domingo, 15 de maio de 2022

Igreja da Misericórdia de Olivença. Maria do Rosário Cordeiro Carvalho. «Os painéis revestem a totalidade dos panos murários, envoltos por cercaduras rectilíneas decoradas por enrolamentos de acantos…»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia à Doutora Rosário Cordeiro Carvalho

 Os azulejos com representações de obras de misericórdia

«(…) A igreja da Misericórdia de Olivença exibe um conjunto de representações azulejares de obras de misericórdia corporais, com evidentes diferenças de tratamento entre os painéis do sub-coro / nave e da capela-mor. Estas diferenças manifestam-se, também, ao nível iconográfico, pois há temas que se repetem nos dois espaços, indiciando a possibilidade de se estar perante programas distintos, concebidos de forma independente. No sub-coro e nave foram seleccionadas apenas quatro obras, curar os enfermos, dar de comer aos famintos, cobrir os nus e dar de beber aos que têm sede. Na capela-mor, surgem seis obras, com maior ênfase para curar os enfermos, cobrir os nus, dar de comer aos famintos e enterrar os mortos.

Em cartelas inferiores figura dar de beber aos que têm sede e dar pousada aos peregrinos e pobres. A questão dos presos e cativos ficou excluída deste programa.

Os painéis do sub-coro e nave

Os painéis revestem a totalidade dos panos murários, envoltos por cercaduras rectilíneas decoradas por enrolamentos de acantos. Na zona inferior dos painéis do sub-coro, as mísulas nas extremidades, enquadram as cartelas ladeadas por anjos, com a referência bíblica à cena representada. Na nave, as mesmas mísulas definem zonas intermédias onde figuram pelicanos, sendo a tarja inferior da cercadura interrompida por dois anjos e uma cartela com a citação bíblica, em latim. Assim, não há uma identificação directa da obra de misericórdia que figura em cada um dos painéis, mas a alusão à passagem bíblica que a inspirou contribui para tornar mais evidente o sentido da representação. Note-se a preferência clara pelas referências ao Antigo Testamento.

A disposição na igreja deste conjunto de obras parece não obedecer a critérios conhecidos, facto agravado pela inexistência de qualquer indicação sobre o seu número ou enunciado. Em todo o caso, e tomando a preposição dos textos que inspiraram outros programas do género, observa-se que a primeira obra seria a da nave do lado do Evangelho, evoluindo no sentido dos ponteiros do relógio para terminar no sub-coro, do mesmo lado. Por outro lado, existem enunciados em que a primeira obra é curar os enfermos, seguindo a mesma ordem de Olivença, também no sentido dos ponteiros do relógio, começando no sub-coro do lado do Evangelho mas saltando os cativos para dar lugar aos nus. O único texto inventariado que respeita uma leitura circular, com início no sub-coro do lado do Evangelho e término do lado oposto, é a obra de Jerónimo Ripalda, Doctrina Christiana com una exposición breve, escrita em 1591. Enfim, como se verá no final deste texto, a opção que parece ganhar mais força e consistência é a que privilegia a complementaridade entre ambos os panos murários do sub-coro e da nave, mas também do coro alto.

A primeira representação do sub-coro refere-se a curar os enfermos, e tem como mote a cura do paralítico na piscina de Betzatá. A cartela transcreve a passagem do Evangelho de São João, indicando tratar-se do versículo 7 do capítulo 5, embora, na verdade, a citação corresponda ao versículo 6: VIS SANUS FIERE Joan. Cap. 5º v 727 / Jesus, ao vê-lo prostrado e sabendo que já levava muito tempo assim, disse-lhe: Queres ficar são? O painel consegue uma síntese de grande interesse da versão de São João, ilustrando boa parte dos pormenores relatados, que diferem dos textos dos restantes três evangelistas.

A piscina de Betzatá ou Betesdá (Casa da Misericórdia) era um local frequentado por enfermos e aleijados que aí permaneciam na esperança de um milagre: um anjo deveria, de tanto em tanto tempo, agitar a água e o que submergisse primeiro ficaria curado. Estava longe de ser uma tarefa fácil para quem tinha dificuldade de locomoção, sendo sempre ultrapassados pelos mais ágeis, razão pela qual Jesus interveio a favor de um paralítico. A piscina pode estar associada, simultaneamente, ao Baptismo e à ideia de purificação pela água, do nascer de novo, neste caso para uma vida sem problemas físicos mas também espirituais: Não peques mais, para que não te suceda coisa pior (Jo 5, 14). Este episódio marca, ainda, o início da perseguição dos Judeus a Jesus, pois Este curou o paralítico a um sábado, o que era contra a lei». In Maria do Rosário Cordeiro Carvalho, Igreja da Misericórdia de Olivença, Caso de Estudo, Wikipédia.

Cortesia de wikipedia

JDACT, Maria do Rosário Cordeiro Carvalho, Caso de Estudo, Castelo de Vide, Património, Conhecimento,