quinta-feira, 3 de março de 2011

Eduardo Prado Coelho: «Se eu tivesse uma ilha, os meus amigos chegavam em barcaças, cantavam baladas de marinheiros, bebiam cidra, deitavam-se com a boca salgada, faziam amor e adormeciam. Na falta de uma ilha, um livro»

Cortesia de asa

Com a devida vénia a Eduardo Prado Coelho e a Edições Asa, ISBN 9724140040.

Os Órfãos dos Cafés
«Tal como Borges escreveu um dia, eu poderia de igual modo dizer:
  • «Nasci noutra cidade que também se chamava Lisboa».
Borges diz que recorda o que viu e também o que os pais lhe contaram. Mas ele sabe que as nossas verdadeiras cidades são sempre as cidades da nossa infância. Por isso acrescenta:

Sei que os únicos paraísos não proibidos ao homem são os paraísos perdidos.
Alguém, quase idêntico a mim, alguém que não terá lido esta página 
Lamentará as torres de cimento e o podado obelisco.
A cidade de hoje será a infância de amanhã.

Por tudo isto gosto imenso dos livros de Marina Tavares Dias. Com uma obstinação exemplar, ela tem vindo a reerguer a «Lisboa Desaparecida», isto é, a Lisboa da minha infância e sobretudo a Lisboa dos meus tempos de estudante, mas também a Lisboa dos meus pais e dos meus avós (com o tempo tudo se mistura, e regressamos todos à mesma pátria intemporal, à Lisboa fora do tempo, onde brincámos e aprendemos a amar). Associando a isto duas outras obsessões, mas a verdade é que as duas coisas não estão separadas:
  • Sá-Carneiro e Pessoa, ligados aos cafés que eles frequentaram e aos lugares onde passearam e escreveram.
Num desses livros envolvidos numa aura de bruma, Marina Tavares Dias restitui-nos agora «Os Cafés de Lisboa» (Quimera). Noutro dia Jorge Listopad escrevia que à saída do Teatro São João do Porto me tinha visto, no último café iluminado na noite da cidade, a escrever certamente a crónica para o dia seguinte. Não era por acaso. As crónicas escrevo-as sempre em computador. O resto (que se poderia dizer «o essencial», mas talvez isto nem sempre bata certo), escrevo-o à mão, em cadernos verdes ou azuis, nos cafés ensonados e friorentos que ainda existem pelo mundo fora.

Cortesia de bibliotecasdefamalicao
A verdade é que adoro cafés. E que tive em cafés alguns dos mais belos momentos de leitura, encontro, discussão, contemplação, escrita, estudo, violência de olhares, ternura das mãos, de que me posso lembrar. Nesses cafés que a Marina recorda no seu livro:
  • o Monte Carlo,
  • o Monumental,
  • a Brasileira,
  • o Palladium, ou, depois,
  • a Grã-Fina,
  • o Nova-Iorque,
  • o Vává.
E entre os motivos que tenho para gostar do Porto estão os cafés que ainda lá existem: cafés rodeados de noite e fumo, com velhos de unhas negras, prostitutas tristes, e adolescentes sufocando a tristeza num bolo de arroz e num leite quente». In Eduardo Prado Coelho, Crónicas no Fio do Horizonte, Edições Asa, 2004.
 
Cortesia de comunidade
«Se eu tivesse uma ilha, os meus amigos chegavam em barcaças, cantavam baladas de marinheiros, bebiam cidra, deitavam-se com a boca salgada, faziam amor e adormeciam. Na falta de uma ilha, um livro».
 
http://www.google.pt/url?sa=t&source=web&cd=14&ved=0CC8QFjADOAo&url=http%3A%2F%2Fwww.arara.fr%2FEduardoPradoCoelho.pdf&ei=--RvTd7zB8PMswbApbDuDg&usg=AFQjCNGe8EQ-iYztI4XB23zgwJwIj-iPKw&sig2=Z-OT36HMDTQD05F2yYhF9g
 



Cortesia de ASA/JDACT