quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Carlota Joaquina. O Pecado Espanhol. Marsilio Cassotti. «… tanto e contou-lhe igualmente que nessa mesmâ manhã o ministro de Estado tinha ido até ao palácio para a ver dançar, tendo ficado muito admirado porque sua Alteza tinha dançado como uma pintura»

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Os caprichos de uma Infanta (1785-1790)

«(…) Nesses exmes, a infanta dissertou sobre dogmas, mistérios, Doutrina da nossa Santa Fé e Religião, história sagrada, geografia, gramática e língua portuguesa e gramática latina, incluindo os Comentários de Júlio César. Tudo isso tão completamente, que não se pode expressar o que deve causar uma instrução tão vasta numa idade tão tenra, segundo a Gazeta de Lisboa. Este periódico, além disso, não deixava de destacar a prodigiosa memória, compreensão e desembaraço da infanta.

No dia seguinte a moça de retrete escreveu à sua senhora. A verdade é que todos, ficaram muito admirados, pois não acreditavam que sabià tanto e contou-lhe igualmente que nessa mesmâ manhã o ministro de Estado tinha ido até ao palácio para a ver dançar, tendo ficado muito admirado porque sua Alteza tinha dançado como uma pintura.

Por outro lado, a princesa das Astúrias escreveu ao padre Filipe uma carta na qual dava graças a Deus pelo facto de ele e da pequena terem saído vitoriosos nos exames, embora se manifestasse um pouco surpreendida porque para premiar Carlota na corte lhe ofereceram uns cachorros, já que, conhecendo a sua filha, não lhe parecia adequado e augurava um final triste: Pobres animalzinhos, rapidamente chegarão ao fim estando em tais mãos.

Não obstante a visão um pouco céptica que por vezes se vislumbra

nas palavras da mãe, Carlota saberia dar exemplo de um controlo de si própria que em mais de uma ocasião assombraria Maria Luísa. Com efeito, em resposta a uma carta do padre Filipe de inícios de Janeiro de 1786, na qual este comentava que Carlota tinha resistido inteira, até às três da madrugada durante a missa de Natal, a princesa das Astúrias gabava-se de que a sua filha a tinha superado, uma vez que ela na sua vida nunca tinha podido ouvir a Missa do Galo completa, presumivelmente porque se cansava ou adormecia antes do final.

Com a chegada do novo ano, começou a ouvir-se rumores em Lisboa sobre o delicado estado de saúde da princesa do Brasil. No entanto, para surpresa dos que esperavam a sua morte, a 25 de Maio de 1786 ficou a saber-se a notícia de que a morte tinha levado o rei Pedro, consorte de dona Maria.

É provável que no palácio tivesse surgido uma pequena epidemia, porque nesse mesmo dia Michelini escreveu à rainha para a informar que Carlota tinha uma febre muito alta, se bem que o seu estado não inspirasse grande preocupação porque estava de boa cor, gorda e continuava a beber leite de burra. Informava igualmente que Carlota prosseguia as suas lições com o padre Filipe, mas não as de música nem as de dança, que pensava retomar quando passasse um mês sobre a morte do rei». In Marsilio Cassotti, Carlota Joaquina, O Pecado Espanhol, tradução de João Boléo, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2009, ISBN 978-989-626-170-2.

Cortesia EdosLivros/JDACT

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