O Mistério. Rennes-le-Chateau e Berenger Saunière
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Uma parte dessa inexplicada riqueza foi empregada em excelentes obras públicas,
a construção de uma rodovia moderna até a cidade, por exemplo, e a introdução
de facilidades para água corrente.
Outras despesas foram mais
quixotescas. Uma torre foi levantada, a Torre Magdala, com vista para a
montanha. Uma opulenta casa de campo foi construída, chamada Villa Bethania,
que Saunière pessoalmente nunca ocupou. E a igreja não só foi decorada de novo,
como o foi de um modo muito bizarro. No pórtico, acima da entrada, a seguinte
inscrição foi gravada:
TERRIBILlS EST LOCUS ISTE. (Este
local é terrível). No interior, logo na entrada, foi erigida uma estátua
horrenda, uma representação do demónio Asmodeus, detentor de segredos, guardião
de tesouros escondidos e, segundo antiga lenda judaica, construtor do Templo de
Salomão. Nas paredes da igreja, placas ostensivamente pintadas representavam as
estações da Via Sacra.
Cada uma delas era caracterizada
por alguma estranha inconsistência, algum detalhe inexplicável, algum desvio,
flagrante ou subtil, da narrativa oficial das Escrituras. Na estação VIII, por
exemplo, havia uma criança envolta numa capa escocesa. Na estação XIV, que
retrata o corpo de Jesus sendo levado à tumba, aparecia um fundo de céu nocturno,
escuro, dominado por uma lua cheia. Como se Saunière estivesse tentando dizer algo.
Mas o quê? Que o enterro de Jesus ocorreu após o início da noite, várias
horas depois do que diz a Bíblia? Ou que o corpo estaria sendo levado para fora
da tumba e não para dentro dela?
Enquanto realizava esses adornos
curiosos, Saunière continuou a gastar de maneira extravagante, coleccionando
porcelana rara, tecidos preciosos e mármores antigos, criando um jardim e um
zoológico e reunindo uma biblioteca magnífica. Pouco antes de sua morte ele
estava, supostamente, planeando a construção de uma torre como a de BabeI, forrada
de livros, de onde pretendia pregar.
Seus paroquianos tampouco foram
negligenciados. Saunière lhes presenteava com banquetes sumptuosos e outras
generosidades, mantendo assim o estilo de vida de um potentado. No seu remoto e
ao mesmo tempo próximo e inacessível ninho de águia, recebia inúmeros hóspedes
ilustres. Um deles, é claro, era Emma Calvé.
Outro era o ministro da Cultura
do governo francês. Talvez o mais augusto visitante do desconhecido padre
provinciano tenha sido o arquiduque Johann Von Habsburgo, um primo de Franz
Josef, imperador da Áustria. Extratos bancários revelaram depois que Saunière e
o arquiduque haviam aberto contas no mesmo dia, e que este último havia transferido
para a conta do primeiro uma soma substancial.
As autoridades eclesiásticas
fizeram, no início, olhos de mercador sobre o assunto. Contudo, quando o
superior de Saunière morreu, em Carcassonne, o novo bispo tentou chamar o padre
à ordem. Saunière respondeu com uma desobediência inesperada e insolente.
Recusou-se a explicar sua riqueza e a aceitar a transferência que o bispo
ordenava. Na falta de uma acusação mais substancial, o bispo acusou-o de vender
missas ilicitamente, e um tribunal local o suspendeu. Saunière apelou para o Vaticano,
que o exonerou e depois o reinvestiu». In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry
Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015,
ISBN 978-852-090-474-9.
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