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Não
é papa nenhum
«(…)
Mas Nogara queria mais do que investimentos. Procurava também influenciar a
forma como as empresas eram geridas. Investimentos consideráveis estavam
condicionados à disponibilização de pelo menos um lugar no conselho administrativo.
Enrico Galeazzi (mais tarde um conde papal) era o principal arquitecto do
Vaticano, amigo pessoal do cardeal Spellman e membro do conselho mais próximo
de Pio XII. Nogara indicou Galeazzi como um dos administradores do Vaticano na
SGI, no Banco de Roma, no Credito Italiano e no gigante dos seguros RAS. Marcantonio
Pacelli, outro sobrinho de Pio XII, integrava o conselho de administração de
muitas empresas, incluindo a SGI, Giulio Pacelli, outro sobrinho, integrava
também inúmeras administrações, incluindo a da Italgas e do banco BC1. Carlo
Presenti, presidente de dois bancos importantes, tornou-se o administrador
nomeado pela Igreja na Italcementi. Por seu turno, Presenti escolheu Massimo
Spada para ser administrador e vice-presidente dos seus bancos. Nogara guardou
para si a administração das empresas que considerava candidatas sérias à
mudança de rumo ou com as quais mantinha relacionamentos de longa data, entre
as quais se incluíam o gigante químico Montecanti, o conglomerado hidroelétrico
SIP, a seguradora Generale Immobiliare, e o fornecedor de tubagens para água
Società Italiana per Condotte d’Acqua. Estas nomeações junto de conselhos
administrativos de empresas de topo significavam que o Vaticano desempenhava um
papel histórico em negócios que teriam sido impensáveis meras décadas antes.
Em
1950, Spada tornou-se um símbolo das relações emaranhadas entre o Vaticano e o
sector privado italiano. Era administrador ou director em mais de trinta
empresas, incluindo os gigantes dos seguros Generali e RAS (o Vaticano
reinvestira em ambos), a Banca di Roma, a Mediobanca, a Finelettrica, a Italmobiliare,
a Finmeccanica e a Italcementi. O mercado bolsista italiano é controlado por
cerca de vinte empresas financeiras com propriedade de tal forma entrelaçada
que os seus administradores respondem sobretudo a si mesmos, referiu a Time
num artigo sobre as incestuosas finanças italianas (Volpi acreditou que seria
necessária uma geração para reconstruir o sector dos seguros italiano devastado
pela guerra. Mas os Aliados queriam que todos os sectores, incluindo o dos
seguros, fossem revitalizados com maior rapidez, preocupados com a Guerra Fria.
Revitalizar o sector privado em Itália e na Alemanha era a forma de assegurar
que os partidos comunistas nestes países não conseguiam beneficiar da exploração
dos terríveis relatos de pobreza e paralisia económica do pós-guerra. Os
Aliados devolveram a gestão do sector privado aos italianos em 1947. A Generali
funcionava a pleno gás meses depois, com todos os seus activos apoiados por
empresas americanas. Mesmo que o comando militar americano se tivesse queixado
de que a nova liderança da Generali incluísse alguns fascistas convictos, deixara
de ter a jurisdição necessária para fazer alguma coisa a esse respeito).
A
dúvida no Vaticano era perceber qual dos homens que trabalharam para Nogara lhe
sucederia. Antes da guerra, houvera especulação alargada de que Giovanni Fummi
executivo da Morgan, seria o seu substituto. O patrício Fummi representara
Volpi, o Vaticano e a maior parte dos aristocratas italianos. Mas Nogara vivera
tempo suficiente para que Fummi, apenas um ano mais jovem, se tivesse tornado
demasiado velho. Preparando o terreno para o seu sucessor eventual desde o
início da década de cinquenta, Nogara formou um núcleo de conselheiros financeiros
católicos. Estes novos consultores eram informalmente conhecidos como uomini di fiducia, homens de confiança.
Há muito que os papas usavam Nobres Negros para os auxiliarem nos negócios.
Bernardino socorrera-se durante décadas de um círculo de conselheiros próximos,
composto por homens como Fummi e Volpi, conselheiros de confiança e parceiros
de negócios ocasionais. Nogara esperou que os homens de confiança fundissem os
melhores traços dos Nobres Negros e dos seus conselheiros próprios. Decretou
que deveriam ser banqueiros ou financeiros de topo, escolhidos pela sua
lealdade e habilidade. E pensou que seria importante que não trabalhassem para a
Igreja, esperando que a sua independência pudesse libertá-los da asfixiante
burocracia da Cúria e das guerras fracturantes pelo poder. As primeiras
escolhas de Nogara foram dois sobrinhos de Pio, Giulio e Marcantonio Pacelli». In
Gerald Posner, Os Banqueiros de Deus, 2015, Editora Self-Desenvolvimento
Pessoal, 2015, ISBN 978-989-878-155-0.
Cortesia de Self/JDACT