«(…) Pelo contrário. Um dos pré-requisitos para se tornar maçom é que precisa acreditar numa força superior. A diferença entre a espiritualidade Maçónica e uma religião organizada é que os maçons não impõem a esse poder nenhuma definição específica ou nomenclatura. Em vez de identidades teológicas definitivas como Deus, Alá, Buda ou Jesus, os maçons usam termos mais genéricos como Ser Supremo ou Grande Arquitecto do Universo. Isso possibilita a união de maçons de crenças diferentes. Parece meio esquisito, comentou alguém. Ou, quem sabe, estimulante e libertador? – sugeriu Langdon. Nesta época em que culturas diferentes se matam para saber qual é a melhor definição de Deus, poderíamos afirmar que a tradição maçónica de tolerância e liberdade é louvável. Langdon caminhou pelo tablado. Além do mais, a Maçonaria está aberta a homens de todas as raças, cores e credos, e proporciona uma fraternidade espiritual que não faz qualquer tipo de discriminação.
Não faz discriminação? Uma
integrante da Associação de Alunas da universidade se levantou. Quantas mulheres têm permissão
para serem maçons, professor Langdon? Langdon ergueu as mãos, rendendo-se. Bem
colocado. As raízes tradicionais da Franco-maçonaria são as guildas de pedreiros
da Europa, o que a tornava, portanto, uma organização masculina. Centenas de
anos atrás, há quem diga que em 1703, foi fundado um braço feminino chamado
Estrela do Oriente. Essa organização possui mais de um milhão de integrantes. Mesmo
assim, disse a mulher, a Maçonaria é uma organização poderosa da qual as
mulheres estão excluídas. Langdon não sabia ao certo quão poderosos os maçons ainda eram
e não estava disposto a enveredar por essa seara. As opiniões sobre os maçons
modernos iam de um bando de velhotes inofensivos que gostavam de se
fantasiar..., até um conluio secreto de figurões que controlava o mundo. A
verdade estava sem dúvida em algum lugar entre essas duas concepções.
Professor Langdon, disse um rapaz
de cabelos encaracolados na última fileira, se a Maçonaria não é uma sociedade
secreta, nem uma empresa, nem uma religião, então o que é? Bem, se perguntasse
isso a um maçom, ele daria a seguinte definição: a Franco-maçonaria é um
sistema de moralidade envolto em alegoria e ilustrado por símbolos. Isso me
parece um eufemismo para seita de malucos. Malucos, disse? É isso!, disse o aluno, levantando-se. Sei
muito bem o que eles fazem dentro desses prédios secretos! Rituais esquisitos à
luz de velas, com caixões, forcas e crânios cheios de vinho para beber. Isso, sim, é maluquice! Langdon
correu os olhos pela sala. Alguém mais acha que isso é maluquice? Sim!,
entoaram os alunos em coro. Langdon deu suspiro fingido de tristeza. Que pena.
Se isso é maluco demais para vós, então sei que nunca vão querer entrar para a minha seita. Um silêncio
recaiu sobre a sala. A integrante da Associação de Alunas pareceu incomodada.
O
senhor faz
parte de uma seita? Langdon assentiu com a cabeça e baixou a voz até um
sussurro conspiratório. Não contem para ninguém, mas, no dia em que o deus-sol
Rá é venerado pelos pagãos, eu me ajoelho aos pés de um antigo instrumento de
tortura e consumo símbolos ritualísticos de sangue e carne. A turma toda fez
uma cara horrorizada. Langdon deu de ombros. E, se algum de vós quiser se
juntar a mim, vá à capela de Harvard no domingo, ajoelhe-se diante da cruz e faça
a santa comunhão. A sala continuou em silêncio. Langdon deu uma piscadela. Abram
a mente, meus amigos. Todos nós tememos aquilo que foge à nossa compreensão». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand
Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,