sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Os Banqueiros de Deus. Gerald Posner. «Em 1950, Spada tornou-se um símbolo das relações emaranhadas entre o Vaticano e o sector privado italiano. Era administrador ou director em mais de trinta empresas…»

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Não é papa nenhum
«(…) Mas Nogara queria mais do que investimentos. Procurava também influenciar a forma como as empresas eram geridas. Investimentos consideráveis estavam condicionados à disponibilização de pelo menos um lugar no conselho administrativo. Enrico Galeazzi (mais tarde um conde papal) era o principal arquitecto do Vaticano, amigo pessoal do cardeal Spellman e membro do conselho mais próximo de Pio XII. Nogara indicou Galeazzi como um dos administradores do Vaticano na SGI, no Banco de Roma, no Credito Italiano e no gigante dos seguros RAS. Marcantonio Pacelli, outro sobrinho de Pio XII, integrava o conselho de administração de muitas empresas, incluindo a SGI, Giulio Pacelli, outro sobrinho, integrava também inúmeras administrações, incluindo a da Italgas e do banco BC1. Carlo Presenti, presidente de dois bancos importantes, tornou-se o administrador nomeado pela Igreja na Italcementi. Por seu turno, Presenti escolheu Massimo Spada para ser administrador e vice-presidente dos seus bancos. Nogara guardou para si a administração das empresas que considerava candidatas sérias à mudança de rumo ou com as quais mantinha relacionamentos de longa data, entre as quais se incluíam o gigante químico Montecanti, o conglomerado hidroelétrico SIP, a seguradora Generale Immobiliare, e o fornecedor de tubagens para água Società Italiana per Condotte d’Acqua. Estas nomeações junto de conselhos administrativos de empresas de topo significavam que o Vaticano desempenhava um papel histórico em negócios que teriam sido impensáveis meras décadas antes.
Em 1950, Spada tornou-se um símbolo das relações emaranhadas entre o Vaticano e o sector privado italiano. Era administrador ou director em mais de trinta empresas, incluindo os gigantes dos seguros Generali e RAS (o Vaticano reinvestira em ambos), a Banca di Roma, a Mediobanca, a Finelettrica, a Italmobiliare, a Finmeccanica e a Italcementi. O mercado bolsista italiano é controlado por cerca de vinte empresas financeiras com propriedade de tal forma entrelaçada que os seus administradores respondem sobretudo a si mesmos, referiu a Time num artigo sobre as incestuosas finanças italianas (Volpi acreditou que seria necessária uma geração para reconstruir o sector dos seguros italiano devastado pela guerra. Mas os Aliados queriam que todos os sectores, incluindo o dos seguros, fossem revitalizados com maior rapidez, preocupados com a Guerra Fria. Revitalizar o sector privado em Itália e na Alemanha era a forma de assegurar que os partidos comunistas nestes países não conseguiam beneficiar da exploração dos terríveis relatos de pobreza e paralisia económica do pós-guerra. Os Aliados devolveram a gestão do sector privado aos italianos em 1947. A Generali funcionava a pleno gás meses depois, com todos os seus activos apoiados por empresas americanas. Mesmo que o comando militar americano se tivesse queixado de que a nova liderança da Generali incluísse alguns fascistas convictos, deixara de ter a jurisdição necessária para fazer alguma coisa a esse respeito).
A dúvida no Vaticano era perceber qual dos homens que trabalharam para Nogara lhe sucederia. Antes da guerra, houvera especulação alargada de que Giovanni Fummi executivo da Morgan, seria o seu substituto. O patrício Fummi representara Volpi, o Vaticano e a maior parte dos aristocratas italianos. Mas Nogara vivera tempo suficiente para que Fummi, apenas um ano mais jovem, se tivesse tornado demasiado velho. Preparando o terreno para o seu sucessor eventual desde o início da década de cinquenta, Nogara formou um núcleo de conselheiros financeiros católicos. Estes novos consultores eram informalmente conhecidos como uomini di fiducia, homens de confiança. Há muito que os papas usavam Nobres Negros para os auxiliarem nos negócios. Bernardino socorrera-se durante décadas de um círculo de conselheiros próximos, composto por homens como Fummi e Volpi, conselheiros de confiança e parceiros de negócios ocasionais. Nogara esperou que os homens de confiança fundissem os melhores traços dos Nobres Negros e dos seus conselheiros próprios. Decretou que deveriam ser banqueiros ou financeiros de topo, escolhidos pela sua lealdade e habilidade. E pensou que seria importante que não trabalhassem para a Igreja, esperando que a sua independência pudesse libertá-los da asfixiante burocracia da Cúria e das guerras fracturantes pelo poder. As primeiras escolhas de Nogara foram dois sobrinhos de Pio, Giulio e Marcantonio Pacelli». In Gerald Posner, Os Banqueiros de Deus, 2015, Editora Self-Desenvolvimento Pessoal, 2015, ISBN 978-989-878-155-0.

Cortesia de Self/JDACT