«(…) Um pedido estranho, pensou Trish, mas com certeza factível. Dez anos antes, a tarefa teria sido impossível. Actualmente, porém, com a internet, a rede mundial de computadores e a crescente digitalização de grandes bibliotecas e museus do mundo, o objectivo de Katherine podia ser alcançado usando uma ferramenta de busca relativamente simples equipada com um exército de módulos de tradução e algumas palavras-chave bem escolhidas. Sem problemas, disse Trish. Muitos dos livros de referência da biblioteca do laboratório continham trechos em línguas antigas, de modo que ela várias vezes precisava elaborar módulos de tradução específicos com base em Reconhecimento Óptico de Caracteres, ou OCR, para gerar textos em inglês a partir de línguas obscuras. Ela devia ser a única especialista em metas-sistemas do mundo a ter elaborado módulos desse tipo em frísio antigo, maek e acádio. Os módulos iriam ajudar, mas o segredo para construir um agente de busca, ou web spider, eficaz era escolher as palavras-chave certas. Específicas, mas não excessivamente restritivas.
Katherine parecia estar um passo
à frente de Trish, pois já estava anotando algumas palavras num pedaço de
papel. Depois de anotar várias, parou, pensou alguns instantes e incluiu
outras. Pronto, disse por fim, entregando o papel a Trish. Trish percorreu
rapidamente a lista de strings
a
serem buscados, e seus olhos se arregalaram ao ver as sequências de caracteres.
Que
tipo de lenda maluca Katherine está investigando? Você quer procurar todas essas expressões-chave? Uma
das palavras Trish nem reconheceu. Meu
Deus, que língua é essa? Acha que vamos encontrar tudo isso num
lugar só? Ipsis litteris? Eu
gostaria de tentar. Trish teria dito impossível,
mas aquela palavra era proibida ali dentro. Katherine considerava esse tipo de
mentalidade perigosa numa disciplina que muitas vezes transformava falsos
pressupostos em verdades confirmadas. Trish Dunne duvidava seriamente que aquela
busca fosse entrar nessa categoria.
Quanto
tempo até termos os resultados?, perguntou Katherine. Alguns minutos para
programar o spider e
disparar a pesquisa. Depois disso, talvez uns 15 para ele concluir a busca. Rápido
assim? Katherine parecia animada. Trish aquiesceu. As ferramentas de busca
convencionais muitas vezes levavam um dia inteiro para se arrastarem por todo o
universo on-line, encontrar novos documentos, digerir seu conteúdo e incluí-los
na base de dados da pesquisa. Mas Trish não iria programar algo simples assim. Vou
escrever um programa chamado delegador,
explicou Trish. Não é lá muito católico, mas é rápido. Essencialmente, é um
software que coloca as ferramentas de busca de outras pessoas para fazer o
nosso trabalho. A maioria das bases de dados tem uma função de busca
embutida... bibliotecas, museus, universidades, governos. Então eu vou
programar um spider que
encontra as ferramentas de busca deles,
insere as palavras-chave que você me deu e pede que eles façam a pesquisa.
Assim, nós aproveitamos a capacidade de milhares de ferramentas e fazemos com
que elas trabalhem simultaneamente. Katherine parecia impressionada. Processamento
paralelo.
Uma espécie de metassistema.
Eu
chamo você se encontrar alguma coisa. Obrigada, Trish. Katherine afagou-lhe as
costas e se encaminhou para a porta. Vou estar na biblioteca. Trish começou a
escrever o programa. Codificar um spider
de busca era uma tarefa menor, bem abaixo de seu nível de
competência, mas ela não ligava para isso. Faria qualquer coisa por Katherine
Solomon. Às vezes, Trish ainda não conseguia acreditar na sorte que a
levara até ali.
Você foi mais longe do que
imaginava, garota.
Pouco mais de um ano antes, Trish
havia deixado seu emprego como analista de metas-sistemas numa das grandes
empresas impessoais da indústria de alta tecnologia. Nas horas vagas,
trabalhava como programadora freelance e criou um blog sobre a indústria, Futuras
Aplicações em Análise Computacional de Metas-sistemas, embora tivesse dúvidas
de que alguém o lesse. Então, certa noite, seu telefone tocou. Trish Dunne?,
indagou uma voz educada de mulher. Sim, sou eu. Quem está falando? Meu nome é
Katherine Solomon. Trish quase desmaiou ali mesmo. Katherine Solomon?
Eu acabei de ler o seu livro, Ciência Noética: Portal
Moderno para o Conhecimento Antigo. Até escrevi sobre ele no meu blog! É,
eu sei, devolveu a mulher em tom cortês. É por isso que eu estou ligando. É claro que é por isso, percebeu
Trish, sentindo-se uma boba. Mesmo os cientistas mais brilhantes pesquisam o próprio
nome no Google. Achei
seu blog intrigante, disse-lhe Katherine. Eu não sabia que os modelos de metas-sistemas
tinham avançado tanto. Pode crer que sim, conseguiu responder Trish, fascinada
por estar falando com Katherine. Os modelos de dados são uma tecnologia em
franca expansão que pode ser aplicada a diversas áreas». In
Dan
Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,