terça-feira, 8 de junho de 2010

Isabel de Castro: Uma actriz que tinha a capacidade natural de expôr os enigmas das suas personagens

(1931-2005)
Lisboa
Cortesia de assumidamente
Isabel Maria Bastos Osório de Castro e Oliveira, conhecida Isabel de Castro foi uma actriz portuguesa. A sua estreia ocorreu no cinema com 14 anos, no filme Ladrão, Precisa-se! em 1946, de Jorge Brum de Canto. No início da sua carreira participou em vários filmes espanhóis. Participou em cerca de 50 filmes, tendo a sua carreira evoluído também no teatro e na televisão. Estas participações renderam-lhe vários prémios e galardões.
Depois de participar em «Barrio» (1947), um filme de Ladislao Vajda, conhecido no nosso país principalmente por «Marcelino Pão e Vinho» que teve duas versões, uma com actores portugueses e outra com espanhóis, encontrou abundante trabalho em Espanha nos anos 50. Contracenou com alguns dos maiores nomes do seu cinema, como Tony Leblanc, José Suárez e Francisco Rabal em vários filmes de sucesso, mas também com o português Virgílio Teixeira em «La Hija del Mar» (1953).
Cortesia de Paulo Borges
Isabel de Castro regressa a Portugal e faz «O Dinheiro dos Pobres» (1956), de Artur Semedo. Em simultâneo trabalha em peças de teatro, integrada em companhias como as do Teatro da Trindade, Teatro Experimental do Porto, Teatro Experimental de Cascais e Teatro da Cornucópia.
Para lá das inúmeras curtas-metragens experimentais, entre os cerca de 50 títulos em que participou em Portugal, para cineastas consagrados ou então a iniciar o seu percurso artístico, contam-se:
  •  «As Pupilas do Senhor Reitor» (1961, Perdigão Queiroga);
  •  «Fado Corrido» (1964, Jorge Brum do Canto);
  •  «Domingo à Tarde» (1965, António de Macedo, Prémio Plateia 1966 para Melhor Actriz);
  •  «O Destino Marca a Hora» (1970, Henrique Campos);
  •  «Brandos Costumes» (1975, Alberto Seixas Santos);
  •  «O Rei das Berlengas» (1978, Artur Semedo);
  •  «Francisca», Vale Abraão», «Viagem ao Princípio do Mundo» (1981, 1993, 1997, Manoel de Oliveira);
  •  «Sem Sombra de Pecado» (1983, José Fonseca e Costa);
  •  «O Desejado ou As Montanhas da Lua» (1987, Paulo Rocha);
  •  «Três Menos Eu» (1988, Fernando Vendrell, João Canijo);
  •  «Uma Pedra no Bolso» (1988, Joaquim Pinto);
  •  «O Sangue», «Casa de Lava» (1991, 1995, Pedro Costa);
  •  «Glória» (1999, Manuela Viegas);
  •  «O Fato Completo, ou à Procura de Alberto» (2001, Inês de Medeiros);
  •  «Quando Troveja», «Xavier» (1998, 1992, estreado em 2003, Manuel Mozos); 
  • «Conversa Acabada» (1982), «Um Adeus Português» (1985), «Tempos Difíceis» (1988), «Aqui na Terra» (1993), «Três Palmeiras» (1994) e «Tráfico» (1998), de João Botelho.
«Lembro-me do plano de Isabel de Castro, em «Brandos Costumes» (1975), de Alberto Seixas Santos, com um toalha branca na mão, falando para a câmara: a sua personagem disserta sobre a sua tentativa de suicídio e, de repente, a carga de naturalismo envolve-se com algo de sobrenatural, como se face à memória próxima da morte o ser se abrisse na harmonia reencontrada de todas as suas contradições — é um grande momento de uma actriz que tinha a capacidade simples, mas radical, de se expor, expondo os enigmas das suas personagens. A sua carreira, entre palco e filmes, e também televisão, possui as marcas inevitáveis de um contexto português em que quase ninguém que represente tem condições para, de facto, progredir num sentido de crescente exigência e depuração. Mas não cultivemos a utopia fácil: também neste caso, as caminhadas fazem-se, não apenas contra, mas também através dos sobressaltos que a profissão impõe. E Isabel de Castro deixou a marca de alguém que, mesmo no interior de uma ficção convencional, era capaz de gerar um súbito momento de vida, uma luz mais forte do que tudo aquilo que a circundava. E sempre com a humildade grave de uma grande senhora. Lembro-me também da sua imagem, misto de desamparo e força, contracenando com Ruy de Carvalho, na adaptação do romance de Fernando Namora, «Domingo à Tarde» (1965), dirigida por António de Macedo. São memórias que não vale a pena cultivar de forma meramente nostálgica. São, sobretudo, memórias que vão sendo aniquiladas pelo ensino que (não) temos e as televisões que vamos tendo. Na prática, chegámos ao ponto em que parece só ser possível celebrar o cinema português como «intocável» ou destruí-lo como «impróprio para consumo» — na prática, uma coisa ou outra jogam contra o trabalho de profissionais como Isabel de Castro». In Cinema 2000, João Lopes 
Cortesia de Cinema 2000/JDACT