasse político em que o reino se encontrava. Segundo Alexandre
Herculano, o clero português colocou sérios entraves ao modelo centralizador de
Afonso II. A sua oposição, motivada pela aplicação violenta das determinações
da coroa, acabou por provocar danos insuportáveis ao aparelho do estado e à
autoridade dos validos do rei. A concórdia com o clero português era vital para
a manutenção do estado e da sua auctoritas.
A concordata com o clero assinada em 1223 é considerada como um feliz aproveitamento
por parte da Igreja das infelizes circunstâncias em que o reino se encontrava.
Sendo verdadeiras as disposições contidas naquele documento, estas abrangiam
muito mais do que uma mera indemnização pecuniária, com efeito o que o arcebispo
pretendia era garantir condições vantajosas nos capítulos da jurisdição e das imunidades
eclesiásticas; a entrega de avultadas somas do tesouro real nos cofres da arquidiocese
representaria o pagamento pelos danos causados pela perturbação que as medidas
de Afonso II tinham causado sobre aqueles direitos da Igreja.
De seguida, comenta criticamente
a ausência de informações sobre os três primeiros anos do reinado de Sancho II
nos historiadores que o antecederam. Parece, afirma, que não viram neles
mais do que o movimento ordinário de um reino pacífico e, contudo, nos
documentos desse período está, bem visível, a existência de uma grande agitação
política. Sinónimo desta agitação é a constante mudança de grandes senhores da
aristocracia portuguesa nos principais cargos da cúria. Essa acelerada sucessão
de validos do rei naqueles cargos contrariava, para Herculano, o quadro
tradicional observável em reinados anteriores, onde os ministros do rei se
mantinham nos cargos durante muito tempo. A que se deve esta mudança na
ocupação dos cargos públicos?
Herculano
atribui-a aos factos ocorridos durante a menoridade do rei, onde o estado
pueril do príncipe era causa dessa vertiginosa alternância de nobres em cargos públicos.
Além do problema levantado pelo estado pueril de Sancho, o autor refere a existência
de tensões e ódios entre a nobreza do reino e os antigos validos de Afonso II,
agora tutores do pequeno rei. A ausência de um poder forte, como tinha sido o
de Afonso II, levava a que os senhores lançassem mão dos mais variados processos
para alcançarem os seus objectivos, atirando o reino para um estado de
desordem. As referências à turbulência social daqueles primeiros tempos do
reinado e às causas que as precipitaram estão dificultadas pela escassez de
documentação para aquele período, mas essa ausência, pode também ser demonstrativa
de um estado fraco e desorganizado, onde os normais procedimentos da chancelaria
são uma das principais vítimas. Para ele cabe ao clero, em especial aos seus
notáveis, o principal papel na perturbação da ordem pública. É nesta estrutura eclesiástica
que os tutores de Sancho e o próprio rei encontram as maiores resistências. As
tentativas de pacificação que definem os inícios do reinado de Sancho II são
alcançadas à custa de grandes concessões por parte da estrutura régia à Igreja
e aos seus prelados e que acabam, num prazo mais longo, por abrir novas frentes
de colisão». In José Varandas, Bonus Rex ou Rex Inutilis, As Periferias e o Centro.
Redes de poder no reinado de Sancho II (1223-1248),Ude Lisboa, FdeLetras,
DdeHistória, Tese de Doutoramento em História, História Medieval, 2003, Wikipedia.
Cortesia de Ude Lisboa/ FdeLetras/ DdeHistória/JDACT
JDACT, José Varandas, História, Cultura e Conhecimento, Universidade,