Com a devida vénia à Doutora Rosário Cordeiro Carvalho
«(…)
A igreja da Misericórdia de Olivença exibe um conjunto de representações
azulejares de obras de misericórdia
corporais, com evidentes diferenças de tratamento entre os painéis do
sub-coro / nave e da capela-mor. Estas diferenças manifestam-se, também, ao nível
iconográfico, pois há temas que se repetem nos dois espaços, indiciando a
possibilidade de se estar perante programas distintos, concebidos de forma
independente. No sub-coro e nave foram seleccionadas apenas quatro obras, curar os enfermos, dar de comer aos famintos, cobrir os nus e dar de beber aos que têm sede. Na
capela-mor, surgem seis obras,
com maior ênfase para curar os
enfermos, cobrir os nus, dar de comer aos famintos e enterrar os mortos.
Em cartelas inferiores figura dar de beber aos que têm sede e dar pousada aos peregrinos e pobres.
A questão dos presos e cativos ficou excluída deste programa.
Os
painéis do sub-coro e nave
Os painéis revestem a totalidade
dos panos murários, envoltos por cercaduras rectilíneas decoradas por
enrolamentos de acantos. Na zona inferior dos painéis do sub-coro, as mísulas
nas extremidades, enquadram as cartelas ladeadas por anjos, com a referência bíblica
à cena representada. Na nave, as mesmas mísulas definem zonas intermédias onde figuram
pelicanos, sendo a tarja inferior da cercadura interrompida por dois anjos e
uma cartela com a citação bíblica, em latim. Assim, não há uma identificação
directa da obra de misericórdia
que figura em cada um dos painéis, mas a alusão à passagem bíblica que a inspirou
contribui para tornar mais evidente o sentido da representação. Note-se a
preferência clara pelas referências ao Antigo Testamento.
A disposição na igreja deste
conjunto de obras parece
não obedecer a critérios conhecidos, facto agravado pela inexistência de
qualquer indicação sobre o seu número ou enunciado. Em todo o caso, e tomando a
preposição dos textos que inspiraram outros programas do género, observa-se que
a primeira obra seria a
da nave do lado do Evangelho, evoluindo no sentido dos ponteiros do relógio
para terminar no sub-coro, do mesmo lado. Por outro lado, existem enunciados em
que a primeira obra é curar os enfermos, seguindo a
mesma ordem de Olivença, também no sentido dos ponteiros do relógio, começando
no sub-coro do lado do Evangelho mas saltando os cativos para dar lugar aos nus. O único texto inventariado que respeita uma leitura
circular, com início no sub-coro do lado do Evangelho e término do lado oposto,
é a obra de Jerónimo Ripalda, Doctrina
Christiana com una exposición breve, escrita em 1591. Enfim, como se
verá no final deste texto, a opção que parece ganhar mais força e consistência
é a que privilegia a complementaridade entre ambos os panos murários do
sub-coro e da nave, mas também do coro alto.
A primeira representação do
sub-coro refere-se a curar os enfermos, e tem como mote a cura do paralítico na
piscina de Betzatá. A cartela transcreve a passagem do Evangelho de São João,
indicando tratar-se do versículo 7 do capítulo 5, embora, na verdade, a citação
corresponda ao versículo 6: VIS SANUS
FIERE Joan. Cap. 5º v 727 / Jesus, ao vê-lo prostrado e
sabendo que já levava muito tempo assim, disse-lhe: Queres ficar são? O painel consegue uma síntese de grande
interesse da versão de São João, ilustrando boa parte dos pormenores relatados,
que diferem dos textos dos restantes três evangelistas.
A piscina de Betzatá ou Betesdá
(Casa da Misericórdia) era um local frequentado por enfermos e aleijados que aí
permaneciam na esperança de um milagre: um anjo deveria, de tanto em tanto
tempo, agitar a água e o que submergisse primeiro ficaria curado. Estava longe
de ser uma tarefa fácil para quem tinha dificuldade de locomoção, sendo sempre ultrapassados
pelos mais ágeis, razão pela qual Jesus interveio a favor de um paralítico. A piscina
pode estar associada, simultaneamente, ao Baptismo e à ideia de purificação
pela água, do nascer de novo, neste caso para uma vida sem problemas físicos
mas também espirituais: Não peques mais, para que não te suceda coisa pior (Jo
5, 14). Este episódio marca, ainda, o início da perseguição dos Judeus a Jesus,
pois Este curou o paralítico a um sábado, o que era contra a lei». In Maria
do Rosário Cordeiro Carvalho, Igreja da Misericórdia de Olivença, Caso de
Estudo, Wikipédia.
Cortesia de wikipedia
JDACT, Maria do Rosário Cordeiro Carvalho, Caso de Estudo, Castelo de Vide, Património, Conhecimento,