A repercussão internacional do problema português
«(…) Tanto a Inglaterra como a França não podiam ficar indiferentes
perante os preparativos de conquista evidenciado pela Espanha. Desejavam
auxiliar os Portugueses, mas o sou auxíiio tinha de ser discreto, para não desafiar
as iras de um senhor tão poderoso como Filipe II; e, para se tornar eficaz,
preciso era que também a nação lusitana se tornasse apta a recebê-lo e a usá-lo.
Por isso, dona Isabel Tudor respondeu aos governadores, em 4 de Abril, manifestando
o seu sincero desejo de ajudar Portugal a manter a sua independência, mas recomendando
que seria conveniente que eles se esforçassem por reconciliar os Portugueses,
pois, unidos, com mais facilidade repeliriam a agressão estrangeira. Na verdade, comenta Queiroz Veloso; se
não fosse a corrupção, habilmente, espalhada, em longos meses, pelos agentes espanhóis;
se os cinco governadores tivessem a isenção, o patriotismo, a energia, que as
suas altas funções de guardas da independência nacional imperiosarnente lhes
impunham; se o duque de Bragança e o Prior do Crato se unissem, em vez de se
hostilizarem em mesquinhas rivalidades: Portugal resistiria, pois as forças de
Filipe II eram mais aparentes que reais, e a nossa união teria animado o
auxílio dos soberanos estrangeiros, que viam com apreensões, o engrandecimento do
rei católico. Por seu lado, dona Catarina, duquesa de Bragança, muito
rnais enérgica do que o jarrão do seu
marido, não permanecera inactiva e solicitara o apoio da Inglaterra e da França
para a sua causa. Através dos factos, colhe-se a impressão de que ela, se não
fosse a inoperância balofa do duque e
as antipatias gerais que este provocava, ter-se-ia sentado no trono e conciliaria
os Portugueses em sua volta para lho defenderem, mas em história os factos
são os factos e as hipóteses dos historiadores, embora possam constituir salutar
lição, não passam de hipóteses. Vimo-la chegar a Almeirim, sem régia
autorização, onde foi encontrar o monarca seu tio já moribundo. Logo após a morte
do cardeal, mandou dizer aos governadores que estava pronta a obedecer-lhes,
aguardando a sentença dos juízes nomeados para apreciar a causa da sucessão. Já
vimo como o rnarido deu este recado, ajuntando-lhe umas vagas ameaças,
certamente da sua lavra, que intimidavam ninguém. Nessa mesma ocasião escreveu
ela a Filipe II, a pedir-lhe que se submetesse, como ela própria, à decisão dos
julgadores. Confiante em que lhe assistiam mais direitos do que a qualquer
outro pretensor, convinha-lhe que todos os outros se sujeitassem à decisão jurídica,
que forçosamente teria de ser-lhe favorável». In Mário Domingues, O Prior do
Crato Contra Filipe II, Evocação Histórica, edição da L. Romano Torres, Lisboa,
1965.
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