terça-feira, 4 de maio de 2010

Amadis de Gaula: Uma das obras mais marcantes da cultura medieval ibérica.

Cortesia de auladeliteraturaportuguesa
Amadis de Gaula é uma obra marcante do ciclo de novelas de cavalaria da Península Ibérica do século XVI. Apesar de se saber que a obra existe desde o século XIV, a versão definitiva mais antiga, actualmente conhecida, é a de Rodriguez de Montalvo, ou Garci-Rodriguez (também conhecido por Ordónez) de Montalvo, impressa em língua castelhana em 1508 e denominada Los quatro libros de Amadís de Gaula.
Tudo indica, contudo, que a versão original era portuguesa e muito anterior. O próprio Montalvo reconhece ter emendado os três primeiros livros e ser apenas autor do quarto. A versão original de Amadis de Gaula tem sido atribuída a vários autores portugueses.
  • A crónica de Gomes Eanes de Azurara, na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses (1454, 1. I, cap. G3), refere o nome de Vasco da Lobeira, tido por um dos autores da obra, juntamente com João de Lobeira.
  • Nos Poemas Lusitanos (1598), de António Ferreira, incluem-se dois sonetos alusivos ao episódio de Briolanja, personagem do Amadis (1. I, cap. 4U ), o qual, por sua vez, interessa pelas recusas de Amadis às solicitações da donzela, por fidelidade a Oriana, apesar da interferência de D. Afonso, irmão de D. Dinis, em favor da solicitante;
  • Lais dedicado a Leonoreta, inserto no Amadis, escrito em Português, teria sido composto por João de Lobeira, trovador do tempo de Afonso III e de D. Dinis;
  • Sendo assim, o trovador teria escrito também os dois livros iniciais da novela, a que mais tarde Vasco da Lobeira teria acrescentado o terceiro, o que explicaria ter-lhe Azurara mencionado o nome.
Seja como for, a única versão completa é a de Montalvo, que constituiu um enorme êxito em toda a Europa, sendo traduzida para as principais línguas da Europa ocidental, além dos originais castelhano e português.
Vários autores, de vários países, escreveram sequelas de Amadis, inclusive o próprio Montalvo, com o quinto livro do ciclo, Las sergas de Esplandián.
Em Portugal foram escritos vários romances do tipo de Amadis, sendo o mais famoso Palmeirim de Inglaterra de Francisco de Morais.

Cortesia de ilustremos (Marco Gotopo)
A obra Amadis de Gaula, através de uma introdução em que se afirma que foi encontrada num baú enterrado do «manuscrito encontrado», inicia-se com o relato dos amores furtivos entre o Rei D. Perion de Gaula (Gales) e a Infanta D. Elisena da Bretanha, que deram lugar a uma criança abandonada numa barca. A criança, Amadis, é criada pelo cavaleiro Gandales. Mais tarde Amadis vai em busca das suas verdadeiras origens, o que o leva a meter-se em fantásticas aventuras, sempre protegido pela feiticeira Urganda e perseguido pelo mago Arcalaus, o encantador.
Atravessa o arco encantado dos leais amadores no centro da Ilha Firme, luta contra o terrível monstro Endriago, mantando-o. Passa por todo o tipo de perigosas aventuras, pelo amor da sua amada Oriana, filha do Rei D. Lisuarte da Grã-Bretanha.

Cortesia de diputaciondevalladolid
Antes das modificações introduzidas por Montalvo, a obra acabava tragicamente, na sequência do que acontecia nas histórias do Ciclo Arturiano. Originalmente a história acabava com o Rei Lisuarte, mal aconselhado por conselheiros invejosos, a afastar Amadis do seu lado e a tentar casar Oriana com um inimigo do herói. Este, resgata Oriana e leva-a para a Ilha Firme.
D. Lisuarte declara guerra a Amadis, aliado a Galaor (também apaixonado por Oriana) e a Esplandian (que Lisuarte criou sem saber que era seu neto). Através de várias batalhas, Galaor enfrenta Amadis, que o mata. D. Lisuarte também é morto por Amadis em combate. Num terceiro combate o herói enfrenta Esplandian, sendo que desta vez é Amadis que é morto.
Oriana que, de uma janela, observa o combate, ao ver a morte de Amadis, atira-se dali para o solo e morre. A feiticeira Urganda aparece e revela a verdade sobre os seus pais a Esplandian.

Primera edicão. 1508. Cortesia da Universidad de Berkeley (California)
A versão de Montalvo, no entanto, modifica todo este final trágico. Nesta versão, D. Lisuarte e Amadis fazem as pazes, conhece-se a identidade de Esplandian de uma forma menos trágica e Galaor nem sequer aparece na batalha. Para encerrar a obra, usa-se um subterfúgio que a faz terminar bruscamente. D. Lisuarte é encantado e Amadis assume a regência.

Em meados do século XV, o castelhano Garcí Rodríguez de Montalvo, cavaleiro de Medina del Campo, decide elaborar uma refundição corrigida dos antigos originais que estavam corruptos e mal compostos em antigo estilo, por falta dos diferentes e maus escritores, como ele próprio afirma no final do seu Prólogo, versão a que acrescenta um novo livro, As Sergas de Esplandião (filho de Amadis). 
Amadis de Gaula é muitas vezes referenciado no clássico satírico Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, escrito no princípio do século XVII. A personagem D. Quixote idolatra Amadis e compara frequentemente as aventuras do herói com as suas. 

Com a devida vénia para Graça Videira Lopes, publico a sua tradução de Amadis de Gaula.
(Amadis de Gaula)
Wikipédia/JDACT

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