segunda-feira, 2 de março de 2015

Os Museus e o Património Cultural Imaterial. Ana Carvalho. « Poderão os museus contribuir para a salvaguarda do PCI? Quais os problemas que os museus enfrentam para realizar esta demanda? Estarão todos os museus capacitados para responder a este desafio?»

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Estratégias para o desenvolvimento de boas práticas
«(…) De uma forma geral, pode dizer-se que a museologia tem centrado as suas funções (sejam elas a recolha, preservação, investigação, educação e exposição) nos objectos, omitindo em muitos dos casos as práticas que lhes estão associadas. No entanto, parece agora claro que os objectos por si só não traduzem todo o seu significado sem os contextos, as interpretações e as memórias a que estão ligados. Esta não é uma questão nova. Recorde-se aqui as experiências e contributos de George Rivière neste sentido. Todavia, nos últimos anos assistimos a uma revalorização do tema, já que muitas vezes as práticas não confirmam esta teoria. Assim, estamos hoje mais conscientes de que uma abordagem integrada que inclua tanto o património material como o imaterial nas colecções dos museus (ou fora dele) é um aspecto central na sua gestão. Reconhecido um campo de actuação aos museus cada vez mais alargado, nomeadamente responsabilidades no domínio do imaterial, importa reflectir sobre como lidar com um património que é por natureza complexo e cuja aproximação aporta diversos problemas. Poderão os museus contribuir para a salvaguarda do PCI? Quais os problemas que os museus enfrentam para realizar esta demanda? Estarão todos os museus capacitados para responder a este desafio? Finalmente, e partindo da premissa de que alguns museus poderão reunir condições para desenvolver trabalho nesta área, importa reflectir sobre possíveis estratégias que permitam dar visibilidade ao PCI através das diversas funções do museu. Em 2008, o Estado português ratificou a Convenção de 2003, comprometendo-se a reposicionar as políticas culturais do país em prol de uma maior atenção ao PCI. Neste sentido, e em estreita articulação como o direito internacional foi desenvolvida legislação específica para aprofundar aspectos que se prendem com a salvaguarda do PCI no território português, designadamente o Decreto-Lei n.º 139/2009 e respectivo desenvolvimento através da Portaria n.º 196/2010. E, por sua vez, assegurar a concretização de uma das condições impostas pela Convenção de 2003: a realização de um ou mais inventários no território nacional. Ainda que seja prematura uma avaliação das políticas, nomeadamente a implementação de um sistema de inventário que ainda não se encontra consolidado, reconhece-se as dificuldades de abordagem deste tema. Por um lado, a implementação de políticas culturais que favoreçam práticas de preservação integradas do património tal como sublinha também a Convenção Quadro do Conselho da Europa para o Património Cultural, conhecida pela Convenção de Faro (2005) e que a Assembleia da República aprovou a 18 de Julho de 2008. Este documento estabelece o compromisso de criar políticas culturais menos sectoriais do ponto de vista do património, isto é a promoção de uma visão mais transversal da cultura, onde o lugar e importância das pessoas é central, bem como o papel da diversidade cultural. Outra dificuldade é assegurar o trabalho colaborativo com as comunidades nas políticas desenvolvidas, seja através dos inventários, seja através de outros projectos. Não obstante, acrescem as restrições orçamentais que limitam, em grande medida, as expectativas e desafios de uma política cultural que inclua a salvaguarda dos patrimónios (material e imaterial) de uma forma sustentável». In Ana Carvalho, Os Museus e o Património Cultural Imaterial, Estratégias para o desenvolvimento de boas práticas, Edições Colibri, CIDEHUS, Universidade de Évora, 2011, ISBN 978-9879-689-169-5.

Cortesia de EColibri/JDACT