«A descida ao Hades é a mesma a partir de todos os lugares». In Anaxágoras, filósofo grego, 500-428 a.C»
A Tumba
«(…) Eles cambalearam para dentro
do que parecia um depósito. Um aperto no interruptor acendeu uma lâmpada no tecto.
Pela aparência do lugar, Cotten concluiu que o aposento não vinha sendo usado
havia muito tempo, talvez décadas. No entanto, alguém cuidara de manter a
iluminação em perfeitas condições. Seria uma rota de fuga para uma ocasião como
aquela? Rápido, tranque a porta, apressou o presidente. Cotten avistou uma
grossa barra de metal. Ela a enfiou na posição certa para trancar a porta. E
agora?, quis saber do presidente. Ele gesticulou para outra porta na parede
oposta. Por ali. Cotten segurou a maçaneta e empurrou. Quando a porta recuou,
ela viu um corredor, dessa vez feito do que parecia ser mármore preto, piso, tecto,
paredes, tudo escuro e reluzente. A iluminação era indirecta, suave e moderna.
Quando ela fechou a porta atrás deles, ouviu batidas na porta da entrada do
túnel. Os rebeldes não conseguiam passar. Mas por quanto tempo?
Vamos! O presidente apontou para
os fundos de um saguão estreito. Alguns passos depois, eles entraram num
aposento espaçoso. Esse também era todo preto e com iluminação suave. As
paredes exibiam grandes desenhos de raios, e uma carpete vermelha e bem grossa
cobria o piso. No centro, situava-se um grande expositor embutido em vidro.
Menor no fundo e iluminado de cima, o expositor tinha paredes de vidro espessas
sustentadas por uma estrutura metálica. De maneira sombria, ele parecia
reluzir. Cotten levou apenas alguns segundos para perceber o que estava vendo. Um
sarcófago.
Ali diante dela, deitado em
repouso e protegido por trás do vidro, estava o corpo de um homem. O rosto
cerúleo, a cabeça descansando sobre uma almofada branca. Ele envergava um traje
preto, camisa branca de colarinho e gravata. A mão direita estava fechada. Esse
é...?, indagou Cotten. Sim, confirmou o presidente com um esforço desmedido.
Ele acenou para tomarem o caminho ao redor do expositor do caixão. No lado
oposto, um corredor largo dava numa entrada formal. Estamos presos aqui?, quis
saber ela. As portas foram projectadas para se abrir pelo lado de dentro em
caso de emergência. O presidente se curvou de encontro à parede e pressionou um
grande botão vermelho instalado ao lado das portas. Com uma rajada de ar e um
rangido, elas se abriram totalmente. De imediato, os alarmes e sirenes soaram
enquanto luzes vermelhas intermitentes acenderam-se no tecto.
Irrompendo precipitadamente no
frio da noite de Moscovo, Cotten observou uma cena surreal, um mar de veículos
militares e policiais correndo pela praça Vermelha. Eles seguiam na direcção da
entrada pela Torre do Salvador para o Kremlin, em resposta ao ataque rebelde,
mas atraídos pelas sirenes e luzes provenientes do mausoléu, muitos retardaram
a marcha e mudaram de direcção. Aqui!, bradou Cotten, acenando. Ajudem aqui! De
repente, o presidente pareceu aumentar de peso, as suas pernas se dobraram e
ele caiu. Cotten inclinou-se ao lado dele sobre as frias pedras arredondadas do
calçamento ao redor da tumba de Lenine». In Lynn Sholes e Joe Moore, O Projecto
Hades, 2007, Publicações Europa-América, 2008, ISBN 978-972-105-888-0.
Cortesia de EPEAmérica/JDACT
Lynn Sholes, Joe Moore, JDACT, Mistério, Conhecimento,