quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Carlota Joaquina. O Pecado Espanhol. Marsilio Cassotti. «De maneira que a infanta espanhola acabou por se transformar numa espécie de substituta das duas meninas, numa idade em que podia perfeitamente ser sua neta»

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Os caprichos de uma Infanta (1785-1790)

«(…) Entretanto, a princesa do Brasil começou a tomar banhos do Tejo, para ver se desse modo fortalecia a sua saúde e conseguia dar um descendente ao seu marido. Já tinha feito 40 anos e eram muitos os que pensavam que isso já não aconteceria.

Mas o tema da doença da princesa foi rapidamente substituído por outro que preocupava quase todas as cortes europeias, o chamado assunto do colar, uma vulgar intriga cortês que se tinha transformado num autêntico caso político em França, quando Maria Antonieta aceitou um valiosíssimo colar de diamantes de uns joelheiros sem escrúpulos.

Com o veemente desejo de provar a sua inocência, indo contra o parecer dos ministros do seu marido, a rainha exigiu que os responsáveis fossem julgados publicamente pelo Parlamento de Paris, apenas para se deparar com uma desagradável surpresa, uma vez que a mais prestigiosa das instituições judiciais do reino absolveu a pessoa que ela considerava culpada. Depois de anos a ser criticada por ser frívola, a sua reputação política ficou destruída.

No seio da família real portuguesa, informada dos acontecimentos através do seu embaixador em Versalhes, ninguém conseguiu prever quais podiam ser as graves consequências deste processo, o qual constituía uma bofetada na monarquia absoluta na cara da rainha.

Naquele momento, a morte de Pedro fez com que os Bragança se recolhessem na intimidade, o que por sua vez provocou uma intensificação da relação que dona Maria tinha com a sua pequena nora. Carlota ia conquistando assim o coração da sua soberana, ao ponto de esta querer sempre que ela a acompanhasse nas suas saídas. Será conveniente recordar que das três filhas que tinha tido dona Maria, duas tinham morrido quando eram pequenas, tendo uma delas a mesma idade que Carlota tinha naquele momento. E a terceira tinha sido obrigada a ir para Espanha para se casar com o infante Gabriel. De maneira que a infanta espanhola acabou por se transformar numa espécie de substituta das duas meninas, numa idade em que podia perfeitamente ser sua neta.

Foram, por exemplo, juntas à Casa Pia, instituição fundada em 1780 a pedido da rainha, e onde durante a sua primeira visita a infanta se mostrou muito interessada pelos instrumentos matemáticos, segundo dízia a Gazeta de Lisboa. Foram também juntas tomar banhos nas Caldas, coisa que normalmente a soberana fazia a partir de princípios de Junho». In Marsilio Cassotti, Carlota Joaquina, O Pecado Espanhol, tradução de João Boléo, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2009, ISBN 978-989-626-170-2.

 Cortesia EdosLivros/JDACT

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