«(…) Durante muitas décadas, ou melhor, desde há dois séculos, vários autores portugueses e estrangeiros, incluindo sul e norte--americanos, afirmaram que a primazia na descoberta das ilhas e dos territórios da América era portuguesa: desde Alexander von Humboldt a Hemy Yule Oldham no século XIX, Edgar Prestage e Jaime Cortesão em meados do século XX, Peter W. Dickson em 2002, até aos anos mais recentes, com a publicação em 2015 do livro de John D. Irany Before 1492 – The Portuguese Discovery of America (Amazon, Kindle Edition).
Sabemos claramente que todos os autores
que ousaram defender esta controversa tese foram sempre obrigados a enfrentar a
resistência feroz do establishment intelectual, académico, cultural,
político e mesmo diplomático. Dos historiadores oficiais aos professores do
ensino público e até do ensino privado, políticos, diplomatas e homens de
negócios, a oposição a esta tese foi sempre severa. Todos exigiram provas directas,
nomeadamente provas escritas, e sempre recusaram provas indirectas,
circunstanciais, rejeitando explicações
e enquadramentos baseados no ambiente social, no estado da arte, no espírito do
tempo (zeitgeist), no paradigma tecnológico da época, perspectivas que,
como sabemos, são sempre importantes complementos para consolidar qualquer nova
tese sobre História. Todos exigem provas definitivas, escritas, para poderem
considerar a hipótese da pré-descoberta das Américas pelos navegadores
portugueses, sendo esta uma condição sine qua non para se iniciar uma
eventual discussão sobre o assunto. Com tantas requisitos prévios, a aceitação
da própria tese em si torna-se assim virtualmente impossível, porque haverá sempre
mais uma e outra exigência de provas definitivas, como se as existentes nunca
bastassem...
Mas, de facto, tal conjunto de provas
existe e é cada vez mais volumoso. Como costumamos dizer em bom português, essas
provas sempre estiveram e continuam a estar debaixo dos nossos olhos. O
problema é que, colectivamente, nós continuamos a não as querer ver. Aliás, há
um ditado popular que se aplica na perfeição a esta realidade: o verdadeiro
cego é aquele que não quer ver. É esse o caso dos historiadores oficiais,
para quem, uma versão diferente da oficial sobre a descoberta da América, uma
interpretação alternativa ao feito de Cristóvão Colombo em 1492 nem sequer
merecem a pena ser analisadas, não importa em que argumentos se baseiam, nem
sequer com que provas são fundamentadas.
Em relação à tese da
pré-descoberta das Américas pelos portugueses, poderemos dizer, como disse
Galileo Galilei, no tribunal da Inquisição (maldita) em relação ao planeta Terra e à
posição que este ocupava no sistema solar: Eppur si muove (e, no entanto,
move-se). Há, de facto, uma versão diferente da história da descoberta das
Américas pelos europeus que continua a ser pacientemente tecida por muitos
investigadores independentes e à espera da oportunidade de ser amplamente
conhecida e divulgada. Este ensaio, ou melhor, esta modesta investigação e
interpretação jornalística, é sobre as evidências e as provas concretas da pré-descoberta
das Américas pelos navegadores portugueses.
A
Pré-Descoberta Portuguesa da Península da Florida
Pela primeira vez na História, a
península da Florida aparece claramente desenhada, correctamente posicionada e
com os seus contornos minuciosamente detalhados no primeiro rnapa-múndi digno
desta classificação, o mapa de Henricus -Martellus, de 1490-1491, que, como se sabe,
foi amplamente baseado nas novas descobertas portuguesas no oceano Atlântico. O
mesmo território aparece claramente desenhado no primeiro globo terrestre feito
por Martim Behaim, em Nuremberga, em 1490.
A península da Florida é mostrada
novamente em pormenor no mapa de Cantino de 1501-1502, que reproduziu o chamado
Padrão Real português, o secreto mapa oficial do mundo, rigorosamente guardado
no Terreiro do Paço, em Lisboa, nas caves do palácio do rei Manuel I». In
José Gomes Ferreira, O Segredo da Descoberta Portuguesa das Américas, Oficina
do Livro, chancela LrYa, 2022, ISBN 978-989-661-557-4.
Cortesia de OdoLivro/JDACT