A Piazza Pizzo di Merlo
«(…) Giovanni sabe?,Lucrécia, aos quatro anos, sabia ser
diplomata. Os encantadores olhos claros ficaram sombrios; ela não queria ver a
ira de César; tal como Roderigo, ela desviava o olhar daquilo que era
desagradável. O ardil deu resultado. Eu vou-lhe contar, disse César. Claro que
contaria. Ele não poderia deixar que Giovanni desse a ela algo que ele lhe
tivesse negado. O papa, que você sabe
que é Sisto IV está morrendo. É por isso que eles estão agitados lá, e é por
isso que o tio Roderigo não vem nos visitar. Ele tem muito o que fazer. Quando
o papa morrer, haverá um conclave, e então, irmãzinha, os cardeais vão escoltar
um novo papa. Tio Roderigo está escolhendo; é por isso que ele não pode vir nos
visitar, disse ela. César ficou ali sorrindo para ela. Ele se sentia
importante, um sabe-tudo; ninguém o fazia sentir-se tão inteligente ou
importante quanto sua irmãzinha; era por isso que ele a adorava tanto. Eu
gostaria que ele pudesse escolher depressa e vir nos visitar, acrescentou
Lucrécia. Vou pedir aos santos que façam um novo papa depressa..., para que ele
possa vir visitar-nos. Não, Lucreciazinha. Não peça uma coisa dessas. Em vez
disso, peça o seguinte: peça que o novo papa seja o nosso tio Roderigo. César
soltou uma gargalhada, e ela riu com ele. Havia tanta coisa que ela não
compreendia; mas, apesar da ameaçadora estranheza, apesar da multidão que se
acumulava lá em baixo e da ausência do tio Roderigo, era bom ficar na loggia,
agarrada ao gibão de César, vendo a agitação na praça. Roderigo não foi eleito.
A
agitação, observada pelas crianças, continuou por toda a cidade. O cenário
mudara. Lucrécia ouvia os barulhos da batalha nas ruas lá em baixo, e Vannozza,
aterrorizada, mandou levantar barricadas em volta da casa. Nem mesmo César
sabia exactamente do que se tratava, embora ele e Giovanni, andando pela ala
infantil, não o admitissem. Tio Roderigo só visitava a casa rapidamente, para
assegurar-se de que as crianças estavam seguras. Suas visitas eram, agora,
meramente para ver as crianças; desde o nascimento do pequeno Goffredo, ele
deixara de considerar Vannozza sua amante, e agora havia uma outra criancinha,
Otaviano, que Vannozza nada fazia para que fosse considerada como sendo dele.
Quanto ao pequeno Goffredo, Roderigo estava encantado com ele, que estava se
revelando de todas as formas tão bonito quanto os irmãos mais velhos. Roderigo,
tendo necessidade de filhos e sendo suscpetível a filhos bonitos, na maioria
das vezes tendia a dar a Goffredo o benefício da dúvida, e a atenção dedicada
aos outros era, então, compartilhada pelo garotinho. O pobre do pequeno
Otaviano era o estranho no ninho, ignorado por Roderigo, embora fosse adorado
por Vannozza e por Giorgio. Mas durante aquelas semanas houve pouco tempo até mesmo para lamentar a ausência de
Roderigo; as crianças só podiam olhar para a praça, assombradas com o cenário
em mutação». In Jean Plaidy, Lucrécia Borgia, Edição Record, 1996, ISBN 978-850-104-410-5.
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Jean Plaidy, Itália, Literatura,