jdact
Maurício de Braga e Diego de Compostela
«Quando Gelásio II excomungou e depôs Maurício, convidando
a, sé de Braga a proceder a nova eleição, conformaram-se com este pedido. O
novo bispo Pelágio recebeu no Verão de 1118 a sagração das mãos de Bernardo de
Toledo, segundo as ordens de Gelásio II. Pelágio não parece ter ido a Roma.
Naturalmente, não se entendeu com Diego de Compostela e o seu protegido Hugo do
Porto, mas não tinha meios de proceder contra eles.
Só uma vez conseguiu alguma coisa contra Diego, com uma deputação
que mandou no Verão de 1121 a Calisto II, e que se encontrou com outra de
Santiago. Os enviados de Pelágio convenceram o papa de que Diego ainda não
tinha posto de parte a ideia de se apoderar da dignidade metropolitana de Braga
e conseguiram que Braga fosse libertada da obediência que devia a Diego na sua
qualidade de legado papal. Trouxeram também um privilégio do grande alcance, em
que Calisto II confirmava à metrópole de Braga todas as antigas sufragâneas,
inclusive o Porto que havia sido eximido, e Coimbra, que tinha passado para Santiago.
Conhecemos vários destes casos em que o papa confirma o mesmo objecto a dois
concorrentes, o que não significa senão que a cúria se reservava a decisão
definitiva. No privilégio de Braga Calixto juntou também, expressamente, depois
da enumeração das sufragâneas, a cláusula seguinte:
- salvis tamen in ommibus Romane auctoritatis privlegiis.
Isso referia-se claramente aos privilégios de Santiago e Porto,
e podia ser interpretado em desfavor de Braga nas futuras discussões jurídicas.
Em todo o caso, era expresso neste privilégio que as decisões anteriores a
respeito de Coimbra e Porto não podiam ser consideradas definitivas e que Braga
podia pensar em reencorporar na sua província estas duas importantes dioceses.
Em compensação, o papa apenas exigia de Braga, provisoriamente, que Pelágio
reconhecesse as possessões compostelanas na diocese de Braga, desejo a que ele correspondeu.
Assim se fez paz provisória entre Braga e Santiago.
Na Primavera do mesmo ano, Calisto II apoderara-se de Maurício
Burdino. Tinham deixado de existir todos os motivos que podiam ter levado o
papa a infligir a Braga semelhante tratamento. Chegara para Portugal até certo
ponto, o fim do período da desfortuna eclesiástica. Havendo esperança de uma
futura reconstrução, estava de momento destruída a obra do conde Henrique e de
Geraldo. Grande parte da culpa caía sobre Maurício, mas não lhe cabia
exclusivamente. Faltou-lhe com certeza o auxílio do poder temporal, da infanta
D. Teresa. Parece que aconteceu o mesmo ao seu sucessor Pelágio. Num breve de Calisto
II, de Setembro de 1122, o papa ordena à infanta que solte da prisão o
arcebispo do Braga. Não sabemos absolutamente nada a respeito das razões desta
prisão, mas ela é uma prova de que as relações entre o arcebispo e a infanta,
isto é, entre os supremos representantes da Igreja e do Estado, não eram das
melhores». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História
Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de
Coimbra, Coimbra Editora, 1935.
Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT