A edificação da Igreja Matriz
«(…) Dos retábulos, e dos seus
oragos, encontra-se preciosa descrição, redigida pelo pe. Manuel Ramos, no
inquérito nacional das Memórias
Paroquiais (ANTT), em 1758: tem três altares, um mor em
que preside o Santíssimo Sacramento, e os dois colaterais, um com o título do
Senhor Jesus Crucificado, e outro de Nossa Senhora do Rosário. Significativamente,
no mesmo inquérito o sacerdote menciona a existência de duas Irmandades
dinamizando a vida da paróquia: a Irmandade do Santíssimo Sacramento e a
Confraria de São Domingos. Foi especialmente a primeira que se encarregou do
contínuo embelezamento do espaço da capela-mor da igreja, de que era a
principal responsável, adquirindo, para o efeito, diversos bens móveis e integrados.
Entre os bens adquiridos destaca-se o novo altar do retábulo principal da
igreja, com nicho aberto no interior da mesa que mandaram fazer para nele
porém a Santíssima Imagem do Senhor Morto para melhor culto da Sexta-feira da Semana
Santa, para o qual requereram licença do Senhor Patriarca de Lisboa, dom José
Manuel da Câmara (1686-1758), para que o pároco o pudesse benzer e dizer missa,
licença que foi concedida por provisão eclesiástica de 9 de Março de 1757. Pensamos,
por isso, que os azulejos azuis e brancos, de época setecentista, que animam o
espaço arquitectónico intestino da capela-mor, com passos da vida de São
Domingos, resultam igualmente de encomenda desta importante Irmandade. No anexo
contíguo, situado na fachada lateral esquerda da igreja, com corpo elevado,
tinha a Irmandade a sua Casa de Despacho, com acesso directo ao camarim do
retábulo-mor, e à própria capela principal por escada no lado oposto.
A ruína causada pelo terramoto de
1755 foi extensa, tendo causado sérios danos na abóbada da capela-mor, abrindo
um longo período de contenda entre o pároco e os fregueses, de que dá conta o
registo da visitação realizada no ano seguinte. A reconstrução do templo ficou
adiada por vários anos, estando ainda por resolver em 1758. Em 1766, a torre da
igreja testemunha a aquisição de um novo sino, de bronze, enriquecido com
inscrição na zona superior: S DOMIN GOS 1.766. O sino encontra-se hoje desactivado
e deslocado para o interior do templo.
No final do século XVIII, a
igreja deverá ter recebido uma nova campanha de melhoramentos, sobretudo no
exterior, com a construção do novo janelão do coro e do nicho com a imagem
pétrea. A leitura da pedra fundacional do Convento de Santa Maria de Jesus de
Vale de Figueira, da Província da Arrábida, extinto em 1834, que se encontra
hoje no anexo da igreja, relatando a trasladação da mesma para o adro deste
templo em 30 de Dezembro de 1861, permite-nos supor ser esta a data em que
parte significativa dos bens artísticos e cultuais pertencentes ao convento
foram deslocadas para a igreja. Entre o património então transferido encontravam-se
os painéis de azulejo setecentistas, que revestem presentemente a nave da
igreja, os retábulos colaterais, diversas esculturas, pinturas, e alfaias litúrgicas,
que os inventários remanescentes permitem aferir. Naquele mesmo ano, também a
torre sineira será enriquecida com o mostrador do relógio, em pedra, com data
gravada.
Pelo
jornal O Século, de 10
de Agosto de 1928, sabemos que naquele ano se havia começado a preparar o
terreno para a construção do muro em alvenaria que delimita o adro da igreja,
contudo as obras só muito lentamente avançaram, com prejuízo para quem passava.
Em 1982-1983, sendo pároco o pe. Diamantino Henriques Marques, foi
integralmente substituída a cobertura de madeira do tecto da nave, perdendo-se
a anterior, pintada, da qual subsiste o painel central, com heráldica do orago.
Do mesmo modo, foram rebocadas e pintadas as paredes da igreja, que eram então
revestidas de estuque pintado em fingidos de mármore, num jogo de cores rosa e
branco, com molduras azuis». In Tiago Moita, A Igreja de São Domingos de
Vale de Figueira, Santarém, 2019, Design Gráfico e Paginação, David Matos
Branco, Depósito Legal 453685/19.
Cortesia de DGePaginação/DavidMBranco/JDACT