terça-feira, 18 de maio de 2010

Francisco Bugalho: O Pintor da Natureza. Poesia. Parte II

In Poesia
Francisco Bugalho, a quem José Régio chamou «pintor da Natureza», encontrou no quotidiano da vida, no observar o mundo vivo no seu caminhar, ora lento ora em movimento rápido, a sua verdadeira vocação para a poesia. A Natureza que está na raiz da sua inspiração resplandece na obra deste poeta. Em cada poema percebe-se um movimento circular em torno da realidade, seja uma trovoada, a rega, o comboio que passa, o pastor, os pombos, a debulha, a colheita. Sei lá! Tudo roda em torno de Francisco Bugalho com a Natureza ao meio-dia ou numa tarde quente. 
O poema Dois Meninos, com as pedrinhas, as formigas, os gatos, as aves e os galos, é mais do que uma simples paisagem.
Dois Meninos

Meu menino canta, canta
Uma canção que é ele só que entende
E que o faz sorrir.

Meu menino tem nos olhos os mistérios
Dum mundo que ele vê e que eu não vejo
Mas de que tenho saudades infinitas.

As cinco pedrinhas são mundos na mão.
Formigas que passam,
Se brinca no chão,
São seres irreais...

Meu menino d'olhos verdes como as águas
Não sabe falar,
Mas sabe fazer arabescos de sons
Que têm poesia.

Meu menino ama os cães,
Os gatos, as aves e os galos,
(São Francisco de Assis
Em menino pequeno)
E fica horas sem fim,
Enlevado, a olhá-los.

E ao vê-lo brincar, no chão sentadinho,
Eu tenho saudades, saudades, saudades
Dum outro menino...
Francisco Bugalho, in Poesia, «Canções de Entre Céu e Terra», pág 105
Depósito legal 130 803/98
ISBN 972-98065-0-0
In Poesia
LG/JDACT