A Pedra do Exílio
Planalto
de Crécy. 26 de Agosto de 1346
«Avançaram
por uma estrada dirigida a sul, aflorando aldeias que se iam esvaziando com receio
do avanço dos ingleses. Montado no próprio cavalo, Maynard vigiava o andar
indolente da égua e a natureza caprichosa de Robert, que aproveitava todas as
oportunidades para dar provas da sua gabarolice. sob aquela aparente rudeza, o
picardo deixava transparecer a frustração de um aristocrata que assistia ao fim
do mundo para o qual sempre vivera, ou julgara viver. O cavaleiro partilhava
aqueles sentimentos, embora tivesse consciência de que não se encontrava nas
mesmas condições. Ao contrário do companheiro, pelo menos ele ainda tinha algo
por que se bater. O amor por Eudeline e o pacto de honra feito com Jane Blannen.
A marcha para sul prosseguiu sem
dificuldades especiais até à manhã do segundo dia, quando Maynard viu
aproximar-se um grande carro coberto. Antes de poder dar conta disso, uma
cortina do habitáculo abriu-se, deixando assomar o rosto de Karel do Luxemburgo.
O príncipe não proferiu uma palavra. Limitou-se a fixá-lo, dirigindo-lhe uma
saudação, seguida de um sorriso hostil. O cavaleiro retribuiu ambos, sem
manifestar receio,mnas manteve-se de sobreaviso até o pano ser corrido e o
carro passar adiante com um estalido de rédeas.
Descon heço o motivo, e comentou
Vermandois, quase ciumento de não ter beneficiado da mesma atenção, mas estou
disposto a jurar que entre vós e o príncipe não corre bom sangue.
Maynard fez um gesto displicente.
Impressão
vossa, senhor, e continuou a trote, como se nada fosse». In Marcello Simoni, A Abadia
dos Cem Pecados, 2014, tradução de Inês Guerreiro, Clube do Autor, 2016, ISBN
978-989-724-278-6.
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