«… existe
entre as sociedades humanas um certo óptimo de diversidade além do qual elas
não conseguiram prosseguir, mas abaixo do qual tampouco podem descer sem
perigo, deve-se reconhecer que essa diversidade resulta em grande parte do
desejo de cada cultura de se opor às que a cercam, de distinguir-se delas, em
suma, de serem elas mesmas; não se ignoram, imitam-se ocasionalmente, mas, para
não perecerem, é necessário que, sob outros aspectos, persista entre elas uma
certa impermeabilidade»
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Descubrimientos de los Portugueses Anteriores al Viaje de Colon. Conferência. Oliveira Martins. «… navegaciones portuguesas de los siglos XIV y XV pudiesen brotar abruptamente de los planes y del genio de un hombre, aunque ese hombre fuese, como fué, grandemente heroico el infante D. Enrique»
Señores:
«De todo corazón
agradezco la honra que el Ateneo me dispensa eligiéndome para narrar á esta Asamblea
ilustre lo que fueron las navegaciones portuguesas anteriores al viaje de Colón.
Quiso el destino que Portugal rehusase los ofrecimientos y resistiese á las tentaciones
del gran navegante que dio á Castilla las Américas quién sabe? para que en esas propias Américas, simultáneamente
labradas por nosotros, estos dos pueblos hermanos apareciesen también vecinos y
también hermanados por los vínculos luminosos que los enlazan sobre los pedestales
de la Historia. Cuando se observa, señores, el contorno de la Península hispana
delineando un cuadrado casi perfecto, y en ese cuadrado la zona portuguesa que bordea,
aunque incompletamente, la faz occidental, desde luego se comprende cómo los pueblos
de la España, separados en varios reinos, que al fin vinieron á fijarse en dos,
representan en el mundo uno solo é igual pensamiento, una sola y soberana acción.
Ese pensamiento y acción
se realizaron en los descubrimientos ultramarinos, que también estaban indicados
como destino á las naciones poseedoras de la Península extrema del occidente europeo.
Cualquiera que fuese el carácter psicológico de esos pueblos, el hecho físico de
su localización litoral, determinaria la naturaleza de su papel histórico. Así es
que vemos á los frisios y á los jutes, ramos de la familia germánica, tan diversa
por temperamento de la española, concurrir con ella en la exploración ultramarina,
por lo mismo que también les fué destinado en Europa un lugar litoral sobre el mar
del Norte. Pero si la fuerza de las cosas así impelía á las naciones peninsulares,
no por eso cada una dejaba de colaborar en la obra común con sus dotes y cualidades
peculiares. Mientras el castellano iniciaba de un golpe su empresa, rasgando de
parte á parte el Océano en esa aventura genial de hace cuatro siglos, nosotros los
portugueses íbamos pausada y pacientemente á lo largo de las costas africanas ó
de isla en isla, en ese propio mar que Colón surcó como un rayo, caminando paso
á paso, avanzando siempre, con una audacia tan perseverante como prudente.
Un mismo destino, un mismo
norte, una única ambición nos movía, no obstante, á ambos: era la India. Y cuando cada
una de las naciones peninsulares halló sus
Indias, el carácter del dominio, la naturaleza de la ocupación y las fisonomías
de los héroes de ambos países, siempre iguales en el espíritu proselítico, siempre
idénticos en la acción dominadora, encuentran, sin embargo, fórmulas diversas con
que se acentúan de un modo imposible de confundir. Y todavía, de cualquier forma,
con la candidez y con la audacia, con férrea violencia, y con tenacidad de bronce,
con el amor y con el imperio; cada cual con sus dotes propios, caminábamos ambos
á un destino común, colaborando en una idêntica empresa, coronándonos recíprocamente
con una aureola de gloria que marcará en todo y siempre, mientras haya memoria de
hombres, nuestros pasos por el teatro infinito de los siglos.
Señores:
Ya nadie hoy se atreve á
suponer que hechos tan considerables como fueron las navegaciones portuguesas
de los siglos XIV y XV pudiesen brotar abruptamente de los planes y del genio
de un hombre, aunque ese hombre fuese, como fué, grandemente heroico el infante
D. Enrique. La señal de los héroes es la intuición con que sienten y perciben pulsear
el alma de un pueblo, y encarnándola en sí, se vuelven como símbolo nacional. Por
tal motivo, mucho tiempo pasaron por creadores.
No es así. El viejo aforismo
ex
nihilo nihil, en punto alguno se demuestra más exacto que en éste; y así
es que, antes de acercarnos nosotros á la figura grandiosa del infante D. Enrique,
hemos de estudiar con minuciosa paciencia el desenvolvimento colectivo y obscuro
de los elementos con que pudo y supo levantar el edificio de gloria suma de
toda la España, porque fué de ese nido de águilas plantado en Sagres que saheron
todos, absolutamente todos los navegantes peninsulares». In J. P. Oliveira Martins, Navegaciones
y Descubrimientos de los Portugueses Anteriores al Viaje de Colon, Conferência,
leída el dia 24 de Febrero de 1892, Ateneo de Madrid, Sucesores de Rivadeneyra,
Madrid, 1892.
Cortesia de AteneoMadrid/JDACT
Os Ciganos de Portugal com um Estudo sobre o Calão. Adolpho Coelho. «’Calão, gira, gíria ou geringonça’ são os termos com que em português se designa o vocabulário especial dos criminosos de profissão, fadistas, contrabandistas, garotos e outra gente de hábitos duvidosos…»
Considerações Gerais
«(…) Os 484 termos ou formas do rumanho
reunidos em o nosso Vocabulário
classificam-se, em quanto á sua origem próxima, do modo seguinte:
- 353 encontram-se também no gitano, em geral sem diferença considerável de sentido ou de forma;
- 3 não se encontram nos vocabulários gitanos que temos á mão, mas occorrem noutros dialectos tsiganos (bato, bibiora, tarní);
- 68 são derivados de palavras hispanholas ou portuguesas;
- 8 são palavras portuguesas ou hispanholas de significação alterada ou especialisada (andantes, aparador, arboleo, bicha, churon (?), frumachos (?), guenassuertes, tarrosa). Vid. também apatuscos, patuque e patusco;
- 1 (culebra) provém da germania;
- 1 (ancia) provém da germania ou do calão;
- 1 é uma forma portuguesa muito alterada foneticamente, mulla.
- 47 são de origem para mim incerta ou desconhecida. Talvez que nova investigação do gitano e dos outros dialectos tsiganos prove a origem tsigana de alguns desses termos, parte dos quaes tem aspecto que a faz suspeitar.
O calão e a língua dos ciganos
Tem-se confundido muitas
vezes a linguagem dos tsiganos em geral com o calão. Sabemos já o
que é a primeira; vejamos o que é o segundo e se entre uma e outro existem
quaesquer relações. Calão, gira, gíria ou
geringonça são os termos com que em português se designa o vocabulário
especial dos criminosos de profissão, fadistas, contrabandistas, garotos e outra
gente de hábitos duvidosos, que por aquelle meio buscam não ser entendidos da
sociedade geral. Por extensão dão-se ainda aquelles mesmos nomes á terminologia
especial de uma classe, de uma profissão licita, e sobretudo ao conjuncto de
termos particulares, muitas vezes de caracter cómico, que usam certos grupos
sociaes, como os estudantes, os actores, os pintores, os pedreiros, os
typographos, os soldados.
O calão ou giria não é um dialecto:
tem palavras alteradas phoneticamente, sem duvida, mas por processos geralmente
distinctos dos que caracterisam a alteração phonetica dialectal; não tem em regra
nem morphologia nem syntaxe que o separem da lingua geral em que por assim
dizer se encrava. Uma outra differença fundamental separa demais o calão dos dialectos; naquelle as
transformações próprias são geralmente queridas, intencionaes; nestes as transformações
são geralmente espontâneas, inintencionaes. Ha duas espécies de giria: numa as alterações são puramente phoneticas
só a matéria da palavra se modifica; noutras accrescem ás transformações dessa
espécie, que então se tornam menos numerosas, modificações morphologicas e semanticas
(de significação). Da primeira espécie é uma giria usada entre nós pelas creanças nos collegios, que consiste em
accrescentar a cada syllaba de uma palavra uma outra constituída por um g ou p seguido da vogal daquella syllaba; assim tu queres ir a casa torna-se tu-pu
qué-pé-rés-pés ir-pir a-pa cápá-za-pa.
Os caixeiros da Baixa,
em Lisboa, usavam e usam ainda provavelmente uma giria do mesmo género, mas mais perfeita, que consistia numa
inversão de consoantes: não quero ir
passear hoje tornava-se ãon' reco
ri sapear johe. Essa giria
era fallada e entendida com muita facilidade pelos iniciados. Os principaes
processos das girias do segundo
género serão estudados depois. Essas girias
podem ser denominadas de vocabulário particular.
Tendo definido o que
deve entender-se por calão ou giria, examinemos agora a origem d'estas
palavras. Os hispanhoes denominam as mesmas linguagens artificiaes com o termo germanía, e tinham o synonymo antiquado gerigonza, giringonza, xeringonça;
os francezes com os termos jargon e argot; os italianos com os termos gergo e lingua furbesca; os
inglezes com o termo cant; os
allemães com o termo Rothwelsh (á letra,
italiano vermelho), os hollandezes com a expressão bargoensch ou dieventael (á
letra, lingua de ladrões), os russos com o vocábulo afinskoe, os tcheques com a palavra hantyrka.
O termo calão como synonymo
de giria parece não ter correspondente
phonetico fora de Portugal; a sua etymologia é todavia muito transparente: calão,
propriamente, quer dizer cigano, lingua de
cigano; é um termo com que os ciganos do nosso país ainda hoje se designam.
A palavra gira, giria liga-se, ao que parece, a gerigonça,
giringonça, que como vimos se encontrava
também em hispanhol, ao francez jargon,
provençal gergonz, e ao italiano gergo, gergone. A etymologia desses termos oferece bastantes dificuldades».
In
Adolpho Coelho, Os Ciganos de Portugal, Com um Estudo sobre o Calão, Sociedade
de Geografia de Lisboa, Congresso Internacional dos Orientalistas, SSGL,
Imprensa Nacional, Lisboa, 1892.
Cortesia de IN/JDACT
Noite de 15 de Julho de 1900. Conferência Pública. Atheneu Commercial de Lisboa. Alexandre Herculano. Diogo Rosa Machado. «… o facto da igreja ter posto este homem feroz; cruel e sanguinário no número dos santos não impediu Herculano de pintá-lo com toda a fidelidade»
«(…) O amor da verdade e
da justiça predominava de tal modo em Herculano que seria capaz de sacrificar-lhe
todos os outros affectos do seu coração; elle punha a verdade acima de tudo.
Herculano nunca teve em mira sacrificar a sua consciência ao serviço de
qualquer seita ou partido; no seu rigoroso espirito a paixão pela verdade estava
acima da religião e do patriotismo. A grande imparcialidade com que Herculano
apreciava não só os papas mas também aquelles homens a quem a igreja canonizou,
mostra-nos evidentemente que o espirito catholico não suffocou nelle a paixão
mais nobre do verdadeiro historiador, o amor da verdade. O seguinte trecho do
segundo volume da Historia de Portugal é uma prova da veracidade da minha
asserção: ao passo que um homem de génio,
Innocencio III, se assentava no solio pontifício para manter a acção da jerarchia
sacerdotal, surgiam da obscuridade outros dous homens que haviam de hasteiar de
novo a bandeira da abnegação e fazer abraçar pelos seus sectários a rigorosa
pobreza repellida das congregações monásticas, instituindo em frente d'ellas as
congregações mendicantes. Ninguém ignora os nomes d'estes dous indivíduos, Francisco
de Assis e Domingos de Gusmão, aquelle, humilde mas abastado burguês italiano
que, depois de convertido ao mysticismo, seguia com tanto ardor a vereda da
mortificação como antes seguira a espaçosa estrada dos deleites; este, nobre e
altivo hespanhol, já revestido de dignidades ecclesiasticas e que se arrojara á
grande empreza da reforma sem perder os caracteres da sua raça. Austero e
inflexível, homem cujos avós pelejaram sempre contra os sarracenos com o ferro
numa das mãos e o facho do incêndio na outra, dir-se-hia que mal sabe combater
de diverso modo os que não crêem como elle. A sua exaltação religiosa é intolerante:
a luz suave do Evangelho não pôde vê-la senão reflexa na espada polida, senão
retincta em sangue. O gemido do hereje no patíbulo é para elle um hymno ao
manso cordeiro do Calvário: para elle o algoz exerce um sacerdócio.
Neste eloquentíssimo
parallelo, um dos mais concisos, enérgicos e claros de todas as litteraturas,
mostranos Herculano a profunda differença que houve entre os fundadores das
duas ordens dos franciscanos e dominicanos. O fanatismo do terrível S. Domingos
de Gusmão foi por elle estigmatizado num estylo vigorosamente poético; o facto
da igreja ter posto este homem feroz; cruel e sanguinário no número dos
santos não impediu Herculano de pintá-lo com toda a fidelidade. É de
admirar que, referindo-se o eminente historiador a estes dois vultos da igreja,
não fizesse a mais leve menção do santo mais popular para os portugueses, de
Santo António, que não só pertenceu á ordem franciscana mas também viveu no
reinado de Affonso II e cuja gloria o clero português quasi que olvidou durante
séculos deixando-o envolto na lenda milagreira e chegando apenas a occupar-se
dos seus escriptos e a enaltecer a sua influencia social quando pretendeu fazer
manifestações reaccionárias e jesuíticas.
Estou profundamente convicto de que, se o grave historiador, apesar de
ser eminentemente christão e patriota, não se occupou do referido santo, é
porque, relativamente a esta gloria nacional, não encontrou nos cartórios que tão
activamente revolveu documentos que satisfizessem o seu espirito extremamente
severo e rigoroso. Aquelle grande philosopho, a quem Theophilo Braga
chama catholico ferrenho, punha sempre o amor da verdade acima do próprio
catholicismo. Até no modo de considerar a religião christã se revela a poderosa
autonomia da sua vasta e profunda intelligencia. Com que energia não combateu Herculano
as ambições clericaes, a politica da igreja! O catholicismo, que elle apreciava
não só poeticamente mas também debaixo do aspecto prático, não o impediu de
tirar conclusões, como pretende o auctor da Historia do romantismo. O
espirito de Herculano era ainda mais positivo do que o de alguns
positivistas que se deixam seduzir pelas miragens da sua imaginação e muitas
vezes da imaginação alheia». In Diogo Rosa Machado, Alexandre Herculano,
Conferência Pública realizada no Atheneu Commercial de Lisboa, na noite de 15
de Julho de 1900, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, Lpor H539. Yma,
556544, 14.1.53.
Cortesia de LTavares Cardoso & Irmão/JDACT
domingo, 29 de setembro de 2013
Fernão de Magalhães. Escritos Literários e Políticos. Coligidos e publicados sob a direcção de Arlindo Varela. Latino Coelho. «Tomada lingua com a gente da terra, que eram os celebrados patagões, de quem se phantasiavam tantas fabulas, e captivos alguns d'elles, entraram os capitães de três das caravellas em aberta insurreição contra Magalhães»
NOTA: De acordo com o original
«(…) Mediando os
concertos entre Magalhães e o imperador, succedêra enlouquecer o cosmographo
Faleiro, que até então fora sócio de Fernão, com o que teve Magalhães
de se embarcar sem o companheiro, tomando á sua conta exclusiva os futuros
cuidados d'aquella empresa.
Designado Fernão
de Magalhães por capitão-mór da expedição entrou a governar a Trinidad, que ia por capitania. A
segunda caravella Santo António
capitaneava João Cartagena. A terceira, por nome Concepcion, mandava Gaspar Quesada, e fazia n'ella o officio
de piloto o celebrado Elcano, que mais particularmente partilhou com Magalhães
as glorias d'esta longa navegação e descobrimento. A quarta, cuja invocação era
Victoria, commandava Luiz Mendonça.
Na caravella Santiago embarcou de
capitão João Serrano, que era ao mesmo tempo piloto-mór de toda a frota.
Tripulavam ao todo as cinco embarcações duzentos e trinta e sete homens, que
não seriam hoje suficientes para guarnecer um só navio que se destinasse a tão
diuturna e aventurosa navegação, como aquella que iam então emprehender.
Sigamos a narração de
Gaspar Corrêa, descrevendo as vistas de Magalhães com o imperador, e os
aprestos da pequena armada: …Fernão de Magalhães foi a Burgos, onde
estava o imperador e lhe beijou a mão, e o imperador lhe deu mil cruzados de
acostamento para gasto de sua mulher em quanto fosse sua viagem, assentado na
vassallagem de Sevilha, e lhe deu poder de baraço e cutello em toda a pessoa
que fosse na armada, de que seria capitão-mór; do que lhe assignou grandes
poderes; com que tornado a Sevilha, lhe foram concertados cinco navios
pequenos, como elle pediu, concertados e armados como elle quiz, com quatrocentos
homens de armas, em que lhe carregaram as mercadorias que elle pediu. Os
regedores lhe disseram que elle desse as capitanias, do que elle se escusou
dizendo que era novo na terra, que não conhecia os homens; que eles os
buscassem que fossem bons e fieis ao serviço do imperador, que folgassem por
seu serviço de levar trabalhos e má vida que haviam de passar na viagem. O que
os regedores muito lhe tiveram a bem e bom aviso, e que aos capitães que
fizessem e gentes que levasse primeiro lhes notificassem os poderes que levava
do imperador. O que assim fizeram, e em Sevilha buscaram homens de confiança
para capitães, que foram João Cartagena, Luiz Mendonça, João Serrano e Pêro
Quesada. Esta narração de Gaspar Corrêa discorda apenas do que referem os
outros historiadores em dizer que Magalhães levava em sua frota
quatrocentos homens, e chamar Pêro Quesada ao que outros escrevem com o nome de
Gaspar, que elle próprio depois no decurso da narração lhe restitue.
Largou de Sevilha a
armada em 1 de Agosto de 1519,
e aos 27 de Setembro desaferrou do porto de San Lucar, aproando ao rumo
das Canárias. Tomando terra em Tenerife para refrescar e aperceber-se de
vitualhas, passando na volta de Cabo-Verde e indireitando para a America,
surgiram na bahia de Santa Luzia, d'onde sairam a 27 de Dezembro. Chegando
ao rio da Prata, foi a nau Santiago
pelo rio acima, até 25 legoas de sua foz, e veiu trazendo nova de que o rio se
alargava para o norte. Foram seguindo a costa para o sul, e aos 42º e 30’ de
latitude austral, entraram n'uma grande bahia, a que pozeram nome de S.
Mathias, e suspeitando que por ali podesse haver passagem para o mar do sul, a
andaram buscando n'aquellas aguas, por umas cincoenta legoas de navegação, sem
a poderem descobrir. D'ali se foram, sempre costeando, até surgir na bahia de S.
Julião.
Tomada lingua com a
gente da terra, que eram os celebrados patagões, de quem se phantasiavam tantas
fabulas, e captivos alguns d'elles, entraram os capitães de três das caravellas
em aberta insurreição contra Magalhães. Por salvar sua
auctoridade e segurar a continuação da empresa, os mandou elle punir de pena
capital, depois que já não eram bastantes a reprimil-os o conselho e persuasão,
com o que vieram a cessar as alterações que havia na frota e a prevalecerem os
desígnios de Magalhães, o qual invernou n'aquellas paragens, em que, como diz Gaspar Corrêa, espalmou e concertou muito bem os navios».
In
Latino Coelho, Fernão de Magalhães. Escritos Literários e Políticos. Coligidos
e publicados sob a direcção de Arlindo Varela, Editores Santos & Vieira,
Empresa Literária Fluminense, Imprensa Portuguesa, Lisboa, 1917.
Cortesia de Imprensa
Portuguesa/JDACT
Fernão de Magalhães. Escritos Literários e Políticos. Coligidos e publicados sob a direcção de Arlindo Varela. Latino Coelho. «Avistou-se em Sevilha o portuguez, já então desnaturalisado de sua pátria, com os offciaes da contratação, e lhes propoz o intento que levava. Passando depois á corte, o acolheu benignamente o ministro cardeal Fr. Francisco Ximenes de Cisneros…»
NOTA: De acordo com o original
«(…) Foi-se Fernão
de Magalhães a Castella, levando em sua companhia a Ruy Faleiro, perito
cosmographo portuguez, e a outros navegantes da mesma nação, os quaes iam dispostos
a seguil-o na sua boa ou má fortuna. Já então lhe era inabalável convicção a de
que seria possível encontrar a desejada passagem para a Índia Oriental, navegando
ao sul do Novo Mundo. O plano predilecto de Colombo achou em Fernão
de Magalhães um devotado continuador.
Avistou-se em Sevilha o portuguez,
já então desnaturalisado de sua pátria, com os offciaes da contratação, e lhes propoz
o intento que levava. Passando depois á corte, o acolheu benignamente o ministro
cardeal Fr. Francisco Ximenes de Cisneros, que tanto se empenhava pelo engrandecimento
e poderio da coroa castelhana, e que desejou accrescentar os dominios hespanhoes,
como bem o demonstrou na jornada de Oran, que elle próprio dirigira, vestindo o
arnez sobre a purpura romana. Prometteu o cardeal a Magalhães que á volta do imperador,
que então andava em Flandres, lhe seria despachada a sua justa petição.
Oiçamos o singelo
historiador Gaspar Corrêa, narrando com sua nativa sinceridade os successos de
Magalhães: ... Fernão de Magalhães se foi a Castella ao porto de Sevilha, onde se casou
com a filha de um homem principal, com tenção de navegar pelo mar, porque entendia
muito da arte de piloto, que era esperico (o mesmo que espherico, homem sabedor
da esphera, ou das coisas da cosmografia). Em Sevilha tinha o imperador a Casa
da Contratação, com seus regedores da fazenda, com muitos poderes, e grande
tráfego de navegação e armadas para fora. Fernão
de Magalhães, atrevido em seu saber, com a muita vontade que tinha de anojar
el-rei de Portugal, falou com os regedores da Casa da Contratação, e lhes
disse que Malaca e Moluco, ilhas em que nascia o cravo, eram do imperador pelas
demarcações que havia d'entre ambos; pelo que el-rei de Portugal contra direito
possuia estas terras; e que isto elle o faria certo ante todos os doutores que o
contradissessem, e a isso obrigaria a cabeça. Ao que os regedores lhe responderam
que bem sabiam que elle falava verdade, e o imperador assim o sabia, mas que o
imperador não tinha navegação para lá, porque não podia navegar pelo mar da demarcação
d'el-rei de Portugal. Fernão de Magalhães
lhes disse: Se me derdes navios e gente, eu mostrarei navegação para lá, sem
tocar em nenhum mar nem terra d'el-rei de Portugal. E senão que lhe cortassem
a cabeça. Do que os regedores muito contentes o escreveram ao imperador, que lhes
respondeu que havia prazer com o dito e muito mais haveria com o feito; que elles
tudo fizessem, guardando seu serviço e as coisas d'el-rei de Portugal, que não fossem
tocadas, e que antes tudo se perdesse. Com a qual resposta do imperador falaram
com o Magalhães e com elle muito se affirmaram
no que dizia, que navegaria e mostraria o caminho por fora dos mares d'el-rei de
Portugal; que lhe dessem os navios que pedisse, gente, artilheria e o necessário,
que elle cumpriria o que dizia, e descobriria novas terras que estavam na demarcação
do imperador, d'onde traria oiro, cravo, canella e outras riquezas; o que ouvido
pelos regedores, com grande desejo de fazer tamanho serviço ao imperador, como era
descobrir esta navegação, e por fazerem esta coisa mais certa, ajuntaram pilotos
e espericos, que sobre o caso disputaram com o Magalhães, que a todos deu suas razões, que concederam no que dizia
e afirmaram que era homem mui sabido.
Chegando a Hespanha Carlos
V, se foi Magalhães á cidade de Burgos, onde estava então o César, e perante a sua
presença proseguiu nas diligencias da sua empresa. Opiniou favoravelmente o conselho
de Castella sobre a proposta do navegante portuguez. Accedeu a final o imperador,
e fazendo a Magalhães a mercê do habito de Santiago e nomeando-o capitão de
suas frotas, ordenou que em Sevilha se lhe fizessem prestes cinco caravellas, com
que havia de partir em sua projectada expedição». In Latino Coelho, Fernão de
Magalhães. Escritos Literários e Políticos. Coligidos e publicados sob a
direcção de Arlindo Varela, Editores Santos & Vieira, Empresa Literária
Fluminense, Imprensa Portuguesa, Lisboa, 1917.
Cortesia de Imprensa
Portuguesa/JDACT
Jazz. Holly Cole. «A existência não cabe numa balança ou entre os ponteiros dum compasso. Pesar e medir é muito pouco; e esse pouco é ainda uma ilusão. O pesado é feito de imponderáveis, e a extensão de pontos inextensos, como a vida é feita de mortes»
«A
essência das coisas, essa verdade oculta na mentira, é de natureza poética e
não científica. Aparece ao luar da inspiração e não à claridade fria da razão.
Esta apenas descobre um simples jogo de forças repetido ou modificado
lentamente, gestos insubstanciais, formas ocas, a casca de um fruto proibido. Mas
o miolo é do poeta. Só ele saboreia a vida até ao mais íntimo do seu gosto
amargoso, e se embrenha nela até ao mais profundo das suas sensações e
sentimentos. É o ser interior a tudo. Para ele, a realidade não é um conceito
abstracto, ideia pura, imagem linear; é uma concepção essencial, imagem
hipostasiada, possuída em alma e corpo».
JDACT
Fernão de Magalhães. Escritos Literários e Políticos. Coligidos e publicados sob a direcção de Arlindo Varela. Latino Coelho. «… narra a petição de Magalhães, e o mau despacho d'el-rei: ...; o qual Fernão de Magalhães indo ao reino, allegando a el-rei seus serviços, e pedindo em satisfação que lhe acrescentasse cem réis em sua moradia por mez, o que lhe el-rei denegou…»
NOTA: De acordo com o original
«(…) De mais, o portuguez
esclarecido trazia já na mente a traça do grande commettimento que devia
illustrar o seu nome, e vinculal-o perennemente nos fastos das nações. Se lhe
negavam três cruzados por anno, para os quaes tinha posto a juros a sua espada
na Índia, e o seu sangue em Azamor, o que não havia de ser, quando elle pedisse
a el-rei que lhe desse dois navios para ir correr os mares e descobrir novos dominios á coroa de Portugal? Como
havia de fiar a sua futura gloria de quem já lhe punha abertamente em duvida a passada fama de suas façanhas?
Claro estava que não havia de ser mais bem succedido na petição de heroe do que
fora então na de requerente e de soldado.
Eis aqui como Gaspar
Corrêa, na simplicidade do seu estylo e na incorrecção habitual da sua
linguagem, narra a petição de Magalhães, e o mau despacho d'el-rei: ...; o qual Fernão de Magalhães indo ao reino, allegando a el-rei seus serviços,
e pedindo em satisfação que lhe acrescentasse cem réis em sua moradia por mez,
o que lhe el-rei denegou, por lhe não cair em graça, ou porque assim estava
permittido que havia de ser; Fernão de Magalhães d'isto aggravado, porque o
muito pediu a el-rei e elle o não quiz fazer, lhe pediu licença para ir viver com
quem lhe fizesse mercê, em que alcançasse mais dita que com elle. El-rei lhe
disse que fizesse o que quizesse; pelo que lhe quiz beijar a mão, que lhe
el-rei não quiz dar. Fernão de Magalhães desnaturalisou-se
de portuguez, e foi-se a Castella pedir que o inscrevessem ali como cidadão. Fez mal? Fez bem?
Castella era n'aquelle
tempo, como antes, como depois, a inimiga de Portugal, ainda quando a paz
dissimulava nas apparencias da concórdia a hereditária hostilidade das duas
coroas peninsulares, que aspiravam á exclusiva supremacia. Castella era a émula
de Portugal nas conquistas transatlânticas. Castella era na Europa a nação
perpetuamente cobiçosa da estreita orla Occidental que as lanças portuguezas haviam
sempre defendido contra os partidários da unidade hispânica; era nos mares o
estado que comnosco litigava o império e poderio. Renegar a pátria e ir-se a Castella
era tão feia acção como na antiguidade o acolher-se um atheniense ou um
espartano á corte dos reis da Pérsia, depois de haver contra elles pelejado em
Marathona ou em Plateia.
Desnaturalisar-se de
portuguez e ir offerecer a sua espada aos reis catholicos era porventura maior
sacrilégio, então, do que renegar a pureza da verdadeira fé, e transviar-se nos
erros de Luthero e de Calvino. No portuguez não foi para ser louvada a
represália. No homem que havia de pertencer á civilisação e á humanidade mais
do que aos estreitos limites da sua pátria, podemos relevar o impulso da
offendida dignidade e do amor próprio justificado.
Para ser portuguez havia
de ver menosprezada a sua gloria e mal galardoados os seus feitos. Para não
faltar á religião da pátria havia de faltar á religião de honra; havia de
devorar as affrontas em silencio, e reprimir no peito os rebates da sua varonil
indignação. Para ser portuguez havia de votar-se talvez para sempre á
obscuridade, e ver frustrado o seu empenho de conquistar para si um nome
illustre, a par de quantos houve mais distinctos na historia das modernas
navegações.
Com a fidelidade de Fernão
de Magalhães lucrava a pátria e o rei um natural e um vassallo. Mas
perdia o drama glorioso dos descobrimentos transatlânticos um eminente
personagem, Portugal um nome venerando, a moderna civilisação um d'estes
fervorosos operários que da espada e do navio tem feito os mais poderosos
instrumentos do progresso. Fernão de Magalhães pagou-nos generosamente
o desamor e affronta de renegar-nos. Servia a Castella quando circumnavegava o
globo. Mas o nome de Magalhães ficou sempre portuguez, e
a gloria das suas navegações ha de ser
perpetuamente gloria
também de Portugal». In Latino Coelho, Fernão de Magalhães.
Escritos Literários e Políticos. Coligidos e publicados sob a direcção de
Arlindo Varela, Editores Santos & Vieira, Empresa Literária Fluminense,
Imprensa Portuguesa, Lisboa, 1917.
Cortesia de Imprensa
Portuguesa/JDACT
sábado, 28 de setembro de 2013
Estâncias Reunidas. Poesia. António Cândido Franco. «Terra da minha saudade. Terra que piso em desejo. Barro húmido escorrendo veios de azul. Argila celeste desfazendo-se no livor dos charcos»
Estâncias
[…]
Estrelas com odores fortes e humanos.
Estrelas sensíveis
que se cheiram.
Ó céu pagão
alma encarnada de terra
com uma natureza luxuriante e carnívora.
O céu não é o céu.
O que de lá vem
é um cheiro violento a húmus e suor.
Nas entranhas da noite
o céu tem o odor da terra húmida e fresca.
As estrelas libertam um cheiro intenso a flor.
Vejo no céu formas vivas e primitivas
que cheiram a estábulo.
Há uma Primavera no céu
com flores carregadas de pólen.
O céu é sensível
ainda que feito de luz.
O céu é uma árvore
carregada de sementes.
É uma alma de carne que cheira a terra.
É um céu de formas geométricas.
Luz coalhada em sangue
nos raios das estrelas.
Luz desfazendo-se em aroma de terra.
Luz coagulando em vibração de cor.
O céu é uma terra sem pele.
A sua opacidade é transparente.
O céu não existe.
O céu é um chão
onde florescem as pétalas dos astros.
Terra da minha saudade.
Terra que piso em desejo.
Barro húmido
escorrendo veios de azul.
Argila celeste
desfazendo-se no livor dos charcos.
Paraíso de sombra e frescura
coalhando em folhas verdes
a luz das estrelas.
Éden pagão e tropical
desenvolvendo na sua turfa
luxuriantes árvores de carne.
Céu geográfico
com uma palavra inteira
de barro e húmus.
Parte do poema de António Cândido Franco, in ‘Estâncias Reunidas’
In António Cândido Franco, Estâncias Reunidas, 1977-2002, Quasi
edições, biblioteca Finita Melancolia, Vila Nova de Famalicão, 2002, ISBN
972-8632-64-9.
Cortesia de Quasi/JDACT
Os Efeitos das Variações Climáticas Aproximam-se do Ponto de não Retorno. Juana Viúdez. «Los investigadores creen al 95% que el hombre es el principal causante. Todavía podemos prevenir los peores efectos del cambio climático y dejar a nuestros hijos y sus hijos un planeta decente. Pero necesitamos Gobiernos que actúen como bomberos y no como pirómanos»
«Parte del CO2 emitido
seguirá en la atmósfera al menos 1.000 años. La peor previsión es que el mar
suba 82 centímetros.
Los científicos tienen cada vez más claro, al 95%, que el hombre es el
principal actor del cambio climático y advierten de que los daños causados
hasta ahora por las emisiones, subida del nivel del mar, acidificación de los
mares o el derretimiento de los glaciares, se mantendrán durante siglos si los
Gobiernos no se conciencian de que el calentamiento es real y muy grave, aunque
se haya suavizado en los últimos años, y toman ya medidas drásticas para
combatirlo. Aunque lo enfrentaran con firmeza, ya hay efectos con los que
conviviremos al menos 1.000 años. Dependiendo del escenario, entre el 15% y
el 40% del CO2
emitido puede quedarse ya en la atmósfera. Según sus previsiones, el nivel del
mar podría subir entre 26 y 82 centímetros y la temperatura aumentar
hasta 4,8 grados a finales de siglo.
El Grupo Intergubernamental del Cambio Climático (IPCC), creado por Naciones Unidas, ha avanzado este viernes en
Estocolmo (Suecia) las principales conclusiones de su último informe, que
representa una llamada de atención a los líderes políticos en un momento de
crisis en el que la lucha contra el calentamiento ha dejado de ser prioridad. El documento será estudiado por los gobernantes del mundo
antes de llegar a un acuerdo multilateral vinculante para reducir la emisión de
gases de efecto invernadero en 2015,
que deberá comenzar a aplicarse en 2020.
Todavía podemos prevenir los peores
efectos del cambio climático y dejar a nuestros hijos y sus hijos un planeta
decente. Pero necesitamos Gobiernos que actúen como bomberos y no como
pirómanos, ha recogido este viernes Europa Press citando un cuadro
del informe de consejos para políticos que no ha sido difundido este viernes.
Para lograrlo, los autores recomiendan comenzar lo más rápido posible una senda hacia la energía renovable,
proteger los bosques, los océanos y los recursos hídricos de los que depende la
economía. El informe AR5, principalmente pensado para los representantes
políticos, reúne las evidencias científicas de los últimos seis años. En
esta edición, en la que han participado 831 expertos de 85 países, se ha
podido comprender con mayor exactitud la forma en la que está subiendo el nivel
del mar, algo que ha aumentado la confianza de sus previsiones, que dibujan en
varios escenarios posibles.
El anterior trabajo, difundido en 2007,
mostró evidencias suficientes de que el cambio climático es inequívoco y
estableció como causa probable las actividades humanas. Fue atacado en su
momento por varios expertos por incluir errores. Entre otros, sobre la
velocidad con la que podrían desaparecer los glaciares del Himalaya. Otro grupo
lo revisó después y concluyó que las principales conclusiones seguían siendo
válidas. Los investigadores creen al 95%
que
el hombre es el principal causante.
Estas son algunas de las previsiones de esta entrega:
Nivel del mar. La
confianza en las previsiones del crecimiento del nivel del mar ha crecido con
respecto al anterior informe, el AR4, gracias a la mejora de la comprensión de
los componentes de nivel del mar, un mayor acuerdo de los modelos basados en
procesos con observaciones y la inclusión del hielo en los cambios dinámicos. Como el océano se calienta, los glaciares y
las capas de hielo se reducen, el nivel del mar seguirá aumentando a nivel
mundial, pero a un ritmo más rápido que hemos experimentado en los últimos 40
años dijo Qin Dahe, vicepresidente del grupo de trabajo número 1 del IPCC. Las previsiones apuntan a una
subida para 2100 que va de los 26 a
los 82 centímetros. La horquilla es mayor de la que se estimaba en 2007 (18 y
59 centímetros).
Papel del hombre. El
trabajo dice que es muy factible, con una probabilidad de al menos el 95%, que
las actividades humanas sean la causa predominante del calentamiento global en
el siglo XX. Este aspecto ha aumentado con respecto al último estudio, de 2007,
en que la probabilidad la situaban en el 90%. En el de 2001, estaba en un
66%.
Cambios en el clima. El
calentamiento es inequívoco, y desde 1950
muchos de los cambios observados no tienen precedentes en décadas o milenios.
La atmósfera y los océanos se han calentado, las cantidades de nieve y hielo
han disminuido, los niveles del mar han crecido, y las concentraciones de gases
de efecto invernadero han crecido. Cada una de las últimas tres décadas ha sido
sucesivamente más cálida, y las olas de calor serán más frecuentes y duraderas
con una probabilidad del 90%, la superficie de la tierra ha estado mucho más
caliente que cualquier década precedente a 1850.
Entre 1880 y 2012, el aumento estimado de la temperatura ha sido de 0,85
grados. Los científicos creen probable
que suba a finales de siglo al menos 1,5 grados con respecto a la era
preindustrial, aunque los escenarios más pesimistas elevan el aumento a 4,8
grados.
El texto debe servir a los líderes mundiales para un
pacto vinculante en 2015.
Océanos. Es virtualmente cierto (al 99%) que se ha calentado la parte superior de los océanos, desde la superficie a los 700 metros de profundidad, desde 1971 hasta 2010. El informe considera, con alto nivel de confianza, que el calentamiento oceánico es el principal actor del aumento de la temperatura, ya que representa más del 90% de la energía acumulada entre 1971 y 2010.
Océanos. Es virtualmente cierto (al 99%) que se ha calentado la parte superior de los océanos, desde la superficie a los 700 metros de profundidad, desde 1971 hasta 2010. El informe considera, con alto nivel de confianza, que el calentamiento oceánico es el principal actor del aumento de la temperatura, ya que representa más del 90% de la energía acumulada entre 1971 y 2010.
Hielos. En
las últimas décadas, los bloques de Groenlandia y del Antártico han ido
perdiendo masa, mientras que los glaciares continúan menguando.
Carbono. Las
concentraciones en la atmósfera de dióxido de carbono, metano y óxido nítrico
han crecido hasta niveles sin precedentes al menos en los últimos 800.000 años.
Esas agrupaciones de C02 han crecido
un 40% desde los tiempos preindustriales, principalmente por las emisiones de
combustibles fósiles. Los océanos han absorbido el 30% de dióxido de carbono produciendo la acidificación de los mares.
Irreversibilidad.
Muchos aspectos del cambio climático persistirán durante siglos aunque las
emisiones de CO2 se detengan. Las
temperaturas permanecerán a niveles elevados durante siglos». In Juana
Viúdez,Os Efeitos das Variações Climáticas Aproximam-se do Ponto de não Retorno,
El País, Sociedad, 2013.
Cortesia El País/IPCC/JDACT
Ramos Rosa. Funcionário Incansável das Palavras. Daniel Gil. «Na justa monotonia do meio-dia oiço o prodígio do repouso e a paixão adormecida. O concêntrico sopro imobiliza-se. É uma lâmpada de pedra fulgurante. Tudo é nítido mas ausente»
«O ensaio pretende apontar algumas
características basilares da obra poética do autor português contemporâneo António
Ramos Rosa. Entende que o poeta é um perspicaz intérprete da
multiplicidade estética de seu tempo e que, portanto, compõe com recursos
variados. Rosa manipularia, com desenvoltura técnica, a simplicidade, a
fluidez, o corte, oposições e tensões; a deferência à palavra surgiria em seus
versos como conciliadora de distintos panoramas da modernidade.
Em
Poesia e Desordem, livro de nome bastante propício para tratar da poesia
dos últimos tempos e suas ramificações formais, Antonio Carlos Secchin escreve
que Muitas trilhas foram abertas em busca
da poesia, e até contra ela, através de sucessivas decretações de morte, mas
ela, sempre renascida em constantes metamorfoses, não parece incomodar-se com
isso. Apesar de essas linhas se incumbirem basicamente da literatura
brasileira, é possível afirmar que a arte poética do século passado atravessou
inúmeros e inusitados laboratórios formais, mais ou menos animosos, em variados
países que comparticipam de certa maneira da mesma cultura literária. De tal
modo, a poesia portuguesa de António Ramos Rosa realiza-se sobre-eminente.
Das trilhas abertas, há aqueles que optam por uma e logo pensam ter descoberto
o improvável atalho ao fastígio. Muitos, ainda, se dedicam mais a defender o
seu rumo do que a enfrentar seus obstáculos, ou mesmo procuram recuar, negando
a existência de qualquer via possível. Entretanto, outros, conseguem usufruir a
visão de paisagens diversas, porque seguem ascendidos, e mais exitosos se
tornam a cada destino alcançado. Nessa selva oscura, ou seja, em nossa
desordenada modernidade, os versos de Ramos Rosa se apresentam como
aqueles que adquirem, como numa selecção rigorosa, um entremeado dos melhores
resultados provenientes dos inúmeros caminhos opostos, de tantas colisões
teóricas, tantas des- e re- construções da poesia. E podemos dizer que
somente um escritor que conseguiu compreender com bastante argúcia a sua época
seria agente desse efeito.
Penso numa linguagem
desconcertantemente simples, falsamente transparente, um pouco tosca. Térrea e
pétrea.
In
Ramos Rosa, 1970.
A falsa antítese planejada, entre a simplicidade e a densidade,
sendo a última revestida astuciosamente da outra e, para além, a caracterização
da forma, podem servir-nos como dica à principal peça do mosaico poético de Rosa:
a deferência à palavra. Idealizada ao
longo da modernidade como o elemento literário maior, cuja forma deva
possivelmente confundir cenário e roteiro, meio e fim, signo e referente, ela
não deixa de adquirir em nosso poeta o valor que os modernos pretenderam. Sem
se adulterar como quem abre trilhas presumidamente prodigiosas, a palavra em António
Ramos Rosa inventa com naturalidade; acrescenta, alheia a maneirismos,
à poesia de seu tempo e serve preferencialmente ao leitor:
Na justa monotonia do
meio-dia
oiço o prodígio do
repouso e a paixão adormecida.
O concêntrico sopro
imobiliza-se. É uma lâmpada
de pedra fulgurante.
Tudo é nítido mas ausente.
O mundo todo cabe no
olvido e o olvido é transparência
de um denso torso que
a nostalgia acende.
(1991)
O silêncio
morno das coisas do meio-dia, como já se referiu Vinicius de Moraes,
é aqui susceptível, podemos dizer, a leituras com variadas categorias de
absorção, em não sendo antagónico o diálogo simplicidade / densidade, mas
complementar, os versos detém o atributo de suspender o leitor independente do
nível de atenção que ele queira ou lhes possa prestar. A palavra se afigura,
pois, capaz em última instância de se enunciar legitimamente mesmo quando
reflexionada distante do significado que lhe foi próprio». In Daniel Gil, Ramos
Rosa. Funcionário Incansável das Palavras, Vértices,
Campos dos Goytacazes/RJ, volume 12, n.º 2, Brasil, 2010, Wikipedia.
Cortesia de Vértices/JDACT
Inquisição de Évora. Dos Primórdios a 1668. António Borges Coelho. «No Secreto havia duas mesas com os artefactos necessários tinteiros, tesouras, canivetes, areia, penas, tinta, linhas, agulhas, obrea, e papel em abundância. E ainda os papéis de segredo de cada inquisidor; os livros de denúncias; livros de processos…»
A instituição. Casas de Despacho e de Secreto
«(…) Em 1636 o arquitecto
Mateus Couto desenhou a planta do tribunal e palácio do Santo Ofício (maldito). No seu todo comportava dois corpos,
unidos mas independentes: a leste, a ala dos cárceres com os seus corredores e
pátios e ainda Casas de Despacho e morada do alcaide; a oeste, o outro corpo, o
paço-residência dos inquisidores. No primeiro corpo, encostado ao templo romano
/ açougue, desdobravam-se no rés-do-chão, dois núcleos de cárceres num total de
trinta e cinco com frestas abertas para dois pátios interiores. Ainda nesse
rés-do-chão, se situavam as casas do Fisco, a cozinha e a copa. Subindo ao
primeiro andar, à mão esquerda da entrada, como conjunto autónomo, sucediam-se
as duas Casas do Despacho (a pública e a secreta), o oratório e a Casa do Secreto. Ao lado, quase
num quadrado perfeito sobre as celas do piso térreo, erguiam-se trinta e quatro
cárceres. Num dos ângulos, as casas do alcaide.
Quanto ao segundo corpo ou paço dos inquisidores, ficavam, no piso
térreo, os aposentos do terceiro inquisidor ou inquisidor mais novo com suas
lógeas e quintais. E ainda as casas, quintal e dependências do despenseiro. No
primeiro andar, desdobravam-se os aposentos do primeiro e segundo inquisidores.
Casas de Despacho havia duas, portanto: uma interior, secreta, onde comummente
se ouviam / interrogavam os presos; e outra exterior, pública, onde se
despachavam / julgavam presos de qualidade e de culpa considerada mais leve. A
Casa do Despacho será em lugar tão
resguardado, que fora dela se não possa ouvir cousa alguma do que aí se trata.
As paredes serão forradas com panos de arrás no Inverno, guadramecins no Verão.
De frente para os presos olhava uma imagem de Cristo de vulto ornada com a decência que convém, imagem que se guarda no
museu da cidade.
Sobre o estrado de quatro dedos de altura ficava a mesa de três gavetas
e chaves diferentes onde cada um dos inquisidores guardava os seus papéis,
menos os cadernos que se recolheriam sempre na Casa do Secreto. A mesa
era coberta com um pano de damasco carmesim e por cima coiro negro. De cada
banda ordenavam-se cadeiras de espaldas. Dizia-se vir, chamar à Mesa com letra
grande e não chamar aos inquisidores. O objecto e a sua palavra ocultavam / coisificavam
o poder exercido pelos homens. Haveria ainda na casa do Despacho cadeiras rasas
para presos e testemunhas de qualidade; e banco para preso com pouca qualidade.
os instrumentos e materiais do ofício comportavam um missal com os santos
Evangelhos para dar juramento; uma tábua com a oração do Espírito Santo a quem
se pedia inspirasse as confissões dos presos (o cunhado de Gabriel da costa,
Álvaro Gomes Bravo, pediu audiência
alumiado do Espírito Santo para confessar suas culpas nesta Mesa, e que não o
fizera até agora por seu pecado o enganar; regimentos do Santo Ofício (maldito) e do Fisco; o colectório das bulas
apostólicas e privilégios da Inquisição (maldita);
tinteiros de prata; uma campainha.
Na Casa da Tortura, além dos Santos Evangelhos, havia um conjunto
de aparelhos: primeiro a polé com o balance, a roldana, as cordas e outros
instrumentos; mais tarde o potro, banca de madeira com os seus cabos e arrochos
onde se arrochavam cada braço e cada perna do preso que se apresentava de
coleira. Não faltava o púcaro e o pano para a tortura da água. E navalha para
rapar a planta dos pés. Meirinho e alcaide dos cárceres, além das armas, usavam
nos castigos o açoute e as mordaças. Saindo da Casa do Despacho interior
entrávamos na Casa do Secreto. Aí estavam todos os processos, repertórios, livros e papéis de segredo. E as
janelas que tiver pela parte de fora terão grades de ferro fortes, e esteiras,
de maneira que se não possa entrar por elas. E terá uma só porta para a Casa do
Despacho, bem segura e com fechadura de três chaves de guardas diferentes: uma
chave terá o promotor e as outras duas os dois notários mais antigos. Mas a
Porta do Secreto só se abrirá na presença de um inquisidor.
A planta de Mateus do Couto seguia, para a Inquisição (maldita) de Évora, as indicações do Regimento
de 1640. Assim a sua Casa do Secreto abria por uma só porta
para a Casa do Despacho interior e só para ela. Esta Casa do Despacho
comunicava com o Oratório e a Casa do Despacho pública mediante uma saleta
interior onde ficava o porteiro de dentro.
Aliás estas Casas, do Despacho, do Secreto e Oratório, constituíam um
conjunto independente, embora comunicante, através de um corredor, com o mundo
de suor, urina e fezes das celas interiores. No Secreto havia duas mesas
com os artefactos necessários tinteiros,
tesouras, canivetes, areia, penas, tinta, linhas, agulhas, obrea, e papel em
abundância. E ainda os papéis de segredo de cada inquisidor; os livros de
denúncias; livros de processos; livros dos autos-da-fé realizados em Évora e
nas outras Inquisições; o livro de todas as terras que pertenciam à jurisdição
de Évora com os nomes dos comissários, escrivães e familiares que nelas se criaram;
os livros de receita e despesa, etc., etc.
Ficavam ainda aí arcas encoiradas para levar ao auto-da-fé os processos
despachados ou os livros para queimar; e uma arca com três chaves em que se
recolhia todo o dinheiro que por qualquer
via tocar ao Santo Ofício.
NOTA: No Regimento de 1613,
promulgado pelo bispo inquisidor-geral Pedro Castilho já a câmara do secreto avultava como fortaleza dos segredos: Regimento
do Sancto Officio da Inquisiçam dos Reynos de Portugal. O exemplar da
Biblioteca Nacional, Res. 238 A pertenceu
ao ex-inquisidor de Évora e membro do Conselho Geral doutor Gaspar Pereira que o
ofereceu ao doutor Bernardo de Ataíde quando este tomou posse, a 20 de Agosto de
1623, do lugar de deputado da
Inquisição (maldita) de Lisboa».
In António Borges Coelho, Inquisição de Évora, dos Primórdios a 1668,
volume 1, Editorial Caminho, colecção Universitária, Instituto Português do
Livro e da Leitura, 1987.
Cortesia Caminho/JDACT
Inquisição de Évora. Dos Primórdios a 1668. António Borges Coelho. «Sacrifícios animais outrora no sagrado do templo romano. Sacrifícios profanos no açougue. Sacrifícios humanos nos cárceres e nas fogueiras dos autos-da-fé»
A instituição. O espaço
«(…) Évora. Sobranceiros ao Paço do Arcebispo e à Sé, erguiam-se, a
norte, os muros do Santo Ofício Velho; a poente, os do Santo Ofício Novo. Os
cárceres do Ofício Velho vinham morrer nas paredes do então açougue que ocupava
o chão, cegava as colunas do templo romano. Mantém-se uma parte do espaço do
Santo Ofício Velho, profundamente reorganizado nos séculos XIX e XX. No piso
superior, abre-se ainda uma sala de despacho com as armas da Inquisição
(maldita) no tecto apainelado. Nos meados deste século, obras efectuadas na rua
pública a poente do templo romano puseram à vista o esqueleto de antigas celas,
esqueleto que o pudor do Poder fez desaparecer sem deixar rasto.
O Santo Ofício Novo, que no portal em pedra conserva um bem talhado
brasão inquisitorial, ocupou, ao que parece, em duas fases, casas do Paço do conde
da Vidigueira. Em carta de l0 de Outubro de 1600, dirigida ao Conselho Geral, os inquisidores doutor Gaspar Pereira
e Salvador Teles Meneses propõem a compra de casas contíguas ao Santo Ofício (maldito). O proprietário vendera já algumas
casas. Agora vendia outras muito boas. E
se hão-de dar em preço de trezentos mil réis, e menos, pela necessidade que tem
quem as vende. Que é um bom preço. São foreiras fatiotas à Sé [...], cada um
ano três cruzados e quatro galinhas. E porque nesta inquisição há ao presente
dinheiro bastante de hábitos que se tiraram e de outras condenações [...]. Nas
casas a poente do Santo Ofício Velho, estão ainda de pé alguns cárceres, que
julgamos de penitência, com o claustro de abóbada nervada que lhes dava acesso.
Este pátio e claustro comunicam para um alpendre decorado com frescos de
animais fantásticos. E no tecto da capela que se abre ao fundo, são visíveis as
armas do conde da Vidigueira.
O problema do espaço em Évora afligia os inquisidores. Em Maio de 1591 Martim
Gonçalves da Câmara, membro do conselho Geral e visitador da Inquisição (maldita) de Évora, escrevia ao cardeal Alberto,
então inquisidor-geral: e por não estarem
as casas em que pousou o inquisidor Pêro Olivença de modo que se possam
acomodar a cárcere do Santo ofício e eu tenho informação que de se recolherem
nelas alguns presos os anos passados sucederam as conjurações de Beja e outros
muitos inconvenientes por se não poder vedar a comunicação dos presos [...],
trato de despejar o cárcere com se passarem a esta Inquisição de Lisboa cincoenta
ou sessenta presos. A 3 de Abril de 1593, ordenava o Conselho Geral que o padre frei João faça a traça da obra dos paços. O espaço
interior parece ter sido bastante remexido como pode ver-se pela carta de 19-8-1608,
assinada pelos inquisidores Salvador Teles Meneses e Miguel Pereira: Na varanda do cárcere novo deste santo
ofício da banda de nascente, chove, por entrar a água pelos vãos dos arcos, e
alaga as portas das casas dos presos daquele corredor por ficar o ladrilho da
varanda mais alto, da banda de fora dos arcos, para onde ela há-de correr, do
que fica da banda de dentro, ao redor das casas que é causa de a água represar
aí e não correr.
Todo o recinto da cidadela está marcado pelos passos da Inquisição (maldita). Autos-da-fé se celebraram à porta da
igreja de S. João Evangelista, do outro lado do açougue / templo romano; e no
pátio do Santo Ofício Velho; e no terreiro da Inquisição (maldita) com
cadafalso encostado ao varandão do paço do cardeal Infante; e no largo
fronteiro ao portal da Sé. Nos meados do século XVI, em pleno governo
henriquino, à porta da Sé se dependuravam as feiticeiras: espantalhos humanos
vivos, as carochas de escárnio na cabeça, diabos mordendo sobre a roupa
burlesca. Desde as oito horas da manhã de domingo até que se acabe a missa maior, aí ficavam em cima de uma escada, descalças
e em corpo, com rótulos no peito manifestando os seus delitos, uma corda em volta do pescoço a apertá-las como se aperta
e prende o próprio demónio com quem elas manteriam pacto secreto de sangue
quando não conversação carnal. Mas as passadas do Santo Ofício (maldito) saíam da cidadela. Pela Rua da
Selaria desciam à Praça (Praça Grande ou Praça do Giraldo) onde se montava o
cadafalso e se acendiam as fogueiras. Espaço de sacrifício. Sacrifícios animais
outrora no sagrado do templo romano. Sacrifícios profanos no açougue.
Sacrifícios humanos nos cárceres e nas fogueiras dos autos-da-fé». In
António Borges Coelho, Inquisição de Évora, dos Primórdios a 1668, volume 1,
Editorial Caminho, colecção Universitária, Instituto Português do Livro e da
Leitura, 1987.
Cortesia Caminho/JDACT