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de wikipedia e jdact
«(…)
A saudação, tão próxima do seu ouvido, arrancou-o da inspecção da sala.
Grayson, conde de Hawkeswell, estava ao seu lado, radiante, com um copo de
vinho quente quase vazio. Um sorriso deliciado iluminava o rosto de olhos azuis
e a cabeleira preta de corte exímio. A uns oito quilômetros de distância fui
atingido por um pé d’água, explicou Sebastian. Hawkeswell era um velho amigo,
um grande companheiro dos dias de farra. Normalmente Sebastian ficaria
encantado por poder contar com a sua companhia para passar uma noite que
prometia ser miserável. Mas o motivo que o levara lá tornava inconveniente o
seu encontro com Hawkeswell. Está a caminho de Londres ou de regresso? Estou de
regresso. Fui me encontrar com um agente imobiliário em Brighton esta manhã. Colocou
a propriedade à venda, então? Não tenho escolha. Sebastian manifestou o seu
pesar. As finanças de Hawkeswell iam mal desde que herdara o título, e já se
desfizera da maior parte das propriedades de alienação consentida. A tentativa
de rectificar o problema através do casamento correra lamentavelmente mal, pois
a noiva rica desaparecera no dia do casamento. Hawkeswell examinou-o. Sem
bagagem? Espero que não a tenha deixado no cavalo. Se tiver alguma coisa de
valor, amanhã de manhã já não estará lá. Sebastian reagiu com uma gargalhada
moderada e desprendida. Não tinha bagagem porque planejava voltar a cavalo
naquela mesma noite, apesar do mau tempo e da escuridão. Você tem um quarto lá
em cima? A bagagem está lá? Pedi que me arranjassem um, mas o estalajadeiro já
os tinha alugado todos, diz ele. Nem sequer o título me serviu de alguma coisa.
Mas se tiveres quarto podemos fumar e beber lá e escapar a este fedor.
Não
tenho quarto nenhum, lamento. As sobrancelhas de Hawkeswell se arquearam sobre
os olhos astutos. Não está aqui exactamente para se abrigar, não é? Nem está a
caminho de Brighton, aposto. Está aqui para se encontrar com uma mulher. Não,
não fale nada. Eu compreendo a necessidade desses esquemas elaborados nestes
dias. Você agora é quase um marquês, certo? Não pode ficar levantando saias
quando e sempre que quiser. Colocou o dedo sobre os lábios, zombando da
necessidade de discrição. Era uma explicação tão boa como qualquer outra, por
isso Sebastian não a contestou. Sempre receptivo e atento, terminou de inspeccionar
a profusão de rostos. Não havia nenhum que se destacasse como possível Dominó. Aparentemente,
Hawkeswell ficaria com ele a noite toda. Sentindo necessidade de se livrar
dele, Sebastian decidiu utilizar a teoria do próprio para conseguir. Com sua
licença, por favor. Preciso falar com o estalajadeiro sobre a pessoa com quem
vim me encontrar. Conseguiu libertar-se. Encontrou o estalajadeiro, que servia
cerveja a um sujeito de chapéu marrom enterrado na cabeça. – Chegou alguém aqui
perguntando por Mr. Kelmsley ou falando o nome dele? O estalajadeiro olhou para
ele e depois concentrou-se em receber o dinheiro do freguês. Em cima, ao fundo,
última porta. O hóspede que procura está lá, não me pergunte por quê.
Sebastian
dirigiu-se para as escadas. Tomara que Hawkeswell estivesse certo. Aguardar que
o tempo melhorasse deitado numa cama de penas, seco e confortável, com o calor
de um corpo feminino nos braços, seria uma recompensa agradável pela viagem
miserável até aquele lugar e àquela que o esperava no fim da missão. Em vez
disso, estava preso ao dever e à obrigação, e a uma longa conversa com alguém
que era conhecido como Dominó. Audrianna se encolhia debaixo do xaile, nas
sombras. O fogo débil não conseguia anular o frio húmido do quarto. Aquela não
era, no entanto, a única razão pela qual tremia. A vigília enfraquecia a
determinação que ganhara ao ler novamente o anúncio. Começara a ver seu plano
por uma perspectiva diferente, a da vida que tivera até aqueles últimos sete
meses. Desse ponto de vista, o seu comportamento daquele dia era completamente
louco e de uma imprudência sem justificativa. Certamente, teriam sido as
palavras da mãe. O pai teria concordado. Roger também teria ficado chocado se
soubesse. As jovens de respeito não pegavam carruagens públicas sozinhas para
se dirigirem a estalagens vulgares e ficarem à espera de desconhecidos em
quartos escuros. A expedição começava a parecer um sonho bizarro. Obrigou-se a
se acalmar e exigiu que a sua mente recuperasse alguma determinação. Estava ali
porque mais ninguém estaria. O mundo havia enterrado o bom nome do pai
juntamente com o seu corpo. A sua morte fora prova suficiente de que era
culpado das acusações que se levantaram. Todos presumiram que tinha sido o
remorso, e não uma melancolia profunda, que o tinha levado a se matar. A
família inteira ainda estava marcada pela vergonha. A mãe chorava a perda dos
amigos sem deixar de defender a sua memória com valentia. Até o tio Rupert
deixara de escrever quando o escândalo se espalhara, na tentativa de se livrar
de máculas por associação. E Roger, bem, o seu amor eterno também não bastou
para vencer o escândalo». In Madeline Hunter, Deslumbrante, Edições
ASA, 2013, ISBN 978-989-232-372-5.
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